São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

EUA enviarão 10 mil soldados para ajuda

Número supera os 7.000 militares das forças da ONU; "claramente estamos em posição de fazer mais do que os outros", diz Gates

Secretário, porém, rebate ideia de que contingente possa passar a ideia de que país esteja virando uma força de ocupação do Haiti


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O presidente Barack Obama autorizou ontem uma escalada militar no Haiti que, até segunda-feira, deixará aquele país com entre 9.000 e 10 mil soldados americanos. Isso pode dar a Washington o controle de fato das operações de resgate, auxílio e de segurança, apesar de o controle de direito ser das forças de paz da ONU, hoje com cerca de 7.000 soldados e comandadas militarmente pelo Brasil.
Segundo informou ontem o Pentágono, já estão na ilha mil soldados, vários navios da Guarda Costeira com helicópteros, o porta-aviões Carl Vinson, com 19 helicópteros, 51 leitos hospitalares, três centros cirúrgicos e capacidade de tornar potáveis centenas de milhares de litros de água por dia. Há uma companhia já em solo lidando com segurança e distribuição e, até segunda, chegam mais dois navios com helicópteros, uma força anfíbia com 2.200 fuzileiros e um navio-hospital.
O aumento da presença dos EUA tem causado atritos com os comandos militares e a diplomacia de outros países, principalmente o Brasil, e o governo Obama redobrou os esforços ontem para não alienar seus aliados num esforço que é, antes de tudo, com fins humanitários. De Obama ao secretário da Defesa, Robert Gates, passando por altos funcionários de diversos departamentos do governo, todos ressaltavam o comando da Minustah, liderada pelo Brasil, e o papel dos brasileiros.
Ontem, ao relatar a conversa que teve com o presidente do Haiti, René Préval, o americano voltou a citar o Brasil, depois de elogio feito no dia anterior. "No aeroporto, a ajuda continua a chegar, não só dos EUA, mas do Brasil, México, Canadá, França, Colômbia e a República Dominicana, entre outros", disse. "Isso sublinha o ponto que discuti com o presidente na manhã de hoje [ontem]: o mundo todo está ao lado do governo e do povo do Haiti."
Gates foi mais realista: "Nós claramente estamos em posição de fazer mais do que os outros, parte por nossa proximidade, parte por nossa capacidade, e o ponto-chave aqui será coordenar esse esforço", disse, em coletiva no Pentágono. Mais adiante, usou de diplomacia: "Mas haverá muitas outras pessoas lá também, os brasileiros têm uma presença significativa e estão fazendo muito eles próprios, então eu acho que o que importa aqui é conseguir ajuda para beneficiar o maior número de pessoas".
Indagado sobre se com tamanho contingente os EUA não seriam vistos como uma força de ocupação no país, o secretário da Defesa negou que haja essa percepção e disse que a reação dos haitianos será de alívio. "Não acho que seremos vistos assim, principalmente pelo papel que teremos em distribuir alimentos e água e ajuda médica às pessoas", disse.
Embora o Pentágono diga que, se necessário, os militares podem realizar missões de segurança, o Departamento de Estado reforçou o papel do Brasil nessas ações. Indagado sobre quem zelava pela ordem nas ruas, o porta-voz P.J. Crowley disse que era a força de paz da ONU. "O general brasileiro à frente da Minustah [Floriano Peixoto Vieira Neto] está de volta ao país, e há discussões nesse momento sobre como os militares americanos podem ajudá-lo", disse Crowley.
Obama despachou para o país também a secretária de Estado, Hillary Clinton, que chega a Porto Príncipe hoje, e Dennis McDonough, vice-assessor de Segurança Nacional do presidente, que coordenará as várias agências envolvidas nos esforços de recuperação do país. A presença dele reforça a preocupação da Casa Branca de que a crise ultrapasse os limites territoriais do Haiti.
Ontem ainda, Obama confirmou que se encontrará amanhã com dois de seus antecessores, o republicano George W. Bush (2001-2009) e o democrata Bill Clinton (1993-2001), na Casa Branca. A dupla liderará o aspecto de arrecadação de dinheiro e ações a longo prazo da comissão de auxílio ao Haiti.


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