São Paulo, terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bachelet põe ministra na campanha

Um dia após revés governista no 1º turno, presidente do Chile desloca colaboradora para auxiliar Frei

Estratégia da Concertação é mostrar que captou as cobranças por mudanças, polarizar a disputa e reforçar o conceito de continuidade


THIAGO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

Um dia após perder o primeiro turno da eleição presidencial no Chile, o governo Michelle Bachelet entrou ontem de cabeça na disputa, deslocando uma de suas principais ministras ao comando da campanha do senador e ex-presidente Eduardo Frei (1994-1999).
A transferência da ex-ministra da Secretaria Geral de Governo Carolina Tohá, 44, marca a estratégia da Concertação -coalizão de centro-esquerda que governa o país há 20 anos- rumo ao segundo turno contra o empresário de centro-direita Sebastián Piñera: reforçar a ideia de continuidade, mostrar que captou a cobrança por mudanças e polarizar a disputa.
Com 99,4% da apuração concluída, Piñera obteve 44% dos votos válidos, contra 29,6% de Frei, 20,1% do independente Marco Enríquez-Ominami e 6,2% do comunista Jorge Arrate -os dois últimos egressos da Concertação.
Filha de José Tohá, ex-ministro de Salvador Allende, presidente morto no golpe militar de 1973, Tohá "representa a nova geração e um estilo renovado de fazer política", disse Bachelet na renúncia de sua ex-ministra e porta-voz.
Como outros setores do governo, na prática, Tohá já vinha agindo nos bastidores da campanha -que, na reta final, incorporara a mãe de Bachelet e a ministra da Mulher.
Ao assumir a tarefa oficialmente, apelou à "maioria progressista" em temas como direitos humanos e o conflito entre negócios e Estado -apostas para vencer Piñera.
"Fomos democratas quando não havia democracia, sempre defendemos separar o serviço público dos negócios e contudo Piñera não vendeu uma só ação [de suas empresas]", disse.
Já Piñera reafirmou ontem que se desfará de suas ações -é dono, por exemplo, de 26% da LAN, maior empresa aérea do Chile- antes de assumir. Disse que a tática oficial "não é nova" e levará o governo a uma "derrota ainda maior". "O Chile quer uma campanha de ideias."
A falta de renovação interna da Concertação é apontada como um dos motivos da derrota no primeiro turno.
Para o pleito de 17 de janeiro, o alvo de Piñera e Frei será o eleitorado de Ominami, 36, cineasta e deputado que deixou a Concertação em junho e construiu candidatura sem base partidária e apelando aos descontentes.
Frei tem que elevar sua votação em 20 pontos, contra seis de Piñera. A tarefa, contudo, é difícil para os dois. Embora pesquisas apontem que um terço dos eleitores de Ominami votaria pela centro-direita, são votos históricos da Concertação que o empresário terá que buscar. "O eleitor de Ominami é jovem, urbano, cansado da Concertação e identificado com a mudança", disse à Folha Roberto Izikson, da consultora Adimark Gfk.
Ominami já fechou as portas para um acordo com Frei -disse que ele e Piñera representam o passado. "Como construiu sua candidatura na crítica à Concertação, não poderia fazer outra coisa. Se perde Frei, sua hipótese se comprova e ele se torna referência na oposição sob Piñera", afirma o analista Mauricio Morales.


Texto Anterior: Tensão nuclear: Irã quer componente usado apenas em bombas, diz jornal
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.