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VENEZUELA
Órgão controlado pelo Congresso republicano enviou mais de US$ 1 mi a opositores para organização de referendo
EUA financiaram a oposição a Chávez
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Os Estados Unidos transferiram
mais de US$ 1 milhão a grupos
que fazem oposição ao presidente
da Venezuela, Hugo Chávez, nos
últimos dois anos.
Parte do dinheiro foi doada em
setembro passado diretamente à
Súmate, um grupo de oposição ao
governo que está recolhendo assinaturas para a realização de referendo popular para tirar Chávez
da Presidência.
Os recursos foram transferidos
à oposição venezuelana pelo NED
(National Endowment for Democracy), segundo documentos revelados nos EUA pelo Foia (Freedom of Information Act, ou Lei
sobre a Liberdade de Informação,
existente desde 1966).
O NED opera em Washington e
se intitula "independente" e
"guiado pela crença na liberdade
e na democracia". Mas quase a totalidade dos fundos que distribui
a vários países saem do Congresso dos EUA, hoje dominado pelo
Partido Republicano do presidente George W. Bush.
Apoio a golpe
Chávez vinha acusando os EUA
de financiar a oposição ao seu governo desde antes do golpe de
abril de 2002, que o tirou do poder
por 48 horas. A embaixada da Venezuela protocolou um pedido de
explicações ao senador republicano Norm Coleman, chefe do subcomitê de Relações Internacionais do Hemisfério Ocidental, que
tem ascendência sobre o NED.
Uma reclamação formal contra
os EUA também foi enviada à
OEA (Organização dos Estados
Americanos).
Em entrevista à Folha, Chris Sabatini, diretor do NED para a
América Latina, defendeu a transferência dos recursos como parte
dos "esforços para promover os
direitos civis e a democracia na
região".
Questionado se considerava ético financiar diretamente o grupo
responsável por colher assinaturas contra Chávez, Sabatini afirmou: "É preciso deixar claro o
que é verdade e o que é mentira
no discurso de Chávez. O referendo foi a solução encontrada para
estabilizar a Venezuela, e Chávez
está trabalhando contra isso de
todas as maneiras possíveis".
Há poucas semanas, o CNE
(Conselho Nacional Eleitoral) da
Venezuela adiou a decisão sobre o
referendo que pode tirar Chávez
da Presidência e deu prazo até o
dia 24 próximo para que a oposição confirme a validade centenas
de milhares de assinaturas colhidas entre opositores.
Em documento para formalizar
a transferência de US$ 53.400 à
Súmate, o NED afirma que o órgão deverá "treinar eleitores na
Venezuela e encorajar a participação no referendo".
O mesmo documento afirma
que "Chávez provocou um aumento da sensação de frustração
popular na Venezuela contra sua
classe política" e que o país "tornou-se perigosamente polarizado". O NED manifesta ainda ceticismo com a disposição de Chávez de levar o referendo adiante.
Além do dinheiro transferido
diretamente à Súmate para recolher assinaturas, a maior parte dos
recursos foi dada a grupos montados na Venezuela que fornecem
treinamento a líderes dos partidos Ação Democrática, Partido
Social Cristão e Primeira Justiça,
todos de oposição a Chávez.
A Venezuela é o quarto principal fornecedor de petróleo dos
EUA (cerca de 15% das importações), e a Casa Branca tem reclamado publicamente da proximidade entre Chávez e o ditador cubano, Fidel Castro, ambos considerados por Washington uma
"ameaça" para a região.
Nos últimos anos, o NED também financiou com recursos do
Congresso dos EUA grupos de
oposição ao ex-presidente do
Haiti Jean-Bertrand Aristide, deposto há poucos dias do cargo.
Embora os EUA neguem, Aristide afirma que foi "seqüestrado"
por forças de segurança americanas e forçado a deixar seu país.
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