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Forças Armadas dominam política e economia
DO ENVIADO A QUITO
A intervenção política das
Forças Armadas do Equador
durante a derrocada dos últimos três presidentes eleitos
não é a única característica que
as diferencia dos demais Exércitos da região: ao longo das últimas décadas, os militares
equatorianos construíram um
imenso império capitalista, que
inclui a principal empresa área
do país, uma montadora de veículos da GM, fábricas de vestuário, um banco e até o luxuoso hotel JW Marriott.
A chamada holding Dine (Direção de Indústrias do Exército) foi criada em 1973, como
parte de um programa de substituição de importações de materiais utilizados pelas Forças
Armadas, como uniformes militares e material bélico.
"Aos poucos, os militares começaram a copiar os grandes
grupos econômicos equatorianos, que têm uma carteira de
investimentos muito variada",
afirma o politólogo Pablo Andrade, da Universidade Andina
Simon Bolivar.
Atualmente, a holding administra diretamente 11 empresas
e tem cerca de 2.700 empregados, muitos deles militares
aposentados. "Aqui se diz que
os oficiais mais inteligentes não
chegam a general: se aposentam como coronéis, quando
ainda são jovens e têm várias
opções de carreira no setor privado", afirma Andrade.
O turismo é uma das principais atividades da Dine. Além
de possuir ou ser sócia de vários
hotéis luxuosos, é a dona da
empresa aérea Tame.
Neste ano, as Forças Armadas iniciaram um programa de
restruturação da holding, com
o objetivo de diminuir o número de empresas, ficando apenas
com as mais rentáveis.
O analista afirma que a incursão econômica militar era justificada ainda como uma estratégia militar contra o Peru, considerado a principal ameaça até
meados dos anos 1990.
Como exemplo, Andrade cita
uma empresa de criação de camarões em lagoas situadas na
fronteira com o Peru. A justificativa era que o aparato impediria o avanço de carros anfíbios do Exército inimigo.
No ano passado, a Dine voltou a evocar a segurança nacional quando tentou explorar
dois poços de petróleo na região de fronteira com a Colômbia, mas a concessão foi negada
pela estatal Petroecuador.
Poder político
De acordo com a socióloga
argentina Rut Diamint, da Universidade Torcuato Di Tella, o
poderio econômico dos militares equatorianos lhes dá poder
para "competir com o Estado" e
é injusto do ponto de vista empresarial.
"Ao contrário de países desenvolvidos, onde o setor privado compete na indústria de defesa, provocando maior transparência e exigindo uma supervisão, os militares no Equador
organizaram uma holding que
tem o monopólio não apenas
do poder mas também na economia", escreve Diamint, em
artigo. "Como empreendedores, os militares equatorianos
estão isentos de impostos e fazem uso das instituições públicas para assegurar isso."
Assim como o poder econômico, o poder político dos militares também não pára de crescer. Os analistas equatorianos
concordam que é praticamente
impossível se manter no poder
sem o apoio das Forças Armadas, que tiveram participação
decisiva no afastamento dos últimos três presidentes eleitos e
são consideradas os "árbitros"
da crise política equatoriana.
Para o analista José Hernández, a política equatoriana vive
uma "tutelagem militar", embora ele a veja como fruto da incapacidade dos políticos para
governar, "e não uma atitude
golpista das Forças Armadas".
(FM)
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