São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2011

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Capital se mantém leal ao regime sírio

Moradores de Damasco demonstram apreço pelo governo de Assad e acusam a mídia internacional de mentiras

Clima de normalidade muda às sextas-feiras, no entanto, quando são frequentes os protestos na periferia da cidade

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A DAMASCO (SÍRIA)

Em contraste com os confrontos diários entre opositores e forças de segurança em outras partes do país, a sensação no coração da capital síria é de normalidade e lealdade ao governo.
No mercado da cidade antiga, uma das principais atrações de Damasco, os comerciantes reclamam das "mentiras" divulgadas pela mídia estrangeira sobre o país.
A mudança mais visível em relação a alguns meses atrás é a ausência quase total de turistas.
Hotéis e restaurantes estão vazios e a economia síria acusa o golpe de ter perdido uma de suas principais fontes de renda.
"Metade do meu faturamento desapareceu junto com os turistas", reclama Ziad Ishbib, dono de uma loja de cosméticos na entrada do mercado de Damasco.
A exceção são os turistas iranianos, que continuam a visitar Damasco em grandes grupos. Muitos comerciantes têm na parede retratos do ditador Bashar Assad, a quem juram lealdade eterna.
"Esses manifestantes são terroristas que recebem financiamento do exterior", diz Juseef Zawrak, presidente do mercado de ouro da cidade antiga, repetindo o discurso do regime: "97% dos sírios apoiam o presidente".
Embora não seja ostensiva, a presença das forças de segurança é óbvia. No centro da cidade, uma longa fileira de vans brancas é a senha de que policiais estão por perto. Invariavelmente à paisana.

SANÇÕES
Sempre acompanhada por representantes do regime, a reportagem da Folha circulou por vários bairros da capital, onde a sensação de normalidade convive com os efeitos das sanções econômicas impostas ao país.
Um dos mais palpáveis é a impossibilidade de usar cartões de crédito e bancários internacionais. As grandes redes de hotéis têm driblado a proibição enviando as faturas para filiais no Líbano.
O país vizinho também tem sido usado pelas embaixadas que fazem o pagamento de salários e despesas por meio de bancos nos EUA. É o caso da embaixada do Brasil.
Como as transferências são feitas a partir do Banco do Brasil em Nova York, que estão sujeitas às sanções americanas contra a Síria, a solução tem sido cruzar a fronteira e descontar os cheques com um agiota libanês. Outras embaixadas têm usado o expediente. Inclusive, ironicamente, a dos EUA.
Com um funcionário do governo, o cônsul honorário da Síria no Brasil, Gabriel Yussef, levou a reportagem da Folha a vários pontos de Damasco, enquanto repetia que a imagem de um país conflagrado é fabricação da mídia estrangeira.
Diplomatas disseram à Folha que o clima de normalidade na capital muda todas as sextas-feiras, quando costumam ocorrer protestos. A maioria evita sair às ruas até o anoitecer.


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