São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 2002

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FRANÇA

Presidente saiu ileso e ninguém se feriu; atirador foi preso; ação aconteceu durante desfile da Queda da Bastilha

Extremista de direita tenta matar Chirac

Associated Press
Extremista de direita que tentou matar o presidente da França, Jacques Chirac, é dominado por policiais momentos após o disparo


ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Um militante de extrema direita atirou ontem com uma carabina na direção do presidente francês Jacques Chirac, em Paris.
A tentativa de atentado aconteceu por volta da 10h, quando o presidente seguia num veículo militar aberto pela avenida dos Champs Elysées, perto do Arco do Triunfo, durante a parada do feriado nacional da Queda da Bastilha. A bala não atingiu ninguém. O homem foi contido pelo público que assistia ao tradicional desfile de 14 de Julho. O atirador estava posicionado a cerca de 50 metros de Chirac.
"Chirac estava passando no carro quando eu senti a multidão movendo para o lado direito. Então eu vi, uns dois ou três metros distante de mim, um homem apontando na direção do presidente", contou o turista canadense Mohamed Chelali. "Alguém bateu na mão do atirador, enquanto eu segurei uma parte da arma. Um terceiro manteve o rifle para o alto. O rapaz se recusou a soltar a arma. Um outro homem o agarrou pelo pescoço."
A polícia chegou cerca de três minutos depois e rendeu o extremista. Ele foi identificado como sendo Maxime Brunerie, 25 anos, estudante e motorista, membro do movimento de extrema direita GUD (Grupo União-Defesa). Era conhecido da polícia desde 1997 por haver participado de manifestações neonazistas.
Ao ser interrogado, Brunerie admitiu ter tentado matar o presidente. "Mas suas frases eram muito confusas e incoerentes", disse uma autoridade policial. O extremista foi encaminhado à enfermaria psiquiátrica do departamento de polícia.
Chirac só ficou sabendo do fato depois do desfile, por meio do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy. O presidente não falou sobre o assunto. Sua mulher, Bernardette Chirac, indagada se se tratava de uma tentativa de atentado, respondeu: "Claro que sim."

Coragem
Sarkozy confirmou que Brunerie tinha Chirac como alvo. "Ele disse que queria matar o presidente e em seguida cometer suicídio", disse. O ministro afirmou que a carabina calibre 22, de cano longo, usada por Brunerie foi "comprada na semana passada". Ela estava carregada com cinco cartuchos. O atirador levou a carabina dentro de um estojo de guitarra. Para o ministro, os espectadores que conseguiram conter o atirador e os policiais demonstraram "muita coragem".
A polícia não transferiu o caso para a unidade antiterrorista e o está tratando aparentemente como um evento isolado. Para membros da polícia, não se trataria de um complô -devido ao baixo calibre da arma- mas de um ato de uma pessoa demente.
Na sua ficha, no entanto, não consta que ele tenha sido internado em hospital psiquiátrico.
Brunerie foi descrito como um jovem tranquilo, "sem aparência de ser desequilibrado", segundo seus vizinhos. "Era discreto, não apresentava problemas. Parecia um jovem comum, de calça jeans e tênis", disse uma vizinha.
O presidente italiano Carlo Azeglio Ciampi foi o primeiro a encaminhar mensagem de apoio a Chirac. "Ouvindo sobre o gesto criminoso que chocou o aniversário de 14 de Julho, gostaria de lhe assegurar tanto minha amizade pessoal quanto a solidariedade do povo italiano", escreveu.
O porta-voz do primeiro ministro Tony Blair manifestou que o líder britânico "estava muito preocupado com a notícia desse incidente e, obviamente, aliviado que ninguém tivesse sido ferido".
O desfile de 14 de Julho em Paris contou com a presença de 75 bombeiros de Nova York que atuaram nos salvamentos do World Trade Center. Também participaram 163 cadetes da academia americana de West Point, que comemora 200 anos.
Depois do desfile, Chirac fez sua tradicional entrevista à TV francesa, em que afirmou ser contra a reforma da Política Agrícola Comum, pretendida pela Comissão Européia. Ele disse que não vai "sacrificar" a agricultura francesa. O presidente confirmou que pretende baixar os impostos em 5% ainda neste ano.


Com agências internacionais


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