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Bachelet põe ministra na campanha
Um dia após revés governista no 1º turno, presidente do Chile desloca colaboradora para auxiliar Frei
Estratégia da Concertação
é mostrar que captou as cobranças por mudanças, polarizar a disputa e reforçar o conceito de continuidade
THIAGO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
Um dia após perder o primeiro turno da eleição presidencial
no Chile, o governo Michelle
Bachelet entrou ontem de cabeça na disputa, deslocando
uma de suas principais ministras ao comando da campanha
do senador e ex-presidente
Eduardo Frei (1994-1999).
A transferência da ex-ministra da Secretaria Geral de Governo Carolina Tohá, 44, marca
a estratégia da Concertação
-coalizão de centro-esquerda
que governa o país há 20 anos-
rumo ao segundo turno contra
o empresário de centro-direita
Sebastián Piñera: reforçar a
ideia de continuidade, mostrar
que captou a cobrança por mudanças e polarizar a disputa.
Com 99,4% da apuração concluída, Piñera obteve 44% dos
votos válidos, contra 29,6% de
Frei, 20,1% do independente
Marco Enríquez-Ominami e
6,2% do comunista Jorge Arrate -os dois últimos egressos da
Concertação.
Filha de José Tohá, ex-ministro de Salvador Allende, presidente morto no golpe militar
de 1973, Tohá "representa a nova geração e um estilo renovado de fazer política", disse Bachelet na renúncia de sua ex-ministra e porta-voz.
Como outros setores do governo, na prática, Tohá já vinha
agindo nos bastidores da campanha -que, na reta final, incorporara a mãe de Bachelet e a
ministra da Mulher.
Ao assumir a tarefa oficialmente, apelou à "maioria progressista" em temas como direitos humanos e o conflito entre negócios e Estado -apostas
para vencer Piñera.
"Fomos democratas quando
não havia democracia, sempre
defendemos separar o serviço
público dos negócios e contudo
Piñera não vendeu uma só ação
[de suas empresas]", disse.
Já Piñera reafirmou ontem
que se desfará de suas ações -é
dono, por exemplo, de 26% da
LAN, maior empresa aérea do
Chile- antes de assumir. Disse
que a tática oficial "não é nova"
e levará o governo a uma "derrota ainda maior". "O Chile
quer uma campanha de ideias."
A falta de renovação interna
da Concertação é apontada como um dos motivos da derrota
no primeiro turno.
Para o pleito de 17 de janeiro,
o alvo de Piñera e Frei será o
eleitorado de Ominami, 36, cineasta e deputado que deixou a
Concertação em junho e construiu candidatura sem base
partidária e apelando aos descontentes.
Frei tem que elevar sua votação em 20 pontos, contra seis
de Piñera. A tarefa, contudo, é
difícil para os dois. Embora
pesquisas apontem que um terço dos eleitores de Ominami
votaria pela centro-direita, são
votos históricos da Concertação que o empresário terá que
buscar. "O eleitor de Ominami
é jovem, urbano, cansado da
Concertação e identificado
com a mudança", disse à Folha
Roberto Izikson, da consultora
Adimark Gfk.
Ominami já fechou as portas
para um acordo com Frei -disse que ele e Piñera representam o passado. "Como construiu sua candidatura na crítica
à Concertação, não poderia fazer outra coisa. Se perde Frei,
sua hipótese se comprova e ele
se torna referência na oposição
sob Piñera", afirma o analista
Mauricio Morales.
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