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Após escândalos, Bachelet quer pacote anticorrupção
Desvio de recursos públicos para campanha de 2005 ameaça unidade da Concertação
No Chile, mortos e idosas
aparecem inscritos em
cursos de luta-livre; recursos
do esporte foram para
campanha de deputados
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
A presidente chilena Michelle Bachelet anunciou ontem a
criação de uma comissão especial para propor um pacote de
medidas anticorrupção. É a primeira reação concreta do governo, três semanas após vir a
público o uso de dinheiro público em campanhas eleitorais de
deputados da coligação oficial.
O dinheiro pertencia ao escritório estatal para os esportes, Chile Deportes. De acordo
com uma primeira investigação
da Controladoria Geral da República, de 77 projetos esportivos patrocinados, analisados
por amostragem, 90% continham irregularidades.
Entre elas, desde idosas inscritas em cursos de capacitação
em luta livre a pessoas já mortas que participam de seminários esportivos. Os projetos fajutos custaram US$ 750 mil.
Esse dinheiro foi parar na
campanha de políticos para a
eleição parlamentar do ano
passado, por meio de empresas
fantasmas. Até agora, sete deputados e um senador da base
governista estão envolvidos.
Mas o escândalo não afeta só
políticos do governo. Uma das
empresas fantasmas, Publicam, também "prestou serviços" e deu notas fiscais para o
candidato presidencial derrotado no segundo turno, o conservador Sebastián Piñeyra.
As notas fiscais frias da Publicam, por "serviços publicitários", foram apresentadas ao
instituto eleitoral chileno para
reembolso de gastos de campanha, de acordo com a legislação
eleitoral chilena.
Concertação em crise
Os casos aconteceram no final do mandato do ex-presidente Ricardo Lagos, mas afetam diretamente a coligação de
Bachelet, a Concertação -que
governa o país desde o fim da
ditadura militar, em 1990. Há
uma troca de acusações entre
os partidos da coligação, pois
todos os parlamentares envolvidos com o financiamento ilegal são do Partido para a Democracia (PPD), de Lagos.
"Cada vez que acontecem escândalos de corrupção, cada
partido tenta fazer com que os
demais aliados paguem o preço", diz o analista político Patricio Navia, colunista do jornal
"La Tercera".
Para tentar colocar ordem na
casa, Bachelet nomeou para a
comissão autoridades do governo e acadêmicos, liderados
pelo ministro da Economia. O
objetivo é que proponham medidas para regulamentação dos
lobbies, financiamento dos
partidos políticos e aumento da
transparência do governo.
Para o cientista político José
Miguel Izquierdo, que dirige o
Observatório Eleitoral do Instituto de Ciências Sociais da
Universidade Diego Portales,
"Bachelet tem demonstrado
escassa capacidade para fazer
alianças ou para aglutinar sua
própria coligação".
"O pior problema para ela é o
fogo amigo, pois a direita ainda
não capitalizou o escândalo.
Como políticos da direita também se serviram de empresas
fantasmas, para a opinião pública é tudo igual", disse Izquierdo à Folha. "O caso ainda
não provocou danos sérios ao
governo porque boa parte dos
chilenos acha que todos os políticos são suscetíveis à corrupção", afirmou.
Várias greves nos últimos
meses -de estudantes e profissionais de saúde- demonstram que os chilenos não andam tão satisfeitos com o sucesso econômico do país. Mas a
popularidade da presidente é
alta. Pesquisa a ser divulgada
amanhã pelo Observatório
Eleitoral aponta que 58% dos
entrevistados aprovam Bachelet - 30% dos eleitores que se
identificam com a direita também têm imagem positiva da
presidente.
Bachelet, há oito meses no
cargo, já sofre com a disputa no
interior da coligação sobre
quem será o seu sucessor. As
eleições acontecem em 2009.
Já a oposição havia ameaçado paralisar a votação do Orçamento no Congresso até que o
governo desse respostas ao escândalo. Diante da reação da
opinião pública, que viu mais
oportunismo na atitude, limitou-se a se abster na primeira
votação.
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