São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2008

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Restrepo será enviado dos EUA à América Latina

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O presidente eleito dos EUA, Barack Obama, recriará o cargo de enviado especial para a América Latina, à imagem dos que existem tratando-se de regiões importantes -caso do Oriente Médio. É um ponto a mais na escala diplomática.
Já se sabe inclusive que há um favorito para ocupá-lo, Dan Restrepo, 37, filho americano de pai colombiano e mãe espanhola. Restrepo é um dos diretores do Center for American Progress, que se mostra influente sobre Obama. Seu presidente, John Podesta, é o chefe da equipe de transição montada pelo presidente eleito.
O Center for American Progress é liberal, no sentido americano do termo, e se contrapõe aos think-tanks (institutos) neoconservadores, como a Heritage Foundation e o American Enterprise Institute, que assumiram a linha de frente na era Bush.
O centro de Restrepo tem forte presença de gente ligada a Bill Clinton -o próprio Podesta foi chefe de gabinete, um misto de chefe de equipe com chefe da Casa Civil, do ex-presidente. Restrepo cuida de projetos relacionados com as Américas, o que envolve inclusive as relações dos Estados Unidos com Cuba. Foi "autor intelectual", segundo a "Latin American Newsletter", do principal discurso de Obama sobre a América Latina, feito em Miami em 23 de maio.
Antes de ingressar no Center for American Progress, Restrepo integrou a equipe democrata da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Atuou na transição no Haiti, que recuperou, bem ou mal, as regras democráticas, e no complicado processo de consolidação da paz na América Central -tarefa delicada de dar um jeito nos trágicos destroços produzidos pelo governo Reagan (1981-89).
O curioso é que a maioria dos latino-americano parece (ou ao menos parecia) não esperar muita coisa de Obama. Pesquisa feita pelo Latinobarómetro na região ainda durante a campanha eleitoral americana constatou que cerca de 60% dos consultados, entre nós, não viam nenhuma diferença entre os dois candidatos, em se tratando de relações com a América Latina.
Obama ainda conseguiu magros 29% como o mais conveniente para a região -o republicano John McCain ficou com 8%.
A expectativa é pelo que Obama apresentará "de concreto" na Cúpula das Américas em abril de 2009. É considerado de pouca valia, do ponto de vista latino-americano, segundo a "Latin American Newsletter", o documento de 13 páginas do Partido Democrata falando vagamente de um "nova parceria das Américas".
Talvez maior sensibilidade em relação à pobreza, o que não é dom de George W. Bush, com um discurso de "avanço da democracia com segurança e oportunidade para os de baixo". Mas há risco de muita retórica e pouca ação, mesmo com um enviado especial em campo.


O jornalista NEWTON CARLOS é especialista em assuntos internacionais


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