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Nova geração muda política sul-coreana
Após 20 anos de liderança de esquerda, jovens eleitores dão peso maior à economia na eleição presidencial do dia 19
Analistas temem que desemprego e busca por novidade ajudem a eleger candidato que ameace conquistas democráticas
ANNA FIFIELD
DO "FINANCIAL TIMES"
Há 20 anos, uma geração de
estudantes universitários determinados realizou seu sonho
de levar a democracia à Coréia
do Sul, após uma luta longa e
sangrenta contra os governantes militares.
Conhecida como a "geração
386" -porque seus integrantes
estão na casa dos 30 anos, concluíram seus estudos nos anos
1980 e nasceram na década de
1960-, esse mesmo grupo
uniu-se há cinco anos em torno
do candidato presidencial independente que esperava fosse
reforçar os princípios democráticos na Coréia do Sul.
Hoje, porém, muitos de seus
integrantes estão desiludidos.
O candidato que eles apoiaram,
Roh Moo-hyun, revelou-se um
presidente demasiado centrista para o gosto de muitos da geração 386 e radical demais para
a maioria da população.
Após dez anos de governo de
Roh e seu antecessor progressista, Kim Dae-jung, há indícios
de que a Coréia do Sul possa
voltar atrás no tempo, optando
por um presidente à moda antiga na eleição da próxima semana. O candidato mais bem situado nas pesquisas de opinião,
Lee Myung-bak, foi prefeito de
Seul e é presidente de uma
construtora. Membro do conservador Grande Partido Nacional, ele prometeu dinamizar
a economia sul-coreana e ostenta uma vantagem de 20 pontos percentuais nas pesquisas
sobre Chung Don-young, aliado ideológico de Roh.
Boa parte da popularidade de
Lee se deve ao fato de ele ser tão
diferente de Roh que, como
"outsider" político, representou de certo modo um experimento para os eleitores da Coréia do Sul.
"Na última eleição, as forças
progressistas apoiaram Roh
Moo-hyun, mas hoje elas se
sentem traídas pela política dele e pela maneira como ele às
vezes procurou agradar às forças mais conservadoras na sociedade sul-coreana", disse
Choi Jang-jip, renomado cientista político e especialista em
democracia que assessorou o
ex-presidente Kim Dae-jung.
As pesquisas indicam que a
ideologia e a idade, dois fatores-chave que ajudaram a conduzir
Roh à Casa Azul em 2002, terão
peso menor desta vez, enquanto os padrões históricos de voto
regional continuam fortes.
Além disso, os eleitores sul-coreanos parecem estar menos
interessados nesta eleição que
em pleitos anteriores: uma pesquisa conduzida por autoridades eleitorais com 1.500 pessoas constatou que apenas 67%
delas pretendem ir às urnas. É
um índice muito baixo, após os
71% constatados em 2002, um
recorde em termos de pouca
participação dos eleitores.
Algo novo
A esquerda sul-coreana atribuiu sua impopularidade a um
simples desejo por mudanças.
"Depois de dois governos progressistas, as pessoas estão fartas... E talvez achem que ficamos arrogantes e desunidos",
disse o deputado Yoo In-tae, do
Novo Partido Democrático
Unido, de Chung Dong-young.
"Acho que muitas coisas mudaram para melhor, mas as pessoas tendem a enxergar as
transformações positivas como
algo garantido e a esperar sempre mais."
Muitos analistas políticos temem que, dando vazão a esse
desejo por algo novo, os sul-coreanos possam acabar jogando
fora o que ainda resta de uma
democracia incipiente. "Hoje
as pessoas pensam que a economia é a coisa mais importante e que precisamos de um líder
forte em economia. Por isso, estão dispostas a sacrificar o desenvolvimento democrático, se
isso levar a uma economia melhor", ponderou Mo Jong-ryn,
da Universidade Yonsei.
Desde a introdução da democracia, em 1987, a sociedade
sul-coreana passou por transformações aceleradas, e os últimos cinco anos foram marcados por melhoras significativas
na independência institucional. Roh libertou do controle do
Executivo vários órgãos e setores governamentais, como o
Serviço Nacional de Impostos,
o Ministério Público e o Judiciário. Mas os partidos políticos
continuam a ascender e cair segundo a popularidade de seus
líderes, muito mais que pela
convicção que a população sente em suas posturas políticas
-e por essa razão, segundo
Choi, a democracia sul-coreana
"ainda é muito subdesenvolvida; enquanto o sistema partidário é extremamente caótico".
Mo disse que a qualidade do
discurso público na Coréia do
Sul precisa melhorar e que o
país precisa instituir mais
"freios e incentivos" para que
se possa cobrar responsabilidade do presidente.
"Geração US$ 950"
Park Kyung-he manifesta
pouco interesse na eleição presidencial sul-coreana do próximo dia 19. Ela pretende votar
em Moon Kook-hyun -candidato progressista cujo índice de
intenção de voto, segundo as
pesquisas, é inferior a 10%-
simplesmente porque não gosta de nenhum dos candidatos
principais. "Nenhum dos outros candidatos me parece
bom", disse a jovem de 25 anos,
assistente social formada mas
que trabalha como secretária
num órgão de desenvolvimento do governo.
Park e seus pares estão emergindo nesta eleição como força
política imprevisível. Do mesmo modo que a geração 386
emergiu como bloco poderoso
na última eleição, os cientistas
políticos agora analisam a chamada "geração US$ 950": a geração de jovens na casa dos 20
anos que vem tendo dificuldade em encontrar trabalho desde a crise financeira asiática.
Enquanto os membros da geração 386 conseguiam encontrar empregos sólidos em praticamente qualquer empresa que
quisessem, depois de formados,
hoje os jovens na casa dos 20
anos são obrigados, cada vez
mais, a trabalhar em regime de
meio período ou em empregos
temporários, freqüentemente
por salários muito baixos.
O desemprego entre os jovens é um problema sério, e a
imensa maioria dos jovens na
casa dos 20 anos trabalha, como Park, com contratos de curto prazo e poucos benefícios.
Ninguém sabe como esses jovens votarão nesta eleição, mas
alguns cientistas políticos
apostam que, diferentemente
de seus predecessores progressistas, eles possam enxergar a
política econômica como o fator mais importante a levar em
conta. "Depois de me formar na
universidade, em 2006, tentei
por um ano encontrar trabalho
numa grande empresa, mas
não consegui ser contratada",
disse Park, que ganha cerca de
US$ 1.000 mensais num emprego que vai acabar em 2008.
"O problema não se resume
ao dinheiro", disse ela. "Quero
receber da empresa um tratamento igual ao que é dado aos
funcionários contratados."
Tradução de CLARA ALLAIN
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