|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
HAITI EM RUÍNAS
Desaparecido tem carreira exitosa na ONU
Brasileiro Luiz Carlos da Costa, vice-chefe diplomático da Minustah, está soterrado sob hotel que desabou em Porto Príncipe
Ministro da Defesa diz que é "eufemismo" ainda falar em desaparecidos tantos dias depois de terremoto e dá diplomata como morto
LUIS KAWAGUTI
DO "AGORA"
Ao chegar ao Brasil, na madrugada de ontem, o ministro
da Defesa, Nelson Jobim, disse
que é um "eufemismo" ainda
falar em desaparecidos tanto
tempo depois do terremoto que
arrasou o Haiti na terça-feira.
Jobim deu como morto o vice-chefe diplomático da Minustah (missão da ONU de estabilização do Haiti), o brasileiro Luiz Carlos da Costa, embora não tenha sido encontrado
ainda seu corpo. "Ele está naquele hotel em que funcionava
a Minustah. Estão todos soterrados", declarou.
O que começou como um trabalho temporário, na Assembleia Geral da ONU de 1969,
rendeu a Costa uma carreira de
40 anos. Hoje, ele é o funcionário brasileiro de mais alto cargo
nas Nações Unidas.
Seu profundo conhecimento
das engrenagens do organismo
internacional e o sucesso na
carreira o levam a uma comparação com Sérgio Vieira de Mello, que também começou na
ONU com a mesma idade -21
anos- e morreu no Iraque, em
2003, num ataque terrorista.
"Eu era estudante e estava
nos EUA fazendo um curso.
Queria aquela sela Pariani [para equitação], liguei para casa e
pedi dinheiro para o meu pai.
Ele disse não. Então um amigo
disse para eu ir trabalhar na
ONU. Eu tinha ambição de ser
diplomata e aceitei", disse Costa à Folha em 2009.
Depois, Costa trabalhou dez
anos no departamento de conferências e mais dez no de recursos humanos da ONU. Em
1992, se transferiu para o recém-fundado Departamento
de Missões de Paz, onde serviu
no Kosovo, na Libéria e, desde
2006, no Haiti. "É uma carreira
fascinante", disse, na entrevista à Folha.
Tragédia esperada
Com perfil de diplomata habilidoso, preparado e com credibilidade, chegou ao Haiti tendo como uma tarefa resolver
divergências entre o então chefe da missão, o guatemalteco
Edmont Mulet, e o comandante militar, o general brasileiro
José Elito. A ONU pressionava
por uma ação mais forte da área
militar, e Costa serviu como
ponto de equilíbrio, na opinião
de um comandante militar que
atuou no Haiti.
Costa sabia que após os furacões que devastaram o Haiti em
2008, uma nova catástrofe
aconteceria. Acreditava, porém, que isso só aconteceria
dentro de quatro ou cinco anos
e estava esperançoso em relação ao aumento de investimentos internacionais no país. Disse à Folha acreditar que o país
conseguiria se preparar para a
próxima catástrofe e poderia se
recuperar a partir da criação de
empregos para os jovens, já que
mais de 50% da população tem
menos de 18 anos.
Texto Anterior: Clóvis Rossi: Não há olhos azuis no Haiti Próximo Texto: Governo faz ofensiva final em pleito chileno Índice
|