São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 2006

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Agência nuclear acusa EUA de mentir sobre Irã

Em carta confidencial, AIEA classifica relatório do Congresso de "desonesto'

Comitê citou "urânio suficiente" para obter armas e insinuou omissão de órgão da ONU; porta-voz minimiza dado incorreto

DA REDAÇÃO

A agência nuclear da ONU atacou duramente o Congresso americano, acusando-o de divulgar um relatório "escandaloso e desonesto" sobre o programa nuclear do Irã, em carta confidencial que veio à tona ontem. Segundo a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), o relatório, lançado pelo Comitê de Inteligência do Congresso em agosto, tem "informações errôneas e enganosas".
A carta, enviada ao chefe do comitê, o republicano Peter Hoekstra, foi obtida pelo jornal americano "Washington Post". Entre outras críticas, a agência expressa "fortes objeções" à insinuação de que estaria acobertando dúvidas a respeito das intenções nucleares iranianas.
Os EUA têm pressionado o Conselho de Segurança da ONU a concordar em impor sanções econômicas ao Irã por ele não suspender o enriquecimento de urânio. Suspeita-se que o governo de Mahmoud Ahmadinejad queira obter armas nucleares -ele nega.
Segundo a AIEA, o relatório do Congresso contém sérias distorções. A agência diz que o comitê erra ao afirmar que o Irã enriqueceu urânio em nível suficiente para construir armas atômicas, pois seus inspetores encontraram apenas pequenas quantidades de urânio enriquecido, e em níveis primários.
Mas a maior crítica é à "afirmação incorreta e enganosa" de que a agência removeu um dos seus inspetores por ele "alegadamente concluir que o objetivo era construir armas". Segundo a AIEA, a remoção ocorreu a pedido de Teerã, o que é garantido a todo governo.
A carta considera "escandalosa e desonesta" a sugestão de que o motivo foi o inspetor ter se recusado a aderir "à política extra-oficial que impede funcionários da agência de contar toda a verdade" sobre o Irã.
O porta-voz do comitê do Congresso, Jamal Ware, admitiu que foi dito erroneamente que o país tinha material para construir armas, mas disse que "não era nada substantivo", pois isso estava só numa legenda. "Sobre as outras coisas aparentemente discordamos. Não há erros no relatório." Um diplomata, sob anonimato, disse que o caso é um "déjà vu do pré-guerra no Iraque", quando os EUA acusaram Bagdá de ter armas de destruição em massa.

Negociações
O presidente iraniano baixou o tom de seu discurso sobre a questão nuclear ontem, dizendo-se aberto a "novas condições". "Estamos disponíveis, prontos para novas condições."
Ele não explicitou se isso significava concordar com a suspensão, mas, no fim de semana, o negociador iraniano Ali Larijani, em encontro com o chefe de Política Externa da União Européia, Javier Solana, cogitou suspender o programa nuclear por dois meses assim que as negociações avançassem.
Os europeus se mostram dispostos a relevar a exigência da suspensão prévia para negociar -o que os EUA não aceitam.


Com agências internacionais


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