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Economia impulsiona apoio à democracia na América Latina
Respaldo ao sistema na região, de 57%, é o maior desde 1997, mostra Latinobarómetro; crise global pode abalar confiança
Apesar de 53% dizerem que aceitariam ditadura caso ela melhorasse economia, instituto chileno não vê risco de recaída autoritária
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
A América Latina reflete a
bonança econômica dos últimos cinco anos -combinada a
um processo de relegitimação
da política- em índices de
apoio à democracia e bom humor: 57% da população da região acha que o regime democrático é o melhor, contabilizadas as imperfeições, e nada menos do que 71% se dizem felizes.
Essa é a fotografia geral dos
países do subcontinente captada pela ONG chilena Latinobarómetro, clicada enquanto a
crise nos EUA ainda começava
a se aprofundar, praticamente
decretando o fim de um ciclo
tão positivo. Foram feitas
20.204 entrevistas entre 1º de
setembro e 11 de outubro, numa amostra dos mais de 500
milhões de latino-americanos.
É o 13º ano da pesquisa, e o
apoio à democracia só perde
para o índice de 1997 -outro
momento de ascensão econômica-, quando alcançou 63%.
Em relação a 2007, o respaldo à
democracia avançou três pontos percentuais.
Não é novidade a vinculação
entre democracia e economia
na região. O ponto mais baixo
do apoio na série é em 2001,
ainda sob impacto da crise asiática. Os números mostram que
tempos de vacas magras causam mais dano à taxa pró-democracia do que o ciclo de bonança é capaz de impulsioná-la,
daí a preocupação da diretora
do Latinobarómetro, Marta Lagos, com o cenário vindouro.
"A pesquisa mostra que a população não está de nenhuma
forma informada sobre a crise.
É preciso que ela saiba que o
mundo está entrando em recessão, que pode ser prolongada. É dever dos líderes informar", disse ela à Folha.
Além da economia
O casamento entre humor
econômico e democracia também fica claro quando 53% do
subcontinente respondeu que
toparia viver sob uma ditadura
caso ela fosse capaz de resolver
os problemas econômicos.
Mas o próprio Latinobarómetro minimiza previsões de
solavancos nos regimes democráticos quando a queda no
preço das commodities, petróleo incluído, esvaziar para valer
os caixas governamentais.
O instituto diz que o amadurecimento democrático representa "de maneira simultânea a
consolidação da democracia
social, política e econômica".
É a combinação desses fatores que explica, por exemplo, o
salto do Paraguai em todos os
rankings após a eleição do bispo esquerdista Fernando Lugo,
depois de 61 anos de regime
conservador. Num dos países
mais pobres da região, o apoio à
democracia avançou 20 pontos
percentuais entre 2007 e 2008.
São otimistas: 78% acham que
2009 vai ser melhor.
Num dos pontos mais baixos
da lista está o Peru -8% de
avanço do PIB no período-,
onde só 45% apóiam a democracia, mostrando que importa
a sensação de distribuição do
bolo. Só 8% acham que o governo Alan García "é para o bem de
todos" e 22% acham que o país
vai melhorar em 2009.
Assim caminha
Para reforçar a tese de que,
apesar dos 53% que dizem que
tolerariam uma ditadura, a região não sofre risco de regressão autoritária, o Latinobarómetro lembra que, em situações reais onde os países poderiam ter se inclinado a essas soluções, como na Bolívia, vingou
a opção democrática.
As populações veriam a instabilidade política em países
como Bolívia e Equador como
sinal de mobilidade do sistema
e um passo até "sociedades
mais democráticas".
A fé de que o voto pode mudar as coisas move 59% dos latino-americanos e retrata o momento das democracias na Venezuela e no Chile. Apesar do
hiperpresidencialismo chavista, 80% dos venezuelanos
acham isso. "A Venezuela vive
um momento de definição, em
especial depois do referendo da
Constituição [que Chávez perdeu]. O país apóia a democracia, mas está divido sobre qual
democracia quer", diz Lagos.
Já o Chile, com o desgaste de
18 anos de governo de centro-esquerda, é o campeão no índice dos que dizem que não é possível gerar mudanças: 27%. "A
situaçã no Chile pode favorecer
a oposição no ano que vem, mas
a crise é mais profunda. É de representação. Um em cada cinco
chilenos não foi votar nas eleições municipais em outubro. É
o índice mais baixo desde a volta de democracia", completa.
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