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Correa assume e anuncia renegociação da dívida
Presidente convoca referendo sobre Constituinte para 18 de março e reduz seu salário
Decreto sobre a consulta popular é assinado em ato com presença de Chávez e Morales, diante de multidão que grita "fora, deputados"
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO
O economista de esquerda
Rafael Correa, 43, assumiu ontem a Presidência do Equador
enfatizando as suas duas principais promessas de campanha,
a renegociação da dívida externa e a assinatura de um decreto
convocando um referendo para
decidir sobre a eleição de uma
Assembléia Constituinte.
"O Equador é um dos cinco
países latino-americanos com
menos investimento social por
habitante. É necessário reverter essa situação, e para isso é
preciso liberar recursos de outras áreas e basicamente do peso insuportável da dívida externa", disse Correa, em discurso
no Congresso. "Por isso, faremos uma renegociação soberana e firme da dívida externa
equatoriana."
O novo presidente equatoriano propôs "uma ação coordenada dos países devedores para
redefinir o critério de sustentabilidade do serviço da dívida,
determinar a dívida externa ilegítima e promover a criação de
um Tribunal Internacional de
Arbitragem da Dívida", encarregado de determinar a proporção da dívida considerada ileg
valor da suposta dívida ilegal.
Correa também classificou
como "corrupta" a chamada Lei
de Transparência Fiscal, que limita os gastos públicos, e a autonomia do Banco Central.
"Por acaso não é corrupção a
existência de leis absurdas como a Lei de Transparência Fiscal, que limita todos os gastos
menos o serviço da dívida? Por
acaso não é corrupção a existência de bancos centrais completamente autônomos, que
não respondem a controles democráticos, mas a burocracias
internacionais?", discursou.
De acordo com o Banco Central equatoriano, a dívida externa pública do país chegava em
novembro a US$ 10,3 bilhões, o
equivalente a 25,3% do Produto Interno Bruto (PIB).
Constituinte
No final da tarde, Correa assinou um decreto convocando
um referendo no dia 18 de março para decidir sobre a realização de uma Constituinte "com
plenos poderes" para substituir
a atual Carta, promulgada há
apenas nove anos, em 1998.
O evento foi realizado diante
de milhares de simpatizantes
no monumento que marca a linha do Equador, a cerca de 20
km de Quito. Correa estava
acompanhado de seu gabinete
e dos presidentes da Bolívia,
Evo Morales, e da Venezuela,
Hugo Chávez.
Anteontem, Chávez e Morales foram os únicos presidentes
a participar da "posse indígena", realizada numa comunidade quíchua. Chávez convocou
um referendo para a Constituinte logo depois de eleito, em
1998, e na Bolívia de Morales
uma Assembléia do mesmo tipo tenta "refundar" o país com
uma nova Carta.
Refletindo as críticas ao Congresso que marcaram a campanha de Correa, o público vaiou
um trecho do decreto que prevê
que o texto será enviado ao Parlamento "para o seu conhecimento".
"Fora, deputados", "fora, deputados", gritou o público, forçando o mestre de cerimônias a
interromper momentaneamente a leitura do decreto. O
partido de Correa, Alianza Pais,
não tem deputados porque decidiu não lançar candidatos em
protesto contra a "partidocracia tradicional".
No mesmo evento, Correa
também emitiu um decreto rebaixando o seu salário.
O mandato de Correa é de
quatro anos, sem direito à reeleição. O Equador atravessa dez
anos de instabilidade política:
nenhum dos últimos três presidentes eleitos conseguiu terminar o mandato, afastados pelo
Congresso após protestos.
Correa usou duras palavras
contra o Congresso em plena
sede recém-reformada do Parlamento equatoriano. "O Congresso Nacional, supostamente
a máxima expressão da democracia representativa, não é
percebido pela cidadania como
seu representante. Pelo contrário, sua perda de credibilidade
reflete o desencanto de milhões
de homens e mulheres que anseiam por mudanças", disse o
esquerdista.
O presidente disse que seu
governo terá cinco eixos: "revolução constitucional", "luta
contra a corrupção", "revolução econômica", "revolução em
educação e saúde" e "resgate da
dignidade, soberania e busca da
integração latino-americana".
Praticamente todos os presidentes da região presenciaram
a posse, com exceção de Néstor
Kirchner (Argentina) e Tabaré
Vázquez (Uruguai).
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