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É ilegal blindar torturador, diz Holder
Para indicado de Obama para a Justiça, simulação de afogamento é tortura e presidente não pode proteger praticantes
Em sabatina no Senado, nomeado é indagado sobre perdões polêmicos, mas poupado sobre firma ligada a mercenários na Colômbia
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Eric Holder, indicado a secretário da Justiça de Barack
Obama, afirmou ontem não ter
dúvidas de que a simulação de
afogamento é tortura e de que o
presidente não tem poder para
dar imunidade legal quem a
pratica. A fala agitou sua audiência de confirmação no Senado dos EUA, em boa parte
dedicada à guerra ao terror.
"Ninguém está acima da lei",
disse Holder, 57. A simulação
de afogamento foi usada pela
CIA para interrogar suspeitos
de terrorismo -o governo atual
não a considera tortura. Para
analistas, as afirmações de Holder abrem caminho para que os
que torturaram prisioneiros
sejam levados à Justiça.
A posição, porém, pode causar problemas para Obama. O
presidente eleito afirma que
não permitirá a tortura em seu
governo, mas até hoje se mostrou reticente quanto a processar agentes que praticaram a simulação de afogamento no último governo. Sob Bush, o ato
foi classificado sob a alcunha
eufemística de "técnica dura de
interrogatório".
Indagado sobre se os EUA estão em guerra, Holder disse que
sim -e que ela começou muito
antes do 11 de Setembro. Mas
defendeu revisões substanciais
na forma como comissões militares criadas para julgar "combatentes inimigos ilegítimos"
-status criado pelo governo
Bush para contornar as leis sobre prisioneiros de guerra- lidam com suspeitos. As comissões especiais permitem, por
exemplo, confissões obtidas
sob coerção e tortura.
O indicado também afirmou
que não se pode manter prisioneiros indefinidamente sem
julga-los, como ocorre hoje.
Sobre a prisão de Guantánamo, Holder se mostrou alinhado com Obama e disse que a
prisão definitivamente será fechada. Ele reconheceu, contudo, a dificuldade em fazê-lo.
Sombras
Apesar de a audiência ter sido mais suave do que se supunha, Holder teve de responder
a questões sobre seu passado e
admitiu que cometeu erros.
Sua atuação no perdão de
prisioneiros são um ponto crucial. O caso mais famoso é o de
Mark Rich, empresário condenado por crimes financeiros
que chegou a figurar na lista
dos mais procurados pelo FBI.
A clemência foi concedida
pelo ex-presidente Bill Clinton
(1993-2001) pouco antes de
deixar a Casa Branca. Como então vice-secretário da Justiça,
Holder emitiu parecer "neutro,
tendendo a favorável" ao perdão, o que mais tarde admitiu
ter sido um equívoco. Ele disse
ontem que estava pouco familiarizado com o caso.
Até o fim da tarde, ele havia
sido poupado de perguntas sobre clientes polêmicos na firma
de advocacia Covington & Burling, onde supostamente recebe US$ 1.000 por hora. Lá ele
defendeu por exemplo a empresa americana Chiquita, que
enfrentou acusações de pagar
grupos armados irregulares,
que atuavam como esquadrões
da morte, para proteger plantações de banana na Colômbia.
No geral, a oposição republicana se mostrou complacente.
Até o fim da tarde, nenhum senador se disse contra Holder.
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