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Presidente do México encerra o ano em alta
Combate ao narcotráfico e fraqueza da esquerda dão popularidade a Calderón
Conservador aprovou reformas importantes no início de mandato, mas deve enfrentar desgaste político e economia descendente
ADAM THOMSON
DO "FINANCIAL TIMES"
Pouco mais de um ano atrás,
o assunto de conversa mais popular entre os tagarelas do México não era o desempenho que
Felipe Calderón, então recém-eleito presidente do país, poderia apresentar, mas quanto
tempo ele duraria no cargo.
A esquerda, liderada pelo carismático Andrés Manuel López Obrador, derrotado nas
eleições por Calderón, insistia
em que a vitória eleitoral conquistada por ele em julho era
fruto de fraudes.
Em uma grande manifestação no Zócalo, a praça principal
da capital mexicana, López
Obrador se proclamou "legítimo presidente" do México
diante de centenas de milhares
de partidários e prometeu que
tornaria impossível a vida de
seu adversário. Hoje, a maioria
dessas ameaças se dissipou.
López Obrador praticamente
desapareceu do cenário político, os índices de popularidade
de Calderón atingiram a mais
que respeitável marca dos 60%
e seu governo conseguiu aprovar três reformas significativas
em 12 meses -consideravelmente mais do que o governo
anterior, de Vicente Fox, havia
conseguido em seis anos.
"Calderón foi muito além das
expectativas", admite Rogelio
Ramirez de la O, economista
cotado para o Ministério das
Finanças caso López Obrador
tivesse vencido.
Segredo do sucesso
Boa parte desse sucesso se
baseia na decisão de Calderón
de declarar guerra contra o crime organizado, ainda em sua
primeira semana de mandato.
Nos últimos anos, em parte
como resultado do fechamento
pelos EUA de rotas de tráfico
via Caribe, o México se transformou em importante ponto
de trânsito para a cocaína e outros narcóticos. Mas o comércio de drogas fez crescer a violência, devido às disputas entre
os diversos cartéis pelo controle do negócio. Como declarou
Calderón recentemente, "a
maior ameaça ao futuro do país
são a insegurança e o crime organizado".
Diante desse cenário, sua decisão de enviar milhares de policiais e soldados para retomar
territórios controlados pelos
cartéis foi recebida positivamente pela população mexicana, que se sentia vulnerável e
sob ataque.
O outro elemento que ajudou
Calderón a consolidar o poder
em seu primeiro ano como presidente foi a incapacidade da
esquerda para explorar o forte
desempenho eleitoral que obteve no ano passado.
Embora o Partido da Revolução Democrática (PRD), de López Obrador, seja hoje a segunda maior força no Congresso
mexicano, terminou quase excluído das deliberações pelo
Partido de Ação Nacional
(PAN), de Calderón, e pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI), a terceira maior força
no Legislativo.
Quanto a López Obrador,
uma viagem exaustiva por diversas cidades do país mal
atraiu cobertura da mídia e serviu apenas para isolar o candidato derrotado do cenário político, tornando-o "um exilado
na selva", diz Alejandro Hope,
analista da GEA, uma consultoria da Cidade do México.
De fato, alguns analistas políticos consideram que os sucessos de Calderón foram tão
grandes em seus 12 primeiros
meses de mandato que até mesmo suas derrotas terminaram
transformadas em vitórias.
Nas eleições para o governo
do Estado de Tabasco, no sul do
país, a vitória do PRI sobre o
PAN gerou boa vontade suficiente entre os líderes e a base
do partido para que decidissem
apoiar no Congresso a reforma
tributária de Calderón.
"Sem aquela vitória, é difícil
imaginar que a reforma tributária pudesse ter sobrevivido
na forma como sobreviveu", diz
Jorge Zepeda, analista político
na Cidade do México.
Dificuldades à frente
A despeito do inesperado sucesso de Calderón, Hope e outros acreditam que os próximos
12 meses possam apresentar
resultado diferente.
Um motivo, argumenta Hope, é o simples desgaste político. A dificuldade de obter resultados positivos claros na guerra
contra as drogas, combinada à
dificuldade de sustentar níveis
elevados de popularidade que
qualquer político no poder precisa enfrentar, já começa a se
refletir nas pesquisas.
De acordo com a GEA, a popularidade de Calderón caiu de
69% em junho para 60% hoje.
"Os números continuam bons,
mas a tendência de queda é clara", diz Hope.
Dan Lund, analista político
na Cidade do México, vai além.
Ele argumenta que, além da
guerra contra as drogas, falta a
Calderón uma agenda política
definida, para além de seu esforço de ampliar a base de poder de seu partido nas eleições
legislativas de 2009.
Enquanto isso, o crescimento econômico vem decepcionando e os impedimentos a
medidas de estímulo a esse
crescimento, exemplificados
pela ação dos poderosos monopólios empresariais mexicanos,
continuam firmes.
"Calderón evitou tomar decisões difíceis sobre a transformação do México", diz Lund.
O segundo motivo para que o
próximo ano de mandato se
prove mais difícil é que Calderón certamente terá de enfrentar a delicada questão da reforma energética, sobre a qual
existe ainda menos consenso
político do que sobre as reformas aprovadas neste ano.
As receitas petroleiras ganharam importância nos últimos anos e hoje respondem por
quase 40% da arrecadação total
do governo. Mas a produção está caindo devido ao baixo investimento da estatal petroleira
Pemex em prospecção e devido
a uma proibição constitucional
a contratos de associação entre
a estatal e empresas privadas.
Não é segredo que Calderón
gostaria de dar mais flexibilidade à Pemex para envolver empresas privadas no processo de
prospecção com riscos compartilhados, mas ele precisaria
do apoio do PRI para fazê-lo.
No entanto o PRI obteve uma
série de vitórias eleitorais no
ano, e isso tornou o partido
mais confiante e elevou o preço
que pede pela cooperação com
as reformas estruturais.
O resultado geral quase certamente será um ano difícil para Calderón e sua equipe. Como
define Hope: "A lua-de-mel definitivamente acabou".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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