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Eventual acordo não bastará para reverter prejuízos à economia
Golpe intensifica efeitos da crise sobre Honduras; estimativa é de 180 mil novos desempregados e 650 mil novos pobres no país
Queda no influxo de turistas,
corte em ajuda internacional e percalços no comércio com vizinhos também ajudam a formar quadro desolador
DA ENVIADA A TEGUCIGALPA
Um acordo que promova o
entendimento político em
Honduras e a restauração da
democracia não irá significar o
fim da crise que vive o país centro-americano.
As perdas sociais e econômicas ocorridas com a crise internacional que se iniciou em
2008 se agravaram depois do
golpe de 28 de junho, quando a
retirada do presidente Manuel
Zelaya da Presidência levou a
comunidade internacional a
cortar repasses e ajuda financeira ao país, além de afugentar
milhares de turistas.
Para a organização Fórum
Social de Dívida Externa e Desenvolvimento de Honduras
(Fosdeh), nos próximos meses
entre 650 mil e 700 mil de hondurenhos deixarão a classe média para ingressar no grupo que
vive em situação de pobreza, o
que elevaria para 70% da população de quase 8 milhões a fatia
nessa situação.
Mesmo que os negociadores
cheguem a um consenso nesta
semana, a tarefa de reocupar os
180 mil novos desempregados
dos últimos meses, segundo dados oficiais, ficará para o próximo presidente, que assume em
janeiro. A informalidade e o subemprego também cresceram
e atingem hoje pelo menos 40%
dos hondurenhos.
O turismo é o setor mais afetado pela crise. Terceira maior
fonte de recursos do país, teve
uma queda de entre 40% e 70%.
Ministro do Turismo na gestão
de Manuel Zelaya, Ricardo
Martínez diz que nos últimos
três meses 120 mil turistas deixaram de visitar o país. A baixa
ocupação dos hotéis, que chegou a 8%, segundo ele, em algumas regiões, ameaça empregos.
Outra fonte de renda do país,
o setor de confecção de roupas
sofreu com a adoção em reiteradas ocasiões do toque de recolher, que atingiu os turnos
das empresas. Com o aumento
de 60% que Zelaya deu ao salário mínimo, muitos empresários começaram a pensar em se
mudar para outros países da região. "Não podemos deixar um
setor tão importante à sua própria sorte", diz Adolfo Facussé,
um dos principais empresários
do país. Apesar de apoiar o golpe, a poderosa Associação Nacional de Indústrias de Honduras, que ele preside, hoje é uma
das principais forças de pressão
para que o governo interino de
Roberto Micheletti chegue a
um acordo para pôr fim à crise.
Os Estados Unidos cortaram,
desde junho, cerca de US$ 70
milhões em repasses para programas sociais, construção de
estradas e treinamento militar.
Segundo o embaixador americano, Hugo Llorens, apenas os
repasses de ajuda humanitária
foram mantidos. Já a União Europeia cortou o equivalente a
US$ 95 milhões.
Não foram apenas as grandes
economias que cancelaram repasses ou trocas economicamente rentáveis a Honduras.
Nas horas após o golpe, países
vizinhos que formam o Sica
(Sistema de Integração Centro-Americana) fecharam suas
fronteiras, prejudicando o fluxo de bens de consumo. Esses
países concentram 19,3% das
exportações e 18,9% das importações de Honduras, segundo a
ONG Grupo Sociedade Civil.
Com a escassez de recursos
externos, o governo interino
tem usado as reservas do país
para manter a máquina funcionando. O vice-ministro de Comércio Exterior de Zelaya, Jaime Turcios, diz que já foi gasto
pelo menos US$ 1 bilhão desde
o golpe.
Ele enumera ainda as perdas
comerciais causadas pela suspensão das trocas com países
da região e da América do Sul.
"Os golpistas eram tão contrários à entrada de Honduras na
Alba [Aliança Bolivariana para
as Américas, bloco liderado pela Venezuela], só que até agora
não houve um movimento do
Congresso para sair", afirma
ele, atribuindo a decisão aos ganhos comerciais que Honduras
obtém da troca comercial.
(ANA FLOR)
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