São Paulo, segunda-feira, 15 de junho de 2009

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Netanyahu admite Estado palestino desmilitarizado

Premiê israelense aceitou pela primeira vez possibilidade da pátria palestina, mas desde que sem Exército e alianças com Irã e Hizbollah

GABRIEL TOUEG
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TEL AVIV

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, aceitou ontem pela primeira vez a criação de um Estado palestino como parte do processo de paz no Oriente Médio, mas impôs uma lista de precondições que foram rejeitadas pelos palestinos. Em discurso de quase uma hora na Universidade Bar Ilan, perto de Tel Aviv, o primeiro-ministro disse que concorda com um Estado palestino desde que ele seja desmilitarizado e sem controle das fronteiras e do espaço aéreo. Os palestinos, na visão de Netanyahu, devem reconhecer de forma inequívoca Israel como nação judaica e não poderão formar acordos militares com o Irã e o grupo xiita libanês Hizbollah. O discurso foi criticado por grupos palestinos e por colonos israelenses, mas recebeu elogios dos EUA, que vinham pressionando Netanyahu pela adoção da solução de dois Estados. Ontem, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que o presidente Barack Obama saúda o "importante passo" presente no discurso de Netanyahu. "O presidente está comprometido com os dois Estados, o Estado judeu de Israel e o independente palestino." Segundo o comunicado de Gibbs, Obama acredita que a solução pode e deve assegurar a segurança de Israel e atender as legítimas aspirações palestinas por um Estado viável. No entanto, em encontro com Netanyahu no final de maio, Obama havia insistido na importância de Israel congelar seus assentamentos na Cisjordânia, sem exceção ao crescimento natural. Essa possibilidade foi novamente rejeitada por Netanyahu ontem: o premiê voltou a dizer que os assentamentos judaicos continuarão a crescer naturalmente. "Não temos intenções de construir novos assentamentos ou de expropriar terras para novas colônias. Mas há uma necessidade de permitir que os assentados levem uma vida normal", disse. Netanyahu falou ainda de dois pontos polêmicos: a partilha de Jerusalém e a questão dos refugiados palestinos -da guerra após a criação de Israel, em 1948- e seus descendentes, que reclamam por suas terras originais. Para o premiê, o problema dos refugiados deve ser resolvido "fora das fronteiras israelenses", pela comunidade internacional. "Acho que com boa vontade e investimento internacional esse problema humanitário pode ser resolvido." "Nós mesmos resolvemos um problema parecido", agregou. "O pequeno Estado de Israel recolheu centenas de milhares de refugiados judeus que foram expulsos de suas casas em países árabes." Ao falar de Jerusalém, Netanyahu foi contundente: "A cidade vai seguir sendo a capital indivisível do Estado judeu, com liberdade religiosa para todas as crenças". O assunto é um dos mais cruciais nas negociações com os palestinos, que reivindicam a parte oriental da cidade como a capital de um futuro Estado próprio. Netanyahu também instou a Autoridade Nacional Palestina -que administra a Cisjordânia- a derrotar os militantes do Hamas, que controlam Gaza e que não são reconhecidos como interlocutores por Israel. "[A ANP] terá de impor a lei em Gaza e superar o Hamas. Israel não vai sentar em uma mesa de negociações com terroristas que querem a sua destruição." O Hamas não reconhece o Estado de Israel e, em resposta a foguetes lançados no sul do país, foi alvo de ofensiva israelense em Gaza entre dezembro e janeiro. O conflito matou mais de 1.400 palestinos e 13 israelenses.

"Fazer a paz"
Logo na abertura do discurso, diante de um público que o aplaudia rigorosamente a cada frase de efeito, Netanyahu convocou os palestinos e os vizinhos árabes a se reunirem com Israel para "fazer negociações imediatamente", para "falar de paz e fazer a paz". Ele disse ainda estar disposto a se reunir com líderes árabes "em qualquer lugar, como Damasco, Riad, Beirute e Jerusalém". O líder do partido direitista Likud fez ainda um pedido aos países árabes para que cooperem com os palestinos e com Israel no avanço do que chamou de "paz econômica". "Juntos, podemos superar a escassez da nossa região e criar laços entre a Ásia, a África e a Europa", disse.

Resposta a Obama
Em diversas partes do discurso, Netanyahu fez alusões ao pronunciamento de Barack Obama ao mundo islâmico no Cairo, no começo de junho. "O direito judeu a um Estado na Terra de Israel não tem origem nas catástrofes sofridas por nosso povo", disse. A declaração parece ser resposta ao argumento de Obama de que Israel surgiu das cinzas do Holocausto. "Há quem diga que, se o Holocausto não tivesse ocorrido, o Estado de Israel nunca teria sido criado. Mas eu afirmo que se o Estado de Israel tivesse sido estabelecido mais cedo, o Holocausto não teria acontecido."


Colaborou JANAINA LAGE , de Nova York


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