São Paulo, sábado, 15 de setembro de 2007

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Iraque cumpre só metade das metas, admite Casa Branca

Vice-presidente Dick Cheney acusa críticos de ignorar risco de "carnificina" e "caos" em caso de retirada dos EUA

Perspectiva de assumir Presidência com milhares de soldados no Iraque enfurece a oposição democrata, favorita na eleição de 2008

Kevin Lamarque/Reuters
Bush janta com soldados na Virgínia, no chamado "tour de convencimento" sobre a guerra


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Enquanto George W. Bush e seu vice, Dick Cheney, continuavam o que críticos chamaram de "tour de convencimento" da guerra, cujo ponto mais importante foi o pronunciamento do presidente na quinta à noite, a Casa Branca soltava mais um relatório sobre a situação do Iraque. Segundo o levantamento, apenas metade de 18 metas de segurança e governabilidade estabelecidas pelos Estados Unidos foram cumpridas pelo governo local.
Entre os objetivos não atingidos estão a independência das forças de segurança de pressões políticas, o controle das milícias e a aprovação de uma lei sobre a divisão dos lucros obtidos com o petróleo entre as diversas etnias que compõem o país. O documento era exigência do Congresso e dava o dia de hoje como prazo para a Casa Branca mostrar quais eram os avanços, se obtidos, desde o último relatório, de julho.
Desde então, apenas uma área evoluiu, segundo o texto enviado pela Casa Branca: a que previa o reaproveitamento de membros do Exército iraquiano que haviam sido demitidos logo após a invasão do país, em 2003, numa decisão do então representante do governo norte-americano no Iraque, Paul Bremer, que seria muito criticada depois.
O texto veio se juntar a outro, divulgado no mesmo dia pelo Departamento de Estado, que dá conta da liberdade religiosa em diversos países do mundo. No capítulo iraquiano, membros de todas as religiões são caracterizados como potenciais "vítimas de assédio, intimidação, seqüestros e assassinatos". Ainda assim, segundo John Hanford, responsável da Chancelaria pelo assunto, é importante destacar que a atual Constituição iraquiana garante a liberdade religiosa.
A atitude do copo meio cheio também foi adotada pelo porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, em relação ao primeiro relatório. "Talvez seja a hora de os membros do Congresso que estiveram viciados na narrativa do fracasso perceberem que estamos obtendo algum sucesso, celebrar isso e dar crédito aos sujeitos que estão fazendo isso", disse.

Reação democrata
Em visita à base dos fuzileiros navais em Quantico, no Estado da Virgínia, o presidente Bush exortou o Congresso a "prestar muita atenção" ao que o general David Petraeus, comandante das tropas no Iraque, e o diplomata Ryan Crocker, embaixador em Bagdá, disseram durante a semana. Na noite de quinta-feira, Bush anunciou uma pequena redução no número de soldados no Iraque, mas deixou claro que um contingente de milhares estará no país árabe quando seu sucessor, a ser eleito em novembro de 2008, tomar posse em janeiro de 2009.
Alguns tons acima, em discurso em Grand Rapids (Michigan), o vice-presidente Dick Cheney acusaria os que pedem a saída dos EUA do Iraque de ignorar a "carnificina" e o "caos" que se seguiriam à retirada norte-americana. "Nos pedidos que eu tenho ouvido [pela retirada], essas conseqüências negativas não foram negadas -foram simplesmente ignoradas", afirmou o vice.
A reação democrata não tardou. "O que o presidente disse é que, daqui a um ano, haverá o mesmo número de soldados no Iraque do que há um ano", disse a senadora Hillary Clinton, principal pré-candidata da oposição à sucessão de Bush. "É muito pouco e tarde demais, e inaceitável para esse Congresso e para o povo americano, que deixou bem claro seu forte desejo de trazer nossos corajosos soldados de volta."
"Por mais que eles tentem distorcê-lo, o relatório de hoje da Casa Branca a respeito da situação política do Iraque mostra de novo que a política falha de aumento de tropas do presidente não está funcionando", concordou o líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid. "Certamente não justifica manter 130 mil soldados numa guerra interminável, como o presidente escolheu." Há hoje 168 mil militares no Iraque.


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