São Paulo, sábado, 16 de fevereiro de 2008

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Conseqüências a longo prazo dividem analistas

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Neste momento, um reconhecimento da independência de Kosovo passaria por cima das objeções sérvias e russas, ocorreria na ausência de um acordo entre albaneses e Belgrado e sem modificar a resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU, de 1999, que reafirma a soberania da Sérvia enquanto garante uma "autonomia substancial" a Kosovo.
Apesar disso, grande parte dos especialistas ouvidos pela Folha aposta em uma transição em geral pacífica para a independência supervisionada, dentro e fora da Província.
Ivo Daalder, ex-diretor para Assuntos Europeus no Conselho Nacional de Segurança (1995-1999) dos EUA e analista de segurança internacional do Instituto Brookings, afirma que "a Sérvia vai objetar verbalmente, mas não fará mais nada. E a Rússia não consegue oferecer uma ameaça real, apesar da oratória inflamada".
Daalder discorda dos muitos analistas que vêem riscos específicos para a desestabilização dos Bálcãs. "A região já está desestabilizada há 15 anos, em grande parte porque as ações sérvias de 1992-1999 tornaram impossível para minorias étnicas viverem em paz na ex-Iugoslávia", disse à Folha.
Mais preocupado se mostrou Charles Kupchan, diretor de estudos europeus no think-tank Council of Foreign Relations. Ele diz que "o problema poderia se espalhar para a Bósnia-Herzegóvina", apesar de rechaçar o risco de uma separação. "Há ainda temores de agitações na Macedônia, devido à grande população albanesa na parte oeste do país. Mas creio que a independência de Kosovo é positiva para esse vizinho, pois neutraliza movimentos extremistas albaneses que estimulam problemas."
Mas Kupchan não vê grande chance de a independência da Província encorajar separatistas em outras partes do globo a seguir o exemplo. "Argumentam que, se Kosovo se tornar independente, todo grupo separatista vai se levantar e dizer: "E quanto a nós?'" Mas não acho que isso vai acontecer. Conflitos desse tipo possuem seus próprios determinantes."

A questão russa
A exceção seria, para o analista, o Cáucaso. "A Rússia já enviou sinais de que responderia encorajando as regiões da Abkházia e da Ossétia do Sul a formalizar sua separação da Geórgia, e isso poderá criar tensões muito perigosas entre esses dois países."
Sabine Freizer, diretora do programa europeu do International Crisis Group, é otimista. "A declaração de independência não deverá afetar outras regiões, e Kosovo não deverá estabelecer precedentes em outros contextos. É um caso específico", afirma.
Mas não há consenso. No artigo "Luz de Alerta em Kosovo", Peter Rodman, do Instituto Brookings, John Bolton, ex-embaixador dos EUA na ONU, e Lawrence Eagleburger, ex-secretário de Estado americano, fizeram recentemente um apelo à Casa Branca para rever seu apoio à independência de Kosovo, que "lançaria um precedente de conseqüências imprevisíveis para muitas regiões do mundo".
O artigo foi publicado no jornal "Washington Times" no final de janeiro. "Claro que todo conflito tem características únicas. Mas minorias étnicas em outros países já estão sinalizando sua intenção de usar Kosovo como exemplo", afirmam. "Seria pouco sábio desqualificar a prontidão da Rússia e sua habilidade de ajudar a Sérvia. Em um tema de pouca importância para os EUA, será que é útil desperdiçar capital político com o Kremlin?"


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