São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 2007

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França quis fusão com britânicos, diz BBC

Idéia partiu em 1956 do então premiê francês, Guy Mollet; Elizabeth 2ª seria a rainha dos dois países

11.mar.1956/France Presse
Mollet (à dir.) e Eden em 1956; pelo acordo os franceses teriam o status dos norte-irlandeses


DA REDAÇÃO

Documentário levado ontem ao ar pela BBC informa que em 1956 a França fez ao Reino Unido uma proposta inesperada e insólita: a fusão entre os dois países, o que poderia transformar a rainha Elizabeth 2ª em chefe de Estado compartilhada por britânicos e franceses.
Documentos sobre a proposta estão nos Arquivos Nacionais britânicos. O episódio não foi relatado até hoje por nenhum livro de história, e os arquivos oficiais franceses, ao menos em documentos tornados públicos, não mencionam esse projeto que as duas partes hoje considerariam maluco.
As coisas começaram a acontecer em 10 de setembro de 1956, quando o primeiro-ministro francês, Guy Mollet, foi a Londres para uma conversa reservada com o premiê britânico, Anthony Eden.
Mollet, diz a BBC, tinha um carinho especial pelo Reino Unido e uma certa gratidão pelo auxílio que aquele país deu à França na Segunda Guerra.
A França enfrentava na época uma dupla dificuldade. O presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, havia nacionalizado o Canal de Suez e ainda enviava armas e munições para os guerrilheiros separatistas da Argélia, então colônia francesa.
Mollet sugeriu então a Eden uma "união" política entre os dois países. Com isso, Paris se fortaleceria para enfrentar Nasser e evitaria um confronto militar franco-britânico no Oriente Médio, onde os franceses apoiavam Israel, e os britânicos, a Jordânia, ambos num período bastante tenso.
Eden rejeitou a oferta de união política. Mas Mollet voltou pouco depois à carga e propôs o ingresso da França na Comunidade Britânica -o que, na prática, significava entregar a chefia do Estado à rainha.
Há um memorando secreto, datado de 28 de setembro de 1956, no qual Eden discute a questão com sir Norman Brook, assessor de seu gabinete. Os cidadãos franceses passariam a ter um estatuto de cidadania equivalente aos irlandeses do norte.
A oferta naufragou, mas mesmo assim, revelada meio século depois, ela provocou o espanto imenso de historiadores. Henri Soutou, da Sorbonne, disse que, se o fato tivesse vazado, Mollet seria levado aos tribunais por alta traição.
Em 1958 a França abdicou de uma parte de sua soberania ao se unir à Alemanha para a criação do Mercado Comum Europeu, ao qual o Reino Unido só iria aderir muito tempo depois.


Com agências internacionais


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