UOL


São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

APAGÃO AMERICANO

Moradores da cidade tentam contornar o caos no trânsito; às 19h, ainda havia pessoas presas no metrô

Voluntários substituem semáforos em NY

DE NOVA YORK

Com os semáforos apagados, uma legião de policiais e voluntários tomou as avenidas de Manhattan para diminuir um pouco o caos no trânsito.
Parado desde as 17h30 locais na esquina da Quinta Avenida com a rua 68, o publicitário Alan Godman, 28, disse que se deparou com a bagunça ao deixar o trabalho. "É a única coisa que poderia fazer para ajudar Nova York a voltar a funcionar", afirmou ele.
Nem o esforço de voluntários e policiais foi suficiente para evitar os acidentes. Com as bombas de gasolina sem funcionar, muita gente também ficou sem combustível na volta para casa.
A população foi aconselhada a não sair de casa de carro. Com os trens parados e os ônibus atrasados e lotados, muita gente resolveu caminhar até sua casa após o trabalho -incluindo pessoas que moram fora de Manhattan, situação que provocou grandes filas nas pontes que servem a ilha.
Às 19h, três horas depois do início do blecaute, ainda havia gente presa em alguns trens nova-iorquinos. Com o trânsito parado, o serviço de resgate não tinha como chegar aos vagões.
No hotel Regency, na avenida Park, um dos pontos preferidos da indústria do cinema, muitos hóspedes que saíram para o aeroporto foram apanhados no meio do caminho pelo blecaute. À noite, ainda tentavam um quarto.
Perto dali, o Central Park seguia aberto. Num dos acessos, porém, um policial alertava: "Eu não entraria aí nem com uma arma".
As filas em telefones públicos e carrinhos de cachorro-quente seguiram cheias pela noite.
O Empire State Building tinha apenas luzes de emergência acesas no alto. Em Times Square, alguns restaurantes e bares continuaram abertos, com velas.
Muita gente bebia nas ruas, o que é proibido na cidade. Ciclistas se divertiam pedalando, enquanto outras pessoas passeavam com seus cachorros.
A Broadway cancelou seus espetáculos, e os Mets, time de beisebol local, suspendeu seu jogo.
Uma apresentadora de rádio chegou a se dizer "aliviada" ao comparar o incidente de ontem com os atentados do 11 de Setembro -ela definiu o apagão como uma crise "ordenada".
Por volta das 20h45, alguns lugares no interior do Estado de Nova York começaram a ter a energia restaurada.
A cidade de Nova York, porém, continuava às escuras. O governador local, George Pataki, declarou estado de emergência.
O prefeito, Michael Bloomberg, que horas antes dissera já haver luz em pontos da cidade, começou a ser cobrado por jornalistas.
Só às 21h locais, os aeroportos de La Guardia e Newark retomaram suas operações.
Meia hora depois, um repórter de TV que sobrevoava a cidade disse ter visto as primeiras luzes se acenderem. Nesse mesmo horário, Bloomberg concedeu nova entrevista coletiva para dizer que entre 10% e 15% da iluminação da cidade já havia voltado ao normal.
"Espero que em quatro horas a energia esteja restabelecida", afirmou o prefeito nova-iorquino.
Em meio à escuridão, Bloomberg aproveitou para reclamar dos prejuízos ainda incalculados que o apagão vai causar à sua cidade. "Isso não é bom para o nosso orçamento", disse.
Ao mesmo tempo, ele aproveitou para brincar com a situação. "Hoje é possível ver estrelas em Manhattan." Também fez questão de se mostrar otimista: "Amanhã, vamos ter um dia de trabalho normal". (ROBERTO DIAS)


Colaboraram Beatriz Peres, Leonardo Cruz e João Sandrini, em Nova York

Texto Anterior: Memória: Apagão de 1977 provocou saques e caos na cidade
Próximo Texto: Oferta de energia na área de NY está no limite
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.