São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

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Sachs quer corporações contra a pobreza

Economista que assessora Projeto Milênio da ONU exalta globalização, mas diz temer desigualdade

FELIPE SELIGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A pobreza mundial só acabará se houver comprometimento das grandes corporações, alertou o economista americano Jeffrey Sachs em São Paulo, onde fez palestra nesta semana sobre responsabilidade social corporativa para empresários de multinacionais.
"A globalização é fundamental para que a pobreza extrema seja extinta. E vocês, empresas, são os principais agentes da globalização", disse Sachs, que criticou movimentos como o Fórum Social Mundial.
"Eles acham que as corporações prejudicam o mundo, mas tente então viver sem elas."
O economista advertiu, entretanto, que não é sustentável para as corporações atuarem em um mundo com desigualdade social. "Para exercer um bom papel, vocês devem se perguntar se estão fazendo algo de útil para a sociedade, se estão oferecendo bolsas de estudos para pessoas pobres, se estão montando departamentos de tecnologia em faculdades de engenharia."
Sachs foi apontado pela revista "Times" nos últimos dois anos como uma das cem pessoas mais influentes do mundo. Ele desenhou a polêmica terapia de choque na transição russa para o capitalismo e hoje, depois de deixar o Centro para o Desenvolvimento Internacional da Universidade Harvard, é professor e diretor do Earth Institute, na Universidade Columbia, em Nova York.
Sachs é conselheiro especial do secretário-geral das Nações Unidas. Seu instituto é um dos parceiros da ONU no Projeto do Milênio, que estipulou, em 2000, oito objetivos a serem cumpridos até 2015.
Entre eles, reduzir a fome e a pobreza pela metade, de acordo com os índices de 1992, é o principal.

Mosquiteiros
O projeto Millennium Villages, fruto dessa parceria, forneceu, nos últimos cinco anos, tecnologia para que 78 vilarejos africanos se desenvolvessem. Para isso, é investido o equivalente a R$ 236,5 por pessoa por ano, dos quais R$ 150,5 provenientes de doações governamentais e corporativas.
Segundo os responsáveis pelo projeto, aumentou a produção de alimentos, foram distribuídos mosquiteiros para a prevenção de malária e garantiu-se o acesso da população local a medicamentos básicos. Mas habitantes de estimados 100 mil outros vilarejos continuam a viver na miséria.
"As pessoas estão doentes, famintas e isoladas demais para atingir desenvolvimento econômico, e, se tratarmos essa situação como apenas outra relacionada à estabilização, liberalização e privatização, como nos últimos 20 anos, continuaremos a ter mais desastres e mais fracassos", disse Sachs.
Ao apresentar conceitos de seu último livro, "O Fim da Pobreza", o economista disse que "esta geração pode fazer com que a fome vire assunto para livros de história", e apontou a educação e a tecnologia como os principais motores para a erradicação da pobreza.
Ele disse que o Brasil será um dos grandes líderes do século 21, mas recomendou cuidado.
"Haverá muito comércio entre a China e o Brasil, pois a China precisa de produtos naturais e pode encontrar o que precisa aqui. Mas se o Brasil deixar que as leis do mercado controlem suas negociações, isso pode significar o fim da floresta amazônica, o que seria um desastre para o mundo."
Só em 2003 o país asiático absorveu 40% do cimento, 30% do carvão e do aço e 25% do alumínio e do cobre produzidos no mundo.


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