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Invasão do Iraque favoreceu o Irã, diz analista
MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO
A invasão do Iraque proporcionou à Al Qaeda, organização do
terrorista Osama bin Laden, a
chance de centralizar sua "guerra
santa" em solo árabe e ainda deu
ao Irã a desestabilizadora oportunidade de aumentar a influência
xiita num mundo islâmico dominado pela maioria sunita. A avaliação é de Ely Karmon, pesquisador do Instituto de Contraterrorismo de Israel, que veio ao Brasil
para uma série de palestras a convite da organização judaica Bnai
Brith. Segundo ele, o Irã tem milhares de voluntários prontos para atentados suicidas caso sofra
sanções contra seu programa nuclear. A seguir, trechos de sua entrevista à Folha.
Folha - O Iraque está em guerra
civil?
Ely Karmon - Ainda é cedo para dizer. Os xiitas e os americanos não
admitem isso. As regiões mais
problemáticas são Bagdá e outras
duas cidades onde há mais contato entre xiitas e sunitas. Não há
consenso. Há hoje muitas críticas
[no mundo islâmico] a Abu Musab al Zarqawi [líder da Al Qaeda
no Iraque] e os atentados que ele
promove, não só dos moderados,
mas de muitos sunitas radicais no
Iraque. Até o mentor de Zarqawi,
que está preso na Jordânia, escreveu artigos bastante duros. Um
ex-chefe do braço político da Al
Qaeda disse que comandantes na
região exigiram que Bin Laden
demita Zarqawi. Mas ele não pode demitir alguém que não nomeou. Bin Laden tem influência
política e psicológica, mas o poder
real pertence a Zarqawi.
Folha - A invasão do Iraque fortaleceu o terrorismo?
Karmon - A invasão ajudou Bin
Laden, que hoje é um líder virtual,
a ter uma arena central para sua
luta. Também permitiu que a luta
voltasse ao coração do mundo
árabe.
Folha - Qual foi o maior erro dos
americanos?
Karmon - Não terem planejado o
pós-guerra. Estive na época em
Washington e lembro que a CIA,
o Pentágono, Cheney, todos tinham seu representante iraquiano. E o que fizeram? Dispersaram
o exército e a polícia. E é impossível ter controle sem Exército.
Folha - Qual a influência do Irã
hoje no Iraque?
Karmon - É preciso entender a revolução provocada no mundo
muçulmano pela invasão americana. Pela primeira vez desde
Maomé os xiitas controlam Bagdá. Para os sunitas, que formam a
maioria dos muçulmanos, é algo
inaceitável. Eles consideram os
xiitas piores que os judeus e cristãos. Quem é Ibrahim Jaafari
[atual premiê iraquiano]? Em
1982 toda a liderança de seu partido, o Dawa, estava no Líbano, fugindo de Saddam Hussein. Um
quarto do Hizbollah hoje é formado por gente do Dawa. Entre 1982
e 1990 o Dawa atacou sauditas,
kuwaitianos, americanos e franceses. Os americanos fizeram o
trabalho sujo para o Irã, ajudando
a colocar os xiitas no poder.
Folha - Essa proximidade aumenta a pressão sobre o Irã e seu desejo
de ter armas nucleares?
Karmon - A bomba para o regime
iraniano é uma necessidade. Ele
se sente extremamente isolado,
tanto em relação ao mundo árabe
como ao Ocidente. O Irã prepara
uma resposta [para o caso de sofrer sanções] e é bom levar isso a
sério. Por um lado, tem mísseis
que podem alcançar todas as bases americanas na região, Israel e
a Europa. Além disso, nos últimos
anos o regime islâmico vem recrutando jovens para serem treinados pelo Pasdaran (guarda revolucionária). Fala-se em 44 mil
voluntários, suicidas potenciais.
Folha - É razoável crer que o Hamas abandonará o terror, agora
que domina o governo palestino?
Karmon - Não totalmente. A estratégia deverá ser usar o Fatah
para o "trabalho sujo" dos contatos com Israel e o Jihad e outros
grupos terroristas para os ataques
a Israel.
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