São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Desaparecido tem carreira exitosa na ONU

Brasileiro Luiz Carlos da Costa, vice-chefe diplomático da Minustah, está soterrado sob hotel que desabou em Porto Príncipe

Ministro da Defesa diz que é "eufemismo" ainda falar em desaparecidos tantos dias depois de terremoto e dá diplomata como morto


LUIS KAWAGUTI
DO "AGORA"

Ao chegar ao Brasil, na madrugada de ontem, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que é um "eufemismo" ainda falar em desaparecidos tanto tempo depois do terremoto que arrasou o Haiti na terça-feira.
Jobim deu como morto o vice-chefe diplomático da Minustah (missão da ONU de estabilização do Haiti), o brasileiro Luiz Carlos da Costa, embora não tenha sido encontrado ainda seu corpo. "Ele está naquele hotel em que funcionava a Minustah. Estão todos soterrados", declarou.
O que começou como um trabalho temporário, na Assembleia Geral da ONU de 1969, rendeu a Costa uma carreira de 40 anos. Hoje, ele é o funcionário brasileiro de mais alto cargo nas Nações Unidas.
Seu profundo conhecimento das engrenagens do organismo internacional e o sucesso na carreira o levam a uma comparação com Sérgio Vieira de Mello, que também começou na ONU com a mesma idade -21 anos- e morreu no Iraque, em 2003, num ataque terrorista.
"Eu era estudante e estava nos EUA fazendo um curso. Queria aquela sela Pariani [para equitação], liguei para casa e pedi dinheiro para o meu pai. Ele disse não. Então um amigo disse para eu ir trabalhar na ONU. Eu tinha ambição de ser diplomata e aceitei", disse Costa à Folha em 2009.
Depois, Costa trabalhou dez anos no departamento de conferências e mais dez no de recursos humanos da ONU. Em 1992, se transferiu para o recém-fundado Departamento de Missões de Paz, onde serviu no Kosovo, na Libéria e, desde 2006, no Haiti. "É uma carreira fascinante", disse, na entrevista à Folha.

Tragédia esperada
Com perfil de diplomata habilidoso, preparado e com credibilidade, chegou ao Haiti tendo como uma tarefa resolver divergências entre o então chefe da missão, o guatemalteco Edmont Mulet, e o comandante militar, o general brasileiro José Elito. A ONU pressionava por uma ação mais forte da área militar, e Costa serviu como ponto de equilíbrio, na opinião de um comandante militar que atuou no Haiti.
Costa sabia que após os furacões que devastaram o Haiti em 2008, uma nova catástrofe aconteceria. Acreditava, porém, que isso só aconteceria dentro de quatro ou cinco anos e estava esperançoso em relação ao aumento de investimentos internacionais no país. Disse à Folha acreditar que o país conseguiria se preparar para a próxima catástrofe e poderia se recuperar a partir da criação de empregos para os jovens, já que mais de 50% da população tem menos de 18 anos.


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