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Conseqüências a longo prazo dividem analistas
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Neste momento, um reconhecimento da independência
de Kosovo passaria por cima
das objeções sérvias e russas,
ocorreria na ausência de um
acordo entre albaneses e Belgrado e sem modificar a resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU, de 1999, que
reafirma a soberania da Sérvia
enquanto garante uma "autonomia substancial" a Kosovo.
Apesar disso, grande parte
dos especialistas ouvidos pela
Folha aposta em uma transição em geral pacífica para a independência supervisionada,
dentro e fora da Província.
Ivo Daalder, ex-diretor para
Assuntos Europeus no Conselho Nacional de Segurança
(1995-1999) dos EUA e analista
de segurança internacional do
Instituto Brookings, afirma
que "a Sérvia vai objetar verbalmente, mas não fará mais nada.
E a Rússia não consegue oferecer uma ameaça real, apesar da
oratória inflamada".
Daalder discorda dos muitos
analistas que vêem riscos específicos para a desestabilização
dos Bálcãs. "A região já está desestabilizada há 15 anos, em
grande parte porque as ações
sérvias de 1992-1999 tornaram
impossível para minorias étnicas viverem em paz na ex-Iugoslávia", disse à Folha.
Mais preocupado se mostrou
Charles Kupchan, diretor de
estudos europeus no think-tank Council of Foreign Relations. Ele diz que "o problema
poderia se espalhar para a Bósnia-Herzegóvina", apesar de
rechaçar o risco de uma separação. "Há ainda temores de
agitações na Macedônia, devido à grande população albanesa na parte oeste do país. Mas
creio que a independência de
Kosovo é positiva para esse vizinho, pois neutraliza movimentos extremistas albaneses
que estimulam problemas."
Mas Kupchan não vê grande
chance de a independência da
Província encorajar separatistas em outras partes do globo a
seguir o exemplo. "Argumentam que, se Kosovo se tornar
independente, todo grupo separatista vai se levantar e dizer:
"E quanto a nós?'" Mas não
acho que isso vai acontecer.
Conflitos desse tipo possuem
seus próprios determinantes."
A questão russa
A exceção seria, para o analista, o Cáucaso. "A Rússia já
enviou sinais de que responderia encorajando as regiões da
Abkházia e da Ossétia do Sul a
formalizar sua separação da
Geórgia, e isso poderá criar tensões muito perigosas entre esses dois países."
Sabine Freizer, diretora do
programa europeu do International Crisis Group, é otimista.
"A declaração de independência não deverá afetar outras regiões, e Kosovo não deverá estabelecer precedentes em outros contextos. É um caso específico", afirma.
Mas não há consenso. No artigo "Luz de Alerta em Kosovo", Peter Rodman, do Instituto Brookings, John Bolton, ex-embaixador dos EUA na ONU,
e Lawrence Eagleburger, ex-secretário de Estado americano,
fizeram recentemente um apelo à Casa Branca para rever seu
apoio à independência de Kosovo, que "lançaria um precedente de conseqüências imprevisíveis para muitas regiões do
mundo".
O artigo foi publicado no jornal "Washington Times" no final de janeiro. "Claro que todo
conflito tem características
únicas. Mas minorias étnicas
em outros países já estão sinalizando sua intenção de usar Kosovo como exemplo", afirmam.
"Seria pouco sábio desqualificar a prontidão da Rússia e sua
habilidade de ajudar a Sérvia.
Em um tema de pouca importância para os EUA, será que é
útil desperdiçar capital político
com o Kremlin?"
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