São Paulo, quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

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Berlusconi sobrevive, e Itália ferve

Premiê escapa por pouco de ser afastado pelo Parlamento; vitória desata protestos em Roma e diversas cidades

Na capital, cerca de 100 mil pessoas foram às ruas para pedir que ele renuncie; protestos deixaram 90 feridos

GINA MARQUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ROMA

Punhos e bofetões entre os deputados dentro do Parlamento italiano, enquanto pelas ruas do centro da capital, Roma, manifestantes incendiavam carros, quebravam vitrines, lançavam bombas de fumaça e enfrentavam a pancadaria da polícia.
Esse foi o resultado dos protestos de ontem, que se iniciaram imediatamente após a decisão do Senado e da Câmara dos Deputados de votar a favor da permanência no poder do primeiro-ministro, Silvio Berlusconi.
O premiê é impopular em razão da crise econômica, de acusações de corrupção e de escândalos sexuais (participaria de orgias).
O que precipitou o voto de ontem foi a perda do apoio do partido de Gianfranco Fini, presidente da Câmara.
Enquanto o consentimento dos senadores era esperado, o governo passou apertado, com diferença de apenas três votos, na Câmara.
Dos 630 deputados, 314 votaram a favor, 311 contra Berlusconi, e dois preferiram a abstenção. A exígua aprovação não garante a governabilidade da Itália pelos próximos meses, no entanto.

ROMA, CIDADE BLINDADA
Além da capital, protestos em várias cidades italianas também pediram a renúncia.
A contestação mais violenta, no entanto, foi mesmo em Roma, provocando mais de 90 feridos e levando 41 pessoas a serem detidas.
Desde o amanhecer, a capital estava blindada por policiais por causa de uma grande passeata que reuniu estudantes, professores, empregados metalúrgicos, vítimas do terremoto de abril de 2009 em L'Aquila, e napolitanos descontentes com o problema da coleta do lixo.
Cerca de 100 mil pessoas participaram da manifestação, que começou pacificamente. O quebra-quebra iniciou-se logo após a aprovação dos deputados.
"A Itália não vivia confrontos como este desde os anos 70, quando eu era estudante. Assim que a violência começou, tive que escapar correndo", disse Chiara Lombardi, uma das manifestantes.
Berlusconi já contava com o apoio da maioria dos 333 senadores e de fato confirmou o consenso de 165, enquanto 135 votaram contra.
A votação foi decidida por alguns deputados da oposição e sobretudo por três representantes do novo partido de Fini (Futuro e Liberdade).
Eles mudaram de posição nos últimos dias e acabaram votando com o governo.
Os dissidentes foram aclamados pela coalizão de Berlusconi como salvadores da pátria e vaiados pelos partidos que se sentiram traídos.
Logo após a leitura do resultado -interpretado como uma derrota para Fini- começaram os bofetões entre os parlamentares.
O ex-magistrado Antonio di Pietro, líder do partido de centro-esquerda Itália dos Valores (IDV), denunciou também que Berlusconi comprou votos destes deputados em troca de promoções e vantagens econômicas.
Diante da exígua aprovação, o partido da Liga Norte, o principal aliado do governo, pediu que a coalizão de governo fosse ampliada para incluir legendas de centro.
Argumenta que, caso contrário, a Itália será ingovernável, e a única saída poderia ser convocar eleições antecipadas para março, interrompendo o mandato de Berlusconi, que finda em 2013.


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