São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2011

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FOCO

Espião sedutor provoca a fúria de ativistas verdes no Reino Unido

Policial infiltrou movimento, mas logo passou a fazer investidas sexuais em colegas

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

Um cabeludo de 33 anos, tatuado e com piercings começa a frequentar encontros de militantes ecológicos onde rolam músicas, maconha e planos de ações midiáticas.
Apesar de comer carne (o que é raro no grupo), todos pensam que é mais um da turma, que tem os mesmos interesses.
Os laços de amizade e confiança se estreitam. Ajuda o fato de o sujeito parecer disposto a tudo: de participar de protestos em reuniões de líderes mundiais a invasões de poluidoras usinas termelétricas movidas a carvão.
Até que em outubro de 2010, sete anos após o primeiro encontro, se descobre que o cabeludo é um policial disfarçado, infiltrado no movimento verde para monitorar seus integrantes.
Parece ficção, mas é real, aconteceu no Reino Unido e está provocando reviravoltas em processos judiciais, pedidos de inquéritos em vários países, revisão do serviço de espionagem do governo e até pedidos de indenização feitas por mulheres que se envolveram sexualmente com o infiltrado e que agora querem ressarcimento do Estado por terem sido enganadas.
Mark Kennedy, que usava a identidade falsa de Mark Stone, se tornou policial civil em 1994, aos 24 anos.
Teve uma vida ordinária até 2003, quando foi recrutado para um serviço especial: infiltrar-se no movimento ambientalista.
Para melhor compor o personagem, deixa o cabelo crescer, faz tatuagens e adota brincos e piercings.
Se apresenta como alguém que adora escaladas e que ganha dinheiro fazendo móveis com madeira reciclada de construções.
"Confiávamos muito nele. Foi uma enorme sensação de traição saber que era um policial infiltrado", escreveu Bradley Day, ambientalista que foi próximo de Kennedy.
O falso verde atuou em protestos em 22 países, conheceu muita gente e se envolveu com várias mulheres.
"Ele dormiu com um grande número de mulheres sem que elas soubessem que era uma policial disfarçado. Muitas são minhas amigas. Há uma questão moral e também legal: quanto seus superiores sabiam disso ou encorajavam esse comportamento?", diz Jean, ambientalista francesa de 36 anos.
Anna, britânica de 26 anos que manteve relacionamento com Kennedy em 2005, se pergunta até que ponto ele não usava o sexo como tática de trabalho, para obter mais informações.
As duas não quiseram dar os nomes completos.

CAINDO A MÁSCARA
O disfarce do policial começou a cair depois de a polícia frustrar a tentativa de ambientalistas de tomar uma usina termelétrica no norte do Reino Unido; 114 foram presos no dia anterior ao programado para a ação.
Muitos começaram a desconfiar de que havia algum informante no grupo.
Meses depois, amigos encontraram o passaporte verdadeiro do policial. Confrontado, chorou e confessou. Disse ainda que havia outros infiltrados.
No meio do choro, jurou que havia mudado de lado, que estava arrependido e queria ajudar o movimento.
Ninguém acreditou.
Poucos sabem hoje de seu paradeiro. Dizem que deixou a polícia e que mora fora do Reino Unido.
No final de 2010, entrou em contato com os velhos companheiros e se ofereceu para ajudar no processo em que eram acusados pela tentativa de invasão da usina.
Antes que ele se concretizasse, sumiu uma outra vez.
Os advogados de defesa pediram que os papéis secretos da polícia sobre a ação de Kennedy/Stone fossem anexados ao processo.
A Promotoria se recusou e, na semana passada, pediu a extinção do caso, sem julgamento, o que atraiu a atenção da mídia para o caso.
Oficialmente, a polícia não fala sobre o episódio. Um policial graduado que pediu anonimato disse que as investidas sexuais do infiltrado jamais seriam autorizadas.
A mistura de sexo e espionagem já despertou o apetite de uma produtora de filmes e de uma editora, que esperam encontrar Kennedy para oferecer um acordo.
A questão é descobrir qual seu nome e aparência atuais.


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