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Sachs quer corporações contra a pobreza
Economista que assessora Projeto Milênio da ONU exalta globalização, mas diz temer desigualdade
FELIPE SELIGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A pobreza mundial só acabará se houver comprometimento das grandes corporações,
alertou o economista americano Jeffrey Sachs em São Paulo,
onde fez palestra nesta semana
sobre responsabilidade social
corporativa para empresários
de multinacionais.
"A globalização é fundamental para que a pobreza extrema
seja extinta. E vocês, empresas,
são os principais agentes da
globalização", disse Sachs, que
criticou movimentos como o
Fórum Social Mundial.
"Eles acham que as corporações prejudicam o mundo, mas
tente então viver sem elas."
O economista advertiu, entretanto, que não é sustentável
para as corporações atuarem
em um mundo com desigualdade social. "Para exercer um
bom papel, vocês devem se perguntar se estão fazendo algo de
útil para a sociedade, se estão
oferecendo bolsas de estudos
para pessoas pobres, se estão
montando departamentos de
tecnologia em faculdades de
engenharia."
Sachs foi apontado pela revista "Times" nos últimos dois
anos como uma das cem pessoas mais influentes do mundo.
Ele desenhou a polêmica terapia de choque na transição russa para o capitalismo e hoje, depois de deixar o Centro para o
Desenvolvimento Internacional da Universidade Harvard, é
professor e diretor do Earth
Institute, na Universidade Columbia, em Nova York.
Sachs é conselheiro especial
do secretário-geral das Nações
Unidas. Seu instituto é um dos
parceiros da ONU no Projeto
do Milênio, que estipulou, em
2000, oito objetivos a serem
cumpridos até 2015.
Entre eles, reduzir a fome e a
pobreza pela metade, de acordo
com os índices de 1992, é o
principal.
Mosquiteiros
O projeto Millennium Villages, fruto dessa parceria, forneceu, nos últimos cinco anos,
tecnologia para que 78 vilarejos
africanos se desenvolvessem.
Para isso, é investido o equivalente a R$ 236,5 por pessoa por
ano, dos quais R$ 150,5 provenientes de doações governamentais e corporativas.
Segundo os responsáveis pelo projeto, aumentou a produção de alimentos, foram distribuídos mosquiteiros para a
prevenção de malária e garantiu-se o acesso da população local a medicamentos básicos.
Mas habitantes de estimados
100 mil outros vilarejos continuam a viver na miséria.
"As pessoas estão doentes,
famintas e isoladas demais para
atingir desenvolvimento econômico, e, se tratarmos essa situação como apenas outra relacionada à estabilização, liberalização e privatização, como
nos últimos 20 anos, continuaremos a ter mais desastres e
mais fracassos", disse Sachs.
Ao apresentar conceitos de
seu último livro, "O Fim da Pobreza", o economista disse que
"esta geração pode fazer com
que a fome vire assunto para livros de história", e apontou a
educação e a tecnologia como
os principais motores para a erradicação da pobreza.
Ele disse que o Brasil será um
dos grandes líderes do século
21, mas recomendou cuidado.
"Haverá muito comércio entre a China e o Brasil, pois a
China precisa de produtos naturais e pode encontrar o que
precisa aqui. Mas se o Brasil
deixar que as leis do mercado
controlem suas negociações, isso pode significar o fim da floresta amazônica, o que seria
um desastre para o mundo."
Só em 2003 o país asiático
absorveu 40% do cimento, 30%
do carvão e do aço e 25% do alumínio e do cobre produzidos no
mundo.
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