São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2004

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VENEZUELA

Órgão controlado pelo Congresso republicano enviou mais de US$ 1 mi a opositores para organização de referendo

EUA financiaram a oposição a Chávez

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Os Estados Unidos transferiram mais de US$ 1 milhão a grupos que fazem oposição ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, nos últimos dois anos.
Parte do dinheiro foi doada em setembro passado diretamente à Súmate, um grupo de oposição ao governo que está recolhendo assinaturas para a realização de referendo popular para tirar Chávez da Presidência.
Os recursos foram transferidos à oposição venezuelana pelo NED (National Endowment for Democracy), segundo documentos revelados nos EUA pelo Foia (Freedom of Information Act, ou Lei sobre a Liberdade de Informação, existente desde 1966).
O NED opera em Washington e se intitula "independente" e "guiado pela crença na liberdade e na democracia". Mas quase a totalidade dos fundos que distribui a vários países saem do Congresso dos EUA, hoje dominado pelo Partido Republicano do presidente George W. Bush.

Apoio a golpe
Chávez vinha acusando os EUA de financiar a oposição ao seu governo desde antes do golpe de abril de 2002, que o tirou do poder por 48 horas. A embaixada da Venezuela protocolou um pedido de explicações ao senador republicano Norm Coleman, chefe do subcomitê de Relações Internacionais do Hemisfério Ocidental, que tem ascendência sobre o NED.
Uma reclamação formal contra os EUA também foi enviada à OEA (Organização dos Estados Americanos).
Em entrevista à Folha, Chris Sabatini, diretor do NED para a América Latina, defendeu a transferência dos recursos como parte dos "esforços para promover os direitos civis e a democracia na região".
Questionado se considerava ético financiar diretamente o grupo responsável por colher assinaturas contra Chávez, Sabatini afirmou: "É preciso deixar claro o que é verdade e o que é mentira no discurso de Chávez. O referendo foi a solução encontrada para estabilizar a Venezuela, e Chávez está trabalhando contra isso de todas as maneiras possíveis".
Há poucas semanas, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) da Venezuela adiou a decisão sobre o referendo que pode tirar Chávez da Presidência e deu prazo até o dia 24 próximo para que a oposição confirme a validade centenas de milhares de assinaturas colhidas entre opositores.
Em documento para formalizar a transferência de US$ 53.400 à Súmate, o NED afirma que o órgão deverá "treinar eleitores na Venezuela e encorajar a participação no referendo".
O mesmo documento afirma que "Chávez provocou um aumento da sensação de frustração popular na Venezuela contra sua classe política" e que o país "tornou-se perigosamente polarizado". O NED manifesta ainda ceticismo com a disposição de Chávez de levar o referendo adiante.
Além do dinheiro transferido diretamente à Súmate para recolher assinaturas, a maior parte dos recursos foi dada a grupos montados na Venezuela que fornecem treinamento a líderes dos partidos Ação Democrática, Partido Social Cristão e Primeira Justiça, todos de oposição a Chávez.
A Venezuela é o quarto principal fornecedor de petróleo dos EUA (cerca de 15% das importações), e a Casa Branca tem reclamado publicamente da proximidade entre Chávez e o ditador cubano, Fidel Castro, ambos considerados por Washington uma "ameaça" para a região.
Nos últimos anos, o NED também financiou com recursos do Congresso dos EUA grupos de oposição ao ex-presidente do Haiti Jean-Bertrand Aristide, deposto há poucos dias do cargo.
Embora os EUA neguem, Aristide afirma que foi "seqüestrado" por forças de segurança americanas e forçado a deixar seu país.


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