São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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EUROPA

Depois de surras eleitorais, a social-democracia do continente se prepara para festejar a primeira vitória da temporada

Suécia deve redimir social-democratas

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Depois de uma série de surras eleitorais, a social-democracia européia prepara-se para festejar a primeira vitória da temporada, com o esperado triunfo do Partido Social Democrata da Suécia no pleito de hoje.
Mas não será uma vitória tão ampla nem tão significativa a ponto de ofuscar as derrotas em Portugal, na França e na Holanda, para mencionar apenas as eleições européias de 2002.
Primeiro, porque a social-democracia, se vencer mesmo, continuará precisando de alianças para governar, como ocorre desde 1994 quando o atual premiê, Goran Persson, elegeu-se pela primeira vez.
Segundo, porque a campanha eleitoral expôs problemas que a globalização tem provocado até para a Suécia, redespertando um nacionalismo que a social-democracia européia estava afastando, na sua busca da chamada "Terceira Via", caminho intermediário entre o liberalismo puro e duro e as antigas tendências estatizantes da social-democracia.
O jornal de negócios "Dagens Industri" chegou a exumar expressão ("veias abertas") consagrada pela esquerda latino-americana em um livro clássico ("As Veias Abertas da América Latina", do uruguaio Eduardo Galeano). O texto criticava, em linha similar à de Galeano, a desnacionalização da economia sueca nos últimos anos (200 empresas foram vendidas ao capital estrangeiro a partir da desregulamentação iniciada nos anos 80).
De todo modo, o vigor econômico da Suécia parece suficiente para assegurar a vitória do governo. O país cresceu no segundo trimestre 2,1% anualizados, depois de ter mantido uma média de crescimento superior a 3% desde que Persson foi reeleito, em 1998.
O presente reforça as credenciais da social-democracia sueca, que governou o país na maior parte do século passado, ajudando a catapultá-lo ao segundo lugar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), criado pela ONU para medir a qualidade de vida no planeta.
Mesmo assim, o discurso de extrema direita, que tantos estragos provocou nas eleições européias de 2002, achou uma brecha até na Suécia. Os liberais (que não são de extrema direita) também andaram criticando os estrangeiros, o demônio da temporada eleitoral européia, dizendo que, antes de receberem cidadania, deveriam demonstrar maestria no uso do idioma sueco.
Uma semana depois da votação na Suécia, será a vez de a Alemanha votar, em outro pleito em que um partido da "Terceira Via" arrisca-se a perder o poder.
É verdade que, anteontem, uma pesquisa pôs o SPD (Partido Social Democrata) à frente da democracia cristã, pela primeira vez na campanha. Mas, ainda assim, há um empate estatístico entre os dois principais grupos políticos do país. Nas demais pesquisas recentes, o empate é numérico.
Mesmo que o chanceler (premiê) Gerhard Schröder vença, a maioria dos analistas não vê seu triunfo como uma revanche dos partidos da "Terceira Via".
"Se Schröder vencer, não será por causa da "Terceira Via", mas, ao contrário, porque ele conseguiu, nas últimas semanas, polarizar o país entre esquerda e direita, surfando numa onda ecopacifista", diz Anne-Marie Le Gloannec, pesquisadora do instituto Marc Bloch, instituto franco-alemão de pesquisas em ciências sociais.
Le Gloannec está se referindo à maneira como Schröder lidou com as inundações na Alemanha Oriental e à sua resistência em apoiar uma ação militar norte-americana contra o Iraque.
Tudo somado, as duas eventuais vitórias da social-democracia na Suécia e na Alemanha podem não reabilitar o prestígio abalado da "Terceira Via", mas a reabilitação pode vir como resultado da crise na coalizão governante na Áustria.
Os austríacos votarão em novembro, e as primeiras indicações são de recuperação da social-democracia no país em que começou, no ano 2000, a onda de extrema direita.


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