São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2010

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Chávez intervém em banco ligado a TV

Presidente de instituição diz que o governo venezuelano quer obrigar a opositora Globovisión a "ajoelhar-se'

Na sexta, Justiça havia decretado prisão de dono da emissora, que está foragido e afirma que não vai se entregar

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

O governo da Venezuela interveio ontem no Banco Federal, cujo presidente é acionista do canal Globovisión, crítico ferrenho de Hugo Chávez. A superintendência estatal de bancos alegou que a instituição tinha problemas de liquidez e que havia indícios de irregularidades.
A ação acontece apenas três dias depois de a Justiça determinar a prisão de Guillermo Zuloaga, presidente da Globovisión, e de seu filho. Não se sabe o paradeiro de ambos, acusados de "usura genérica" e de formação de quadrilha por suposta ocultação de 24 veículos.
Ontem, o presidente do Banco Federal, Nelson Mezerhane, afirmou em entrevista à Globovisión que as acusações de falta de liquidez do banco "são totalmente falsas" e acusou o governo de querer obrigar a TV a "ajoelhar-se". Disse ainda que funcionários de Chávez teriam tentado comprar a TV, a única de aberta oposição ao governo no ar no país.
Já Zuloaga falou pela primeira vez desde sexta-feira, quando foi decretada sua ordem de prisão. Afirmou que não se entregará à Justiça.
"Se me entregasse não faria nenhum favor nem a mim, nem ao país, nem à minha família", disse à Globovisión, alegando que apenas cederia a "chantagem" do governo que quer calar a TV e "distrair a população" dos problemas do país.
A ordem de detenção de Zuloaga foi condenada ontem pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ligada à OEA (Organização dos Estados Americanos). Já havia sido criticada na sexta pela Sociedade Interamericana de Imprensa.
O Departamento de Estado americano demonstrou "preocupação" e ligou a ação a outros supostos ataques do governo venezuelano à liberdade de expressão.
Em nota assinada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro e pela colombiana Catalina Botero, a CIDH criticou o "consenso" entre os Poderes na Venezuela e falta de independência do Judiciário.
A comissão também critica a condenação a três anos de prisão, também na sexta, de um jornalista da cidade de Valência, após ter escrito coluna sobre suposto ato de corrupção do prefeito chavista da cidade.
O texto enviado ao governo Chávez lembrou que a ação contra o presidente da Globovisión ocorreu poucos dias após o próprio presidente venezuelano queixar-se, em cadeia de rádio e TV, que o empresário seguisse livre após a acusação de usura.
Em março, Zuloaga foi detido por algumas horas e impedido de deixar o país, acusado de "vilipendiar" a figura do presidente em um evento em Aruba, em fevereiro.

CRISE CAMBIAL
Se a ordem de prisão de Zuloaga e seu filho foi amplamente criticada, a intervenção no Banco Federal, mediano no mercado venezuelano, foi respaldada pela associação de bancos privados.
A intervenção no banco (com 152 agências) traz nervosismo em meio à instalação de um novo esquema de transação cambiária, que estreou na semana passada.
Anteontem, Chávez ameaçou tirar todos os depósitos estatais da banca privada.
Em novembro passado, o governo já havia tomado o controle de nove pequenos bancos -a maioria de banqueiros próximos do chavismo- sob acusação de fraude. Vários envolvidos estão presos, outros foragidos.
O Estado controla agora 26% da banca, segundo cálculos de economistas locais.


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