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SUCESSÃO NOS EUA / NOS BASTIDORES
Equipes revelam contradições de candidatos
Mais do que livrar seus chefes de encrencas, assessores de aspirantes à Casa Branca expõem escolhas políticas de campanhas
Apoiadores de Obama criam confusão ao desmentir seus discursos; Hillary disfarça, mas traz de volta membros do governo de Bill Clinton
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
No penúltimo debate entre
Barack Obama e Hillary Clinton, no final de fevereiro, no
Texas, um jornalista perguntou
ao senador democrata se ele se
sentaria com o líder cubano
Raúl Castro para negociar, depois de a ex-primeira-dama
responder que não faria isso, a
não ser que "precondições" tivessem sido cumpridas.
Numa longa resposta de mais
de 600 palavras, Obama disse
que se sentaria, sim. Então, repetiu a máxima que resume sua
proposta de política externa se
for eleito presidente: "Creio
que é importante para os EUA
falarem não só com seus aliados, mas também com seus inimigos. Acho que é aí que a diplomacia faz mais diferença".
Minutos depois, David Axelrod, coordenador da campanha
do senador, estava falando com
jornalistas no que o costume
político local chama de "spin
room" -literalmente, "sala de
giro", no sentido de que é o local em que os assessores pegam
uma frase dita por seu candidato num evento anterior, seja
debate ou comício, e a giram
-ou distorcem- até que ela fique a contento deles.
A afirmação não prejudicaria
Obama mais tarde junto ao
eleitorado latino mais conservador?, foi a pergunta feita pela
Folha ao assessor. "Não, pelo
contrário, vai até ajudar, uma
vez que todos estão cansados
das mesmas velhas atitudes sobre Cuba", respondeu Axelrod.
Era "The Ax", o machado, como Obama o chama, em ação,
consertando situações em que
seu candidato se mete por falta
de experiência ou nervosismo.
A ex-primeira-dama e o republicano John McCain também
têm seus próprios "machados",
respectivamente Mark Penn e
Charlie Black. Eles são a face
mais evidente e midiática de
um time que não aparece, mas
dá os verdadeiros contornos de
cada plataforma.
Nomes testados
São dezenas de nomes para
cada área, que vão sendo testados com o grande público e em
relação ao próprio candidato.
Com a aproximação da eleição,
uma peneira vai sendo feita.
No caso do time de política
externa, Obama começou com
uma seleção que enchia uma
sala. Ia de Zbigniew Brzezinski,
ex-conselheiro de Segurança
Nacional de Jimmy Carter
(1977-1981), a Samantha Power, autora de biografia sobre
Sérgio Viera de Mello, diplomata brasileiro morto em Bagdá.
Por motivos diferentes (posição crítica a Israel no primeiro
caso, deslize verbal no segundo), os dois foram afastados ou
se afastaram -também assessores se metem em confusões.
Hoje, a área é coordenada pela ex-clintonista Susan Rice,
uma das integrantes do governo de Bill Clinton (1993-2001)
cooptadas por Obama. Seu
equivalente em "Hillaryland"
(apelido dado à campanha rival
por conta das mulheres que
formam seu centro nervoso) é o
banqueiro norte-americano
Richard Holbrooke.
Outro Richard, Armitage, está com o senador John
McCain. Ele ilustra outra característica não rara desse grupo de pessoas: muitas vezes,
contrariam em privado ou por
conta de seus currículos o que
os candidatos dizem em público. O caso de Austan Goolsbee,
um professor da Universidade
de Chicago que é o principal assessor econômico de Obama, é
o mais recente e evidente.
No que ficou conhecido como "Naftagate", o economista
disse a diplomatas canadenses
que as críticas que seu candidato fazia ao Tratado de Livre Comércio da América do Norte
(Nafta) não eram para valer,
apenas peça de campanha para
ganhar votos em Ohio -que
aponta o acordo como vilão de
seu índice de desemprego, um
dos maiores índices do país.
Mas há outros casos. Apesar
de prometer que sua eleição
não significará um terceiro
mandato de George W. Bush,
John McCain cerca-se de pessoas que tiveram importância
na administração do atual presidente. Richard Armitage, por
exemplo. Falcão neocon, foi o
segundo no Departamento de
Estado de Colin Powell.
"Monstro"
Já Hillary tenta se fixar como uma candidata independente de Bill Clinton e afirma
que a sua não será uma co-Presidência. Ainda assim, muitos
assessores saíram direto dos
gabinetes de um dos dois mandatos do marido. É o caso de
Richard Holbrooke, forte candidato a secretário de Estado,
que ocupou o posto de embaixador dos EUA na ONU no segundo mandato de Clinton.
Ou Gary Gensler, número
três e depois número dois da
secretaria do Tesouro do ex-presidente democrata, um dos
principais assessores econômicos de Hillary. "Como as propostas são mais ou menos parecidas, os pré-candidatos têm
de se diferenciar de outras maneiras", disse à Folha David
Mendell, autor de "Obama
-From Promise to Power" (da
promessa ao poder, 2007).
A escolha dos assessores é
uma delas. Nesse sentido, nenhum é tão examinado nessas
ações quanto Obama. Cada novo nome que vaza de seu time
se torna uma celebridade instantânea. Para o bem e para o
mal. Susan Rice, que assumiu a
liderança depois de Samantha
Power cair ao chamar Hillary
Clinton de "monstro", começa
a passar por apuros.
Primeiro, ao falar em entrevista na TV que nem Obama
nem Hillary "estão preparados
para atender aquele telefonema às 3h da manhã", referindo-se a um anúncio colocado
no ar pela campanha da ex-primeira-dama para salientar a
falta de experiência do senador. Num artigo intitulado
"Novatos demais para o horário nobre", um articulista
questiona se o senador não se
cercou de muita gente verde.
Agora, veio à tona que, enquanto era ex-secretária de Estado para a África de Bill Clinton, Susan Rice teria aconselhado o presidente a recusar
uma oferta do governo do Sudão de entregar Osama bin Laden aos EUA, segundo disse
Timothy Carney, que à época
(1995-1997) era embaixador
norte-americano no país.
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