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Pivô de crise, Odebrecht saúda cúpula e pede "integração"
Problemas em obra de empreiteira levaram Quito a buscar cancelar dívida com Brasil
Empresa espalha cartazes no caminho para resort baiano que recebe a partir de hoje líderes regionais
em meio a contenciosos
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL À COSTA DO SAUÍPE
É uma ironia: uma seqüência
de cartazes defendendo a "integração" (da América Latina)
surge ao longo dos 70 quilômetros que separam o aeroporto
Luiz Eduardo Magalhães, em
Salvador, da Costa do Sauípe, o
complexo de lazer que será o
QG, a partir de hoje, de um conjunto de quatro cúpulas, envolvendo no total 33 países latino-americanos e caribenhos.
Onde está a ironia, se 11 de
cada 10 discursos de governantes latino-americanos e caribenhos pregam justamente a integração? Simples: quem assina os cartazes é a empresa Odebrecht, justamente o pivô de
um processo que põe em risco a
integração, ao ter provocado o
primeiro conflito entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um parceiro
da integração, o Equador.
A Odebrecht construiu uma
hidrelétrica que apresentou sérios problemas, foi proibida de
atuar no Equador e, indiretamente, está na raiz de uma auditoria internacional solicitada
pelo presidente Rafael Correa
na qual ele discute parte da dívida externa equatoriana, inclusive US$ 243 milhões financiados pelo BNDES para a obra
da Odebrecht.
Correa não vai fazer de carro,
mas de helicóptero, o trajeto do
aeroporto à Costa do Sauípe. Se
o fizesse, leria nos cartazes o
que parece uma alusão direta
ao incidente. Sob o título "Integração" (em espanhol em alguns outdoors, em português
nos outros, intercalados), o texto diz: "Existem coisas que só se
constróem em conjunto".
Termina com uma saudação:
"Bem-vindos (ou "bienvenidos) à terra onde nasceu a Odebrecht", a Bahia, seu berço.
Não é, em todo caso, uma
coincidência capaz de divertir
as autoridades brasileiras, empenhadas firmemente em evitar que as cúpulas sejam envenenadas pelo conflito com o
Equador.
Ainda mais que o presidente
Lula, uma de cujas características é conseguir anestesiar divergências quando faz contato
direto com o governante em
conflito, desta vez fracassou
com Correa. No telefonema
que trocaram logo após a convocação do embaixador do Brasil em Quito, "para consultas",
os dois disseram, de fato, a mesma coisa: não se deveria politizar uma divergência que é de
cunho comercial.
Mas Lula acusou Correa de
politização, e o equatoriano devolveu a acusação.
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