São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

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Incursão israelense em Gaza mata 18 palestinos

Entre vítimas está filho de um líder do Hamas; grupo reage lançando mísseis

Saldo de mortos é o maior desde final de 2006 e expõe dificuldade de obter acordo de paz até fim deste ano, como havia previsto Bush

Ali Ali/Efe
Militantes do Hamas carregam corpos de vítimas do ataque


SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Blindados do Exército israelense invadiram ontem o norte da faixa de Gaza, numa operação que deixou pelo menos 18 palestinos mortos, entre eles o filho de um dirigente do Hamas, grupo radical que controla o território.
A ofensiva, que resultou no dia com o maior número de palestinos mortos desde 2006, quando o Hamas assumiu o controle da faixa de Gaza após vencer as eleições legislativas, foi qualificada pela Autoridade Nacional Palestina (ANP) como um "massacre" e um "tapa na cara" do presidente americano, George W. Bush, que esteve há uma semana na região e previu um acordo de paz num prazo de um ano.
O Hamas, que rejeita as atuais negociações de paz mediadas pela Casa Branca, anunciou que 14 mortos eram integrantes das brigadas Izzedin al Qassam, seu braço armado, e que uma das vítimas é Hussam, 24, filho de Mahmud Zahar, um dos fundadores da organização. Hussam é o segundo filho de Zahar morto por Israel. Em 2003, um bombardeio contra Gaza matou seu primogênito.
Horas após a ofensiva contra Gaza, milicianos do Hamas dispararam 26 foguetes Qassam e 25 bombas contra o sul de Israel, segundo a agência de notícias Efe. Ao menos metade dos disparos atingiu a cidade israelense de Sderot, deixando 25 pessoas levemente feridas.
O presidente israelense, Shimon Peres, afirmou que as incursões militares em Gaza prosseguirão enquanto o grupo islâmico continuar disparando foguetes contra o país.
Em outro incidente na área, o voluntário equatoriano Carlos Andrés Mosquera Chávez, 20, que trabalhava numa plantação israelense de batatas, nas redondezas da fronteira de Gaza, quando foi atingido nas costas por um tiro disparado do território palestino. As brigadas Izzedin al Qassam reivindicaram o ataque.

Fragilidade
A violência registrada ontem expõe a fragilidade do atual diálogo entre os governos palestino e israelense. Fontes diplomáticas dos dois lados consultadas pela Folha se disseram pessimistas quanto à situação.
"Em 2007, foram disparados 1.500 mísseis desde Gaza contra Israel. Não pode haver paz nessas condições. Toda vez que soubermos que alguém está preparando mais um lançamento, atacaremos", afirmou um representante do governo de Israel. "A ANP não tem controle sobre Gaza nem [garantia] de que o Egito não vai entrar no território, então alguém tem que impedir os ataques contra Israel", justificou.
Para o representante interino da ANP no Brasil, Salah el Qatta, o ataque de ontem "prova que Israel não está comprometido com as negociações de paz". "Na hora que deveria haver pacificação entre as partes, o governo israelense segue levando adiante a sua política de derramamento de sangue", criticou El Qatta. "Ninguém lançaria foguetes contra Israel se houvesse um ambiente de paz."
Mais de cem palestinos teriam sido mortos por israelenses em Gaza desde que Israel e a ANP retomaram formalmente as negociações de paz, no final de novembro, com a conferência de Annapolis (EUA).
A ineficiência das atuais conversas de paz também é ressaltada pela analista Dorothée Schmid, do instituto de relações internacionais Ifri, em Paris. "O conflito se arrasta, e o ambiente de violência persiste. Os incidentes de ontem revelam a enorme defasagem entre o discurso e os fatos", disse à Folha. Segundo Schmid, seria uma "ilusão" acreditar na possibilidade de acordo de paz em um ano, como sugeriu Bush.


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