São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pivô de crise, Odebrecht saúda cúpula e pede "integração"

Problemas em obra de empreiteira levaram Quito a buscar cancelar dívida com Brasil

Empresa espalha cartazes no caminho para resort baiano que recebe a partir de hoje líderes regionais em meio a contenciosos

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL À COSTA DO SAUÍPE

É uma ironia: uma seqüência de cartazes defendendo a "integração" (da América Latina) surge ao longo dos 70 quilômetros que separam o aeroporto Luiz Eduardo Magalhães, em Salvador, da Costa do Sauípe, o complexo de lazer que será o QG, a partir de hoje, de um conjunto de quatro cúpulas, envolvendo no total 33 países latino-americanos e caribenhos.
Onde está a ironia, se 11 de cada 10 discursos de governantes latino-americanos e caribenhos pregam justamente a integração? Simples: quem assina os cartazes é a empresa Odebrecht, justamente o pivô de um processo que põe em risco a integração, ao ter provocado o primeiro conflito entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um parceiro da integração, o Equador.
A Odebrecht construiu uma hidrelétrica que apresentou sérios problemas, foi proibida de atuar no Equador e, indiretamente, está na raiz de uma auditoria internacional solicitada pelo presidente Rafael Correa na qual ele discute parte da dívida externa equatoriana, inclusive US$ 243 milhões financiados pelo BNDES para a obra da Odebrecht.
Correa não vai fazer de carro, mas de helicóptero, o trajeto do aeroporto à Costa do Sauípe. Se o fizesse, leria nos cartazes o que parece uma alusão direta ao incidente. Sob o título "Integração" (em espanhol em alguns outdoors, em português nos outros, intercalados), o texto diz: "Existem coisas que só se constróem em conjunto".
Termina com uma saudação: "Bem-vindos (ou "bienvenidos) à terra onde nasceu a Odebrecht", a Bahia, seu berço.
Não é, em todo caso, uma coincidência capaz de divertir as autoridades brasileiras, empenhadas firmemente em evitar que as cúpulas sejam envenenadas pelo conflito com o Equador.
Ainda mais que o presidente Lula, uma de cujas características é conseguir anestesiar divergências quando faz contato direto com o governante em conflito, desta vez fracassou com Correa. No telefonema que trocaram logo após a convocação do embaixador do Brasil em Quito, "para consultas", os dois disseram, de fato, a mesma coisa: não se deveria politizar uma divergência que é de cunho comercial.
Mas Lula acusou Correa de politização, e o equatoriano devolveu a acusação.


Texto Anterior: Turcomenistão elege novos legisladores
Próximo Texto: Uruguai ameaça deixar a Unasul se Kirchner for secretário
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.