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Netanyahu admite Estado palestino desmilitarizado
Premiê israelense aceitou pela primeira vez possibilidade da pátria palestina, mas desde que sem Exército e alianças com Irã e Hizbollah
GABRIEL TOUEG
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TEL AVIV
O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, aceitou ontem
pela primeira vez a criação de
um Estado palestino como parte do processo de paz no Oriente Médio, mas impôs uma lista
de precondições que foram rejeitadas pelos palestinos.
Em discurso de quase uma
hora na Universidade Bar Ilan,
perto de Tel Aviv, o primeiro-ministro disse que concorda
com um Estado palestino desde que ele seja desmilitarizado
e sem controle das fronteiras e
do espaço aéreo. Os palestinos,
na visão de Netanyahu, devem
reconhecer de forma inequívoca Israel como nação judaica e
não poderão formar acordos
militares com o Irã e o grupo
xiita libanês Hizbollah.
O discurso foi criticado por
grupos palestinos e por colonos
israelenses, mas recebeu elogios dos EUA, que vinham pressionando Netanyahu pela adoção da solução de dois Estados.
Ontem, o porta-voz da Casa
Branca, Robert Gibbs, disse que
o presidente Barack Obama
saúda o "importante passo"
presente no discurso de Netanyahu. "O presidente está comprometido com os dois Estados, o Estado judeu de Israel e o
independente palestino."
Segundo o comunicado de
Gibbs, Obama acredita que a
solução pode e deve assegurar a
segurança de Israel e atender as
legítimas aspirações palestinas
por um Estado viável.
No entanto, em encontro
com Netanyahu no final de
maio, Obama havia insistido na
importância de Israel congelar
seus assentamentos na Cisjordânia, sem exceção ao crescimento natural.
Essa possibilidade foi novamente rejeitada por Netanyahu
ontem: o premiê voltou a dizer
que os assentamentos judaicos
continuarão a crescer naturalmente.
"Não temos intenções de
construir novos assentamentos
ou de expropriar terras para
novas colônias. Mas há uma necessidade de permitir que os
assentados levem uma vida
normal", disse.
Netanyahu falou ainda de
dois pontos polêmicos: a partilha de Jerusalém e a questão
dos refugiados palestinos -da
guerra após a criação de Israel,
em 1948- e seus descendentes,
que reclamam por suas terras
originais.
Para o premiê, o problema
dos refugiados deve ser resolvido "fora das fronteiras israelenses", pela comunidade internacional. "Acho que com
boa vontade e investimento internacional esse problema humanitário pode ser resolvido."
"Nós mesmos resolvemos
um problema parecido", agregou. "O pequeno Estado de Israel recolheu centenas de milhares de refugiados judeus que
foram expulsos de suas casas
em países árabes."
Ao falar de Jerusalém, Netanyahu foi contundente: "A cidade vai seguir sendo a capital
indivisível do Estado judeu,
com liberdade religiosa para todas as crenças". O assunto é um
dos mais cruciais nas negociações com os palestinos, que reivindicam a parte oriental da cidade como a capital de um futuro Estado próprio.
Netanyahu também instou a
Autoridade Nacional Palestina
-que administra a Cisjordânia- a derrotar os militantes
do Hamas, que controlam Gaza
e que não são reconhecidos como interlocutores por Israel.
"[A ANP] terá de impor a lei em
Gaza e superar o Hamas. Israel
não vai sentar em uma mesa de
negociações com terroristas
que querem a sua destruição."
O Hamas não reconhece o
Estado de Israel e, em resposta
a foguetes lançados no sul do
país, foi alvo de ofensiva israelense em Gaza entre dezembro
e janeiro. O conflito matou
mais de 1.400 palestinos e 13 israelenses.
"Fazer a paz"
Logo na abertura do discurso, diante de um público que o
aplaudia rigorosamente a cada
frase de efeito, Netanyahu convocou os palestinos e os vizinhos árabes a se reunirem com
Israel para "fazer negociações
imediatamente", para "falar de
paz e fazer a paz". Ele disse ainda estar disposto a se reunir
com líderes árabes "em qualquer lugar, como Damasco,
Riad, Beirute e Jerusalém".
O líder do partido direitista
Likud fez ainda um pedido aos
países árabes para que cooperem com os palestinos e com
Israel no avanço do que chamou de "paz econômica". "Juntos, podemos superar a escassez da nossa região e criar laços
entre a Ásia, a África e a Europa", disse.
Resposta a Obama
Em diversas partes do discurso, Netanyahu fez alusões
ao pronunciamento de Barack
Obama ao mundo islâmico no
Cairo, no começo de junho. "O
direito judeu a um Estado na
Terra de Israel não tem origem
nas catástrofes sofridas por
nosso povo", disse.
A declaração parece ser resposta ao argumento de Obama
de que Israel surgiu das cinzas
do Holocausto. "Há quem diga
que, se o Holocausto não tivesse ocorrido, o Estado de Israel
nunca teria sido criado. Mas eu
afirmo que se o Estado de Israel
tivesse sido estabelecido mais
cedo, o Holocausto não teria
acontecido."
Colaborou JANAINA LAGE , de Nova York
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