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Após euforia, cubanos enfrentam limbo
Ex-presos políticos enviados à Espanha ainda não têm destino definido; outros dois chegaram ontem ao país
Eles dormem em albergue afastado da cidade e ainda não têm documentação legal para residir na Europa
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI
Depois de sorrisos, discursos contidos e poucas críticas
a Havana, os ex-presos políticos de Cuba enviados à Espanha despertaram ontem sob
uma espécie de limbo: sem
documentação, sem casa e
quase sem pertences.
Hospedados em um albergue na beira de uma autoestrada, onde ficarão até pelo
menos o fim da semana, os
dissidentes reclamaram de
uma liberdade cerceada que
vivem em Madri e criticaram
a forma "autoritária" com
que deixaram o país.
"Foi uma saída autoritária.
Saí da prisão direto para o aeroporto. Não passei em casa e
só encontrei minha família
dentro do avião. Não nos deram nenhum documento,
não temos telefone e não sabemos nem se vamos ficar
em Madri", declarou o jornalista Omar Rodríguez, que
chegou ontem à Espanha
com o também ex-preso Normando Hernández, acompanhados de mulher e filhos.
Foram levados para o mesmo albergue onde já estava a
primeira leva de sete dissidentes, no meio de um polígono industrial no subúrbio
de Madri, a 15 km do centro.
Lá, eles passaram o dia à espera de uma posição da Espanha e das ONGs encarregadas de sua inserção social.
O governo espanhol enfrenta um desafio jurídico
para regularizar a situação
dos cubanos. Isso por a lei
exigir ao menos três anos para conceder a imigrantes visto de residência permanente,
a não ser em casos de reagrupamento familiar, asilo, refúgio ou imigração laboral.
INTERESSE NACIONAL
O Ministério dos Assuntos
Exteriores espanhol decidiu
ontem carimbar o passaporte
dos cubanos com a condição
de "interesse nacional", que
consta na lei de estrangeiros,
até conceder-lhes vistos.
"Não concordo. Sou refugiado político, fui sequestrado pelo meu governo em casa. Agradecemos ao [presidente de governo espanhol,
José Luis Rodríguez] Zapatero, mas quero que ele nos dê
esse status", disse o jornalista Normando Hernández.
Já Rodríguez disse que,
apesar de haver optado por
migrar, se sente "expulso".
"Minha preferência é ir a Cuba. Nos forçaram a sair", diz.
Ele disse que foi levado da
prisão para o avião, onde encontrou a família. "Não deu
tempo nem de fazer malas",
disse o filho dele, Osmani Rodríguez, 21. "Não deixaram
que nos despedíssemos de
outros familiares, amigos e
vizinhos", disse Hernández.
Ontem, Guillermo Fariñas,
recém-saído de quatro meses
de greve de fome, chamou a
medida de "jogada feita com
o consentimento de Fidel
Castro, que está lúcido". Mas
disse que a libertação é uma
"janela que se abriu".
Os cubanos também percebem entraves na nova vida, como a busca por trabalho em um país que fechou
2009 com mais de 20% da
população desempregada.
Além disso, alguns se disseram surpreendidos com a
hospedagem. "Comparados
à prisão em Cuba, são um palácio, mas os quartos são
quentes e sem ventilação",
disse Omar Hernández.
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