São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2006

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ONU impõe sanções sobre Coréia do Norte

Embaixador norte-coreano na ONU adverte que novas pressões dos EUA sobre seu país serão entendidas como "declaração de guerra"

Rússia e China pedem que ações sejam temporárias; texto veta possibilidade de qualquer tipo de ação militar contra Pyongyang

DA REDAÇÃO

Após uma semana de intensas negociações, o Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade na tarde de ontem a adoção de sanções contra a Coréia do Norte (veja quadro ao lado). O país asiático, que testou uma bomba nuclear na última segunda, rejeitou imediatamente a resolução e afirmou, por meio de seu embaixador na ONU, que novas pressões norte-americanas sobre Pyongyang serão recebidas como "declaração de guerra".
"Se os EUA aumentarem a pressão, a República Popular Democrática da Coréia continuará a tomar contramedidas físicas, considerando isso uma declaração de guerra", disse o embaixador Pak Gil Yon. Ele se referiu à resolução como "um ato de gângsteres" e deixou a sala do conselho. Nesta semana, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, vai à China, à Coréia do Sul e ao Japão para debater a questão.

Versão atenuada
A votação de ontem aconteceu quatro horas depois do previsto, após negociações que o representante russo descreveu como "tensas" para desfazer obstáculos apresentados por Moscou e Pequim -que como membros permanentes têm direito a veto no CS, assim como Washington, Londres e Paris.
O texto aprovado é a terceira -e diluída- versão da proposta apresentada pelos EUA no início da última semana. Nele os 15 membros do Conselho exigem que a Coréia do Norte elimine todas as suas armas nucleares e desmantele seu programa nuclear sem pré-condições, mas descartam explicitamente uma ação militar -uma concessão a Pequim e Moscou.
O embaixador dos EUA, John Bolton, afirmou, no entanto, que seu país pedirá novas medidas se Pyongyang insistir em manter o programa nuclear -mais cedo, o presidente George W. Bush havia exortado, em um discurso de rádio, a aprovação de "sanções duras", para que "o regime norte-coreano lidasse com as reais conseqüências" do teste nuclear.
A resolução condena o teste e pede a retomada imediata das negociações em seis partes, que envolvem Coréia do Norte, Coréia do Sul, Japão, China, Rússia e EUA e foram suspensas por Pyongyang no ano passado.
Em uma vitória norte-americana, o texto evoca o Capítulo 7 da Carta da ONU, que constata "ameaça à paz internacional" e torna mandatória a adoção de sanções econômicas e diplomáticas contra a Coréia do Norte.
A resolução acabou sendo aprovada com o item que havia travado a votação: a inspeção, por parte de qualquer país, de navios de carga que zarpem ou rumem para a Coréia do Norte, a fim de evitar tráfico de itens proibidos.

Inspeção local
Os EUA já haviam cedido ao incluir no texto a determinação de que autoridades locais participem das inspeções.
Mas China e Rússia, que têm fronteiras com a Coréia do Norte, temem ações perto de suas costas. Pequim, mesmo após a votação, seguiu dizendo que o item era "inaceitável".
Mais cedo, o embaixador chinês na ONU, Wang Guangya, havia dito estar "preocupado com o que essa resolução pode provocar". "A idéia de interceptação, uma vez posta em prática, pode facilmente levar um lado ou o outro a provocar um conflito com sérias implicações para os países da região", havia afirmado.
Já o ministro da Defesa russo, Serguei Ivanov, afirmou em Moscou que as medidas devem ser temporárias. "Concordamos que os meios de pressão política do CS sobre a Coréia do Norte não devem durar indefinidamente e que, se o país retomar as negociações em seis partes e essas negociações progredirem, as sanções deverão acabar automaticamente."


Com agências internacionais

"Hoje estamos mandando uma mensagem clara para a Coréia do Norte e outros proliferadores de que haverá repercussões sérias se eles seguirem buscando armas de destruição em massa"


JOHN BOLTON embaixador dos EUA na ONU

"Se os EUA aumentarem a pressão, a República Popular Democrática da Coréia continuará a tomar contramedidas, considerando isso declaração de guerra"


PAK GIL YON embaixador da Coréia do Norte na ONU



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