São Paulo, quinta-feira, 15 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Irlanda do Norte vive nova onda de conflito separatista

Crianças com menos de 10 anos estavam nos ataques, liderados pelo IRA Autêntico; 83 policiais se feriram

Violência chega ao 3º dia ao norte da capital, Belfast, e opõe jovens católicos contrários ao acordo de paz e polícia


VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

A Irlanda do Norte vive uma nova onda de violência entre policiais e jovens católicos contrários ao processo de paz no país. Foram três noites de confrontos ao norte de Belfast. Ao menos 83 policiais ficaram feridos, segundo as autoridades.
A diferença é que desta vez havia crianças aparentando ter menos de dez anos entre os manifestantes que atiravam pedras e coquetéis molotov contra policiais, atacavam e incendiavam ônibus e tentavam tomar o trem que liga Belfast a Dublin, na República da Irlanda. A polícia respondeu com balas de borracha e jatos d'água.
Tudo começou no domingo, quando os jovens católicos foram reprimidos pela polícia ao tentar impedir a tradicional marcha do grupo protestante Ordem Laranja.
Todos os anos a marcha festeja pela cidade a vitória do rei protestante Guilherme de Orange sobre o católico Jacob 2º, ocorrida em 1690.
A marcha é vista como uma provocação pela minoria católica, que por mais de 30 anos lutou pela independência da Irlanda do Norte do Reino Unido e a favor da reunificação com a República da Irlanda, católica.
Essa luta deixou mais de 3.500 pessoas mortas.

ACORDO DE BELFAST
A violência eclode após o país concluir a última parte do acordo que selou oficialmente a paz entre católicos e protestantes.
O Acordo de Belfast, ou da Sexta-Feira Santa, foi assinado em 1998 e previa que a Irlanda do Norte iria paulatinamente ganhar autonomia do Reino Unido.
Nacionalistas (católicos e anti-Londres) e unionistas (protestantes e pró-domínio britânico) formaram um governo de coalizão e, desde abril, Londres deu ao Executivo local o controle sobre a polícia.
Políticos dos dois lados acusam o IRA Autêntico, grupo dissidente do IRA (Exército Revolucionário Irlandês, que renunciou à violência após décadas de ataques terroristas), de estar por trás das manifestações.
Dizem que a intenção é que algum jovem acabe morto para virar mais um mártir da luta pela independência da Irlanda do Norte. Martin McGuinness, vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte, disse que o governo está coeso e que os conflitos não vão atrapalhar o processo de paz.
Além dos componentes políticos e religiosos, há também os econômicos e sociais.
Os conflitos ocorrem em áreas que concentram católicos pobres e desempregados. São bairros onde o índice de desemprego entre os homens está na casa dos 20% -duas vezes maior do que o registrado no Reino Unido.
Gary Donegan, padre católico que trabalha na região, diz que os jovens consideram atacar os policiais como uma diversão: "A noite aqui parecia um parque temático da Disney para o tumulto."


Texto Anterior: Irã: Chanceler nega que pena de "adúltera" tenha sido suspensa
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.