São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2005

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RELIGIÃO

Cardeal da Congregação para a Doutrina da Fé lança debates para denunciar "erros vergonhosos e infundados" do best-seller

Igreja faz ofensiva contra "O Código Da Vinci"

DA REDAÇÃO

O Vaticano lançou ontem uma campanha para desqualificar o livro "O Código Da Vinci", do escritor norte-americano Dan Brown, com o objetivo de convencer seus fiéis a boicotar a obra.
"Não leiam nem comprem "O Código Da Vinci'", pediu o cardeal Tarcisio Bertone, arcebispo de Gênova (Itália) e apontado como um dos possíveis sucessores do papa João Paulo 2º, em declarações à rádio Vaticano.
O cardeal qualificou o livro, primeiro na lista dos mais vendidos em todo o mundo -cerca de 20 milhões de exemplares em 44 países-, de "um castelo de mentiras" e disse que está cheio de imprecisões históricas.
"Não se pode escrever um romance que deforma os fatos históricos, maldizendo ou difamando personagens que devem seu prestígio e sua fama justamente à história da igreja e da humanidade", disse Bertone.
Bertone, 70, é vice-presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, que foi criada originalmente para defender a Igreja Católica de heresias, em 1542, e até hoje é responsável por "promover e tutelar a doutrina da fé e da moral em todo o mundo católico".
A congregação é presidida pelo cardeal alemão Joseph Ratzinger, um dos mais influentes do Vaticano e também "papável".
A partir de hoje, o cardeal Bertone realiza em Gênova uma série de conferências públicas, intituladas "Uma história sem História", sobre os "erros vergonhosos e infundados" do livro.
A iniciativa, que o cardeal afirma ter sido dele e não a mando superior, é uma indicação do nível de preocupação do Vaticano com o sucesso do livro, cuja versão para o cinema, com a participação de Tom Hanks, deve estrear no próximo ano.
"[O livro] já começou a circular nas escolas como um novo modelo, querem lê-lo para entender a dinâmica da histórica e todas as manipulações que a igreja cometeu", disse Bertone, para quem existe uma estratégia mundial para "divulgar no mundo esse castelo de mentiras".
Publicado em 2003, o livro narra as investigações do professor Robert Langdon, da Universidade Harvard, para descobrir o enigma do assassinato do curador do museu do Louvre, em Paris. Aparecem envolvidas no crime sociedades esotéricas anticlericais e a Opus Dei, movimento católico laico conservador descrito no livro como uma seita extremista.
Ainda segundo a narrativa de Brown, ao decifrar códigos e anagramas, o personagem principal descobre outros segredos, como o de que Jesus se casou com Maria Madalena e teve um filho com ela.
"O livro está por toda parte. Há um risco real de que as pessoas que o leiam acreditem que as fábulas que contém são verdadeiras. Deixa-me atônito e preocupado que tantas pessoas acreditem nessas mentiras", disse Bertone ao diário italiano "Il Giornale".
"Membros da Igreja Católica estão particularmente contrariados pelo que vêem como uma sugestão blasfema de que Jesus possa ter feito sexo e com a maneira como a igreja e o Vaticano são caracterizados como tendo conspirado para encobrir a "verdade" sobre o cristianismo", disse o especialista em religião e no "Código Da Vinci" David Barratt ao jornal britânico "Guardian".
Mas, para Barratt, a igreja está exagerando na reação. "É basicamente um "thriller", um típico livro de aeroporto. A Igreja Católica está reagindo exageradamente. No fim das contas, é só um romance e a polêmica vai morrer."


Com agências internacionais

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