São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

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EUROPA

Febre causada pelo best-seller cria visitas guiadas às obras citadas no livro; Louvre dá o braço a torcer e faz seu tour oficial

Turismo do "Código Da Vinci" toma Paris

DO "FINANCIAL TIMES"
DA ASSOCIATED PRESS, EM PARIS

O museu do Louvre inaugurou ontem seu tour oficial pelas pinturas descritas no best-seller "O Código Da Vinci", de Dan Brown.
Foi uma concessão e tanto. Até ontem, os administradores do Louvre se recusavam a comentar o livro. "É uma obra de ficção, e não é nosso trabalho falar de coisas desse tipo", disse um assessor de imprensa do museu.
Mas o corte nos subsídios oficiais, que obrigou o Louvre a buscar patrocínio privado no ano passado, tornou o museu dependente dos recursos externos -e um grupo de investidores dos EUA, chamados de "Amigos Americanos do Louvre", gosta muito do livro de Brown. Esses amigos foram recebidos ontem, no tour inaugural, pelo diretor do Louvre, Henri Loyrette, que disse querer acabar com a imagem de "arrogância" do museu.
A iniciativa do Louvre não é isolada. "Da Vinci" gerou toda uma miniindústria turística nova na Europa, algo que gira em torno dos leitores fascinados que percorrem os lugares que figuram na trama, interessados em decifrar seus enigmas. Desde a Escócia à França, os leitores do "Código" passaram a visitar lugares antigos munidos de listas de perguntas.
Em Paris, os fãs do livro indagam se é verdade que existem 666 vidraças na pirâmide de Louvre. Na igreja de Saint-Sulpice, que aparece diversas vezes no livro, eles fotografam o obelisco, o lugar onde o monge albino assassino do livro inicia a busca pelo Graal.
Para Paul Roumanet, o padre da igreja na vida real, essa fama recente vem sendo uma dor de cabeça. Cansado de responder a perguntas, ele acabou por expor um cartaz que desmente as afirmações do livro. O cartaz começa com ""contrariamente às alegações fantásticas contidas num best-seller recente..."
"É muito desagradável tudo isso que Dan Brown foi tirar da lata de lixo da história", disse Roumanet.
"O Código Da Vinci" mistura decifração de códigos com história da arte, sociedades secretas, religião e tradições, tudo isso em capítulos curtos com ação constante. Já foram publicados vários outros livros que procuram desmentir suas alegações polêmicas, principalmente a de que Jesus Cristo teria se casado com Maria Madalena e dado origem a uma linhagem de descendentes.
O livro recentemente se tornou o mais vendido na categoria ficção na França, onde intelectuais o vêm discutindo em debates na televisão e nas páginas de editoriais dos jornais. Nos EUA, o livro é o número um na lista de mais vendidos do "The New York Times", na qual aparece há 76 semanas.
Em Paris, pelo menos três empresas de turismo aderiram à onda "Da Vinci". Os clientes, em sua maioria americanos, pagam caro para entrar em tours. Alguns custam até 310 por grupo.
Existem também os leitores que saem à procura dos locais por conta própria, ou então aqueles que apenas constatam que o livro modificou sutilmente a maneira como enxergam Paris. O engenheiro americano Daniel Berg viu-se pensando no livro quando se sentou ao lado da pirâmide moderna de vidro do Louvre.
O livro afirma que há 666 vidraças na pirâmide projetada por I.M. Pei. Mas fontes diversas parecem fazer contas diferentes. Um documento oficial do Louvre encontrado na internet disse que são 673 vidraças. Usando um cálculo, Daniel Berg também chegou a um número. Mas, brincou, "prefiro não revelar qual" -para evitar fazer parte da polêmica "Da Vinci".


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