São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Todos os comerciantes se armaram"

DE BUENOS AIRES

O comerciante José Vieitez é dono de uma das poucas lojas de Ramos Mejía, na Grande Buenos Aires, que não têm grades ou chapas de aço bloqueando as portas. Em parte porque ele diz acreditar que não haverá saques. Mas Vieitez diz também que "nada segura 600 pessoas" e que pouco adiantaria "blindar" o prédio.
Dono de um mercado que foi destruído por um saque em 19 de dezembro de 2001, Vieitez diz que os saques são mais um instrumento político do que produto da fome. Leia sua entrevista à Folha.

Folha - Como o sr. reagiu aos saques no ano passado?
José Vieitez -
Não reagi. Vi que um grupo se preparava para saquear. Fechei as portas e pedi a todos os funcionários que saíssem e ficassem em lugares seguros.

Folha - Qual foi o prejuízo?
Vieitez -
Perdemos tudo. Mas tínhamos um seguro. Nem todos tiveram essa sorte. Muitos comerciantes pequenos ficaram arruinados, fecharam as portas.

Folha - Espera que ocorram saques na próxima semana?
Vieitez -
Realmente não. Os saques são, na verdade, um instrumento de luta política. O que temos de saber é se o governo vai decidir nos proteger ou não. Estamos esperando para ver.

Folha - O que quer dizer quando fala de luta política?
Vieitez -
Que as pessoas não estão passando bem, que há fome e crise todos nós sabemos. Mas passaram-se dez anos sem saques. Onde estava a fome nesses dez anos? Os últimos saques foram em 1989 e, naquela época, também caiu um presidente. Nesta vizinhança ninguém sai de casa para saquear. Chegaram ônibus, caminhões, trouxeram as pessoas aqui. Foi tudo organizado.

Folha - Acredita que isso possa voltar a ocorrer?
Vieitez -
Não. Porque estamos atentos. Mas, se houver, haverá muitas mortes. Todos os comerciantes se armaram. Os "chinos" [imigrantes orientais", que sofreram muito com os saques de 2001, estão fortemente armados.

Folha - O sr. se armou?
Vieitez -
Não. Temos dois seguranças. Vamos aumentar o número todos os dias até o final da próxima semana.



Texto Anterior: América Latina: Lojistas argentinos temem onda de saques
Próximo Texto: Panorâmica: Colômbia: Bomba fere 30 em restaurante de Bogotá
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.