São Paulo, Quinta-feira, 15 de Julho de 1999
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EM BAIXA
Crise econômica faz com que todos os presidentes da América Latina tenham queda de popularidade
Líderes latinos perdem apoio popular

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

O pêndulo político latino-americano está se movendo rapidamente contra os governantes de turno, depois de uma década de estabilidade que permitiu, por exemplo, a introdução do princípio da reeleição, o que beneficiou presidentes como Carlos Saúl Menem (Argentina), Fernando Henrique Cardoso (Brasil) e Alberto Fujimori (Peru).
Agora, o jornal argentino "La Nación" consolidou em um mapa do sub-continente a constatação de que todos os dez presidentes dos principais países estão com popularidade inferior ao ponto máximo que haviam atingido.
A razão é facílima de explicar: a turbulência financeira internacional, que começou na Ásia em 1997 e passou pela Rússia no ano seguinte, acabou afetando duramente a economia de toda a América Latina, já a partir do segundo semestre do ano passado.
Embora a perda de popularidade seja comum a todos, há casos mais e menos graves.
Na lista dos mais graves, o pódio é ocupado por Equador e Colômbia, até porque não se trata apenas de dificuldades econômicas, por graves que sejam, mas também de forte instabilidade política.
No Equador, um conglomerado batizado de "Frente Patriótica" está chamando a um "levantamento popular e indígena". Na Colômbia, a ofensiva da mais forte e antiga guerrilha latino-americana (as Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) aproxima-se mais e mais da capital, Bogotá, e provoca êxodo em massa de colombianos das classes média e alta.
No domingo, carta pastoral dos bispos colombianos advertia o presidente Andrés Pastrana, como se preciso fosse, que "sopram fortes ventos de guerra e morte".
Não por acaso, Pastrana e seu colega equatoriano, Jamil Mahuad, são os governantes que mais rapidamente perderam prestígio nas pesquisas.
Ambos estão no poder há pouco menos de um ano ( desde agosto passado).
Mas têm 33% (Pastrana) e 16% (Mahuad) de ótimo/bom nos mais recentes levantamentos.
Para o presidente Fernando Henrique Cardoso, a comparação é negativa: ele também têm apenas 16% de ótimo/bom, na mais recente pesquisa do Datafolha, ou seja, a mesma porcentagem de Mahuad. Mas FHC iniciou seu segundo mandato depois (em janeiro deste ano).

Inflação
A inversão de direção do pêndulo político serve também para mostrar que a inflação deixou de ser o principal fator determinante da popularidade de um governante, ao contrário do que aconteceu no início dos anos 90.
O Chile, por exemplo, tem hoje a inflação mais baixa em 60 anos, mas a aprovação a seu presidente, Eduardo Frei, pela primeira vez desde a redemocratização do país (1989), está abaixo dos 50%.
O elevado desemprego (associado ao baixo crescimento ou à recessão) é, hoje, o fator que puxa o pêndulo contra os governantes em funções.


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