|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Insegurança pressiona governos latinos
À diferença de índices sociais, violência piora; com 8% da população, América Latina tem 33% dos homicídios do mundo
Da Argentina à Venezuela, desempenho na área é desaprovado; delinquência é considerada o principal problema nesses países
FLÁVIA MARREIRO
THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL
Na contramão da reativação
econômica e da redução da pobreza na última década, os índices de violência na América do
Sul não cederam ou pioraram.
A insegurança crescente contamina a agenda política da região, colocando os governos de
centro-esquerda contra as cordas e dando fôlego às oposições.
Da Argentina ao Equador e
também na Venezuela, a insegurança já supera os problemas
econômicos como a principal
preocupação da população.
Os números são eloquentes:
com apenas 8% da população
mundial, a América Latina e o
Caribe respondem por um terço dos homicídios e mais de
50% dos sequestros mundiais.
Nos oito países da América
do Sul (Argentina, Brasil, Chile,
Colômbia, Equador, Paraguai,
Uruguai e Venezuela) com dados disponíveis, a taxa de homicídios cresceu, em média, 34%
de 1994 a 2005.
O fenômeno tem reflexos
eleitorais. No Chile, na Bolívia e
no Uruguai, que elegem presidentes neste ano, é bandeira da
oposição de centro-direita contra candidatos governistas.
Mas por que a segurança ficou para trás? Para Paula Miraglia, diretora-executiva do Ilanud (divisão da ONU para prevenção de delitos na região), é
preciso primeiro dissociar "cuidadosamente" a violência dos
fatores estruturais vinculados a
ela e encarar suas causas múltiplas. A disseminação de uma
nova droga -como o crack e similares em Buenos Aires ou no
Rio- tem de ser considerada
como fator, por exemplo.
Não há diagnósticos precisos
da questão, e a tradição militar-repressiva da região é farol quase exclusivo das políticas. Some-se ao quadro a dificuldade
dos governos de esquerda com
o tema. "O fato de as esquerdas
considerarem esse um tema da
direita provocou um vácuo",
continua Miraglia.
A falta de conexão entre a política de segurança local e uma
estratégia integrada regional
também alenta o fracasso. "Como criar cooperação para enfrentar o narcotráfico quando
estão discutindo política militar?", questiona ela.
Medo e celebridades
Na Argentina, a insegurança
ajudou a construir a pior derrota do casal Cristina e Néstor
Kirchner. Com popularidade
em baixa, a presidente apostou
na candidatura a deputado do
antecessor Néstor nas eleições
legislativas de junho. Ele foi
eleito, mas perdeu para o dissidente Francisco De Narváez.
"Ele capitalizou o silêncio
oficial sobre a violência. Seu
slogan, "a segurança se faz", alude à inação do governo", diz o
analista Patricio Giusto.
O caso de um ex-jogador de
futebol baleado durante assalto
reavivou o tema no país. Enquanto o governo fala em "sensação de insegurança" alimentada pela mídia, estrelas da TV
saíram a criticar a violência.
"As pessoas estão fartas de que
os políticos neguem a realidade", disse a popular apresentadora Mirtha Legrand.
Paraguai e Equador
Um crime isolado também
foi o estopim de uma nova onda
de pressão sobre o presidente
do Paraguai, Fernando Lugo. O
sequestro do fazendeiro Fidel
Zavala, há um mês, atribuído a
um grupo guerrilheiro de esquerda, reacendeu a oposição
no país, que tenta vincular Lugo a ações do grupo.
Segundo a pesquisa Barômetro Iberoamericano 2009, só
14% dos paraguaios confiam na
polícia, menor índice da região.
A gestão do presidente em segurança é aprovada por 9% (só
maior que os 4% da Argentina).
"O Paraguai está mais inseguro. Diante disso, a direita se
fortalece e vai a extremos. O futuro de Lugo depende do desfecho desse sequestro", diz o analista Alfredo Boccia.
A fatura da segurança bate à
porta de outro governo de esquerda da região. No Equador,
a Justiça aceitou denúncia contra o presidente Rafael Correa
feita por uma mulher que teve o
marido morto durante assalto
em Guayaquil. "O governo não
está dando respostas eficientes", diz Simon Pacheco, da Faculdade Latinoamericana de
Ciências Sociais.
Texto Anterior: Brasil teme que G2 obstrua ordem internacional multipolar Próximo Texto: Caracas vê alta em taxa de homicídios Índice
|