São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2004

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Vitória de socialista deve prejudicar Bush

DE WASHINGTON

A vitória do socialista José Luis Rodríguez Zapatero na Espanha deve minar o atual processo de aproximação entre EUA e Europa e causar impacto negativo na campanha à reeleição do presidente George W. Bush, segundo analistas ouvidos pela Folha.
Com Zapatero no poder, Bush perdeu o seu segundo principal aliado na Europa e encara o fato de que sua influência pode ser eleitoralmente negativa.
Internamente, Bush terá de enfrentar uma oposição ainda mais inflamada contra a guerra e a perda de soldados no Iraque.
Os atentados em Madri, no entanto, devem reforçar o discurso da Casa Branca sobre a necessidade de combate ao terror e despertar o engajamento europeu.
"Ficou difícil para qualquer líder democrático aliar-se aos EUA na base do "ou fica do meu lado ou vai para o purgatório", diz Rick Barton, do Centro Internacional para Estudos Estratégicos.
"O atentado em Madri e a derrota de [José María] Aznar na Espanha são um forte revés para Bush justamente por ele vir tentando, neste momento, aumentar a participação internacional no Iraque", afirma David Phillips, do Council of Foreign Relations.
Há um ano Bush deu um ultimato à ONU para invadir o Iraque ao lado de seu dois principais aliados: Aznar e o premiê britânico, Tony Blair. Na sexta, Bush disse à TV espanhola que o país tinha "sorte" de ter Aznar no poder.
Mesmo depois de Zapatero ter qualificado como "desastre" a guerra e dito que a ação foi justificada "com mentiras", a Casa Branca declarou ontem "esperar um trabalho de cooperação [com o novo governo], especialmente na guerra contra o terror".
Na mídia, toda a reação dos principais jornais dos EUA também foi no sentido de enfraquecimento da posição de Bush. Mas o porta-voz do Departamento de Estado, Adam Ereli, chegou a dizer que "ainda é cedo" para conhecer a posição espanhola no Iraque e que existe a possibilidade de uma nova resolução na ONU que permita a continuidade das tropas da Espanha no Iraque.
A ameaça de Zapatero de se retirar do Iraque deve comprometer também a aproximação que Bush vem ensaiando com a França e a Alemanha.
"França e Alemanha deram um caloroso "bem-vindo" a Zapatero, que sempre condenou o fato de a aproximação entre Aznar e Bush ocorrer em detrimento de uma relação mais profunda da Espanha com alemães e franceses", afirma Marco Vicenzino, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos. (FERNANDO CANZIAN)


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