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HAITI EM RUÍNAS
Resgatados feridos, 16 brasileiros chegam a SP
Dois militares em estado menos grave ficaram no Haiti por achar que sua condição não lhes impedia de continuar ajudando
Grupo ficará de quarentena, passará por análises clínica
e psicológica e terá alta em
quatro dias se não houver
necessidade de internação
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Passava das 13h quando militares brasileiros feridos no terremoto do Haiti começaram a
descer em fila do avião da Força
Aérea Brasileira estacionado
na Base Aérea de Cumbica.
No cortejo silencioso e solene até o ônibus que os levaria
para o hospital militar de São
Paulo, viam-se mãos imobilizadas em tipoias, um com ataduras na cabeça, outros nas pernas e pés; dois tiveram de ser
transportados em cadeiras de
rodas, como o 3º sargento Tareck Souza de Pontes (ele levava sobre as pernas uma bandeira brasileira dobrada). Também saíram do avião duas macas com soldados -tiveram de
ser levados em ambulâncias.
O grupo de 16 militares feridos foi o primeiro a voltar ao
Brasil depois do sismo. A lista
de nomes que chegou a ser distribuída aos jornalistas na Base
Aérea tinha 18 nomes. Faltavam dois -o tenente coronel
Antonio Carlos Pereira de Novaes e o fuzileiro Mario Ubiratan Ferreira. Mas eles não quiseram embarcar. Acharam que
seus ferimentos não os impediam de continuar. Ficaram no
Haiti para ajudar.
O escolhido para falar por todos os recém-chegados foi o cabo Carlos Michael Pimentel de
Almeida, 23, do 5º Batalhão de
Infantaria Leve de Lorena. No
momento do terremoto, ele era
um dos 14 militares que ocupavam o prédio conhecido como
Ponto Forte 22, ou "Casa Azul",
na capital do Haiti, Porto Príncipe. Trata-se de um local-símbolo para as tropas. Foi lá, bem
perto da entrada da favela de
Cité Soleil, que, em 2007, a força de paz da ONU, sob o comando do Brasil, derrotou em batalha grupos de traficantes que
aterrorizavam a cidade.
Com três pavimentos, sacos
de areia na entrada servindo de
barricada, ninho de metralhadoras no segundo piso e um
grande dormitório no andar superior, a "Casa Azul" conservava até agora como troféu de
guerra as centenas de marcas
de tiros que recebeu naquelas
jornadas. Tudo isso desabou.
O cabo Michael dormia na
parte mais alta de um beliche
quando a laje caiu sobre o quarto. Por sorte, bem em cima da
cama do militar, o concreto teve uma fratura. Seus colegas de
quarto foram esmagados; ele
conseguiu sair. Logo depois,
desmoronou tudo. "Pensei que
fosse um atentado, uma bomba", afirmou.
Fora, "estava tudo caindo,
gente pedindo socorro". Dos 14
homens que ocupavam a "Casa
Azul" naquele momento, só ele
e outro militar conseguiram
sair -sete teriam morrido imediatamente; os demais seriam
resgatados nos trabalhos de
busca. "Fomos cada um para
um lado, procurando por socorro, porque sozinhos não
conseguiríamos levantar os escombros para salvar os companheiros." Eles também foram
em busca de reforço para fazer
a segurança do perímetro do
batalhão. "Já estava rodeando
de haitiano, procurando fuzil
lá, querendo pegar fuzil lá. Mas
não teve como pegar nada, porque a laje soterrou tudo."
O cabo mostrou machucados
na cabeça, causados pelo desabamento da laje. Com os olhos
marejados, mas contido, ele
disse que faz questão de procurar os familiares dos amigos
que morreram para levar sua
solidariedade. "Até agora não
consegui entender o que aconteceu. Por que eu sobrevivi."
Todos os militares que voltaram do Haiti deverão cumprir
um período de quarentena, em
que receberão avaliação psicológica e clínica. Se não houver
necessidade de hospitalização,
em três ou quatro dias poderão
sair. Mas há os que precisarão
de cuidados mais demorados.
Ontem, Fabio Antonio Salvatore Pesaresi, 49, pai do cabo
Eugenio Pesaresi Neto, 21, estava "tão feliz, mas tão feliz"
("Eu achava que nunca mais ia
ver o meu filho"), que lavava o
rosto de lágrimas. "Te amo,
pai", foi a primeira coisa que o
recém-chegado disse. O cabo
Eugenio esmagou o dedo anular da mão direita. Não será dos
primeiros a sair do hospital,
porque se submeterá a uma cirurgia de reconstituição do dedo. "Ficou só no osso", ele relatou ao pai. "Tudo bem, meu filho, tudo bem. Você está aqui", tranquilizou-o o pai.
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