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China isola capital do Tibete e ameaça "medidas severas"
Para Pequim, confrontos mataram dez; estimativas tibetanas chegam a cem
Violência começou na segunda, com protesto de monges contra ocupação chinesa; Obama condena repressão de Pequim
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O governo chinês anunciou
que, caso não cessem os protestos, tomará "medidas severas"
contra os manifestantes que
têm provocado, nos últimos
dias, os maiores confrontos no
Tibete em 20 anos. Oficialmente, a China reconhece dez mortos, "civis inocentes", como os
classificou Pequim, em embates entre manifestantes e as
forças de segurança, mas tibetanos no exílio falam em 36 a
cem mortos. A China declarou
toque de recolher em Lhasa, a
capital do Tibete, e fechou as
fronteiras da Província.
A tensão começou na segunda-feira, quando cem monges
budistas fizeram uma manifestação para celebrar os 49 anos
de uma tentativa fracassada de
independência da China. Vários deles foram presos. Outros
iniciaram greve de fome, exigindo a libertação dos presos.
Milhares de policiais e soldados, com blindados, fizeram
um cordão ao redor do centro
de Lhasa ontem. Na sexta-feira,
monges e adolescentes atacaram carros da polícia e lojas de
comerciantes chineses da etnia
han, a majoritária na China,
que ocupa o Tibete desde 1951.
O confronto acontece a menos de cinco meses da Olimpíada de Pequim, evento considerado prioritário pelo regime comunista, mas que sofre boicote
de organizações pró-direitos
humanos. O ativista tibetano
no exílio Sangye, 27, da ONG
Free Tibet (Tibete livre), disse
que não consegue mais falar
com amigos e parentes em Lhasa desde ontem. As linhas telefônicas foram cortadas.
"Por que a China está deixando o Tibete incomunicável?
Não quer que o mundo saiba da
repressão que está acontecendo lá?", falou à Folha, pelo telefone, de Dharamsala, no norte
da Índia -onde vive o dalai lama, líder espiritual budista e
defensor da emancipação do
Tibete que foi alvo ontem de
ataques da imprensa chinesa.
Além da ausência de telefone, vôos para Lhasa foram suspensos, assim como viagens de
trem. Vistos para turistas estrangeiros foram cancelados.
O jornalista britânico James
Miles, da revista "The Economist", que estava em Lhasa
quando começaram os protestos, disse à agência japonesa
Kyodo que havia focos de incêndio em boa parte do centro
histórico da capital, depois de
saques e depredação de lojas de
chineses. "Parece violência étnica, nascida pela profunda
frustração", disse Miles.
Jornalistas estrangeiros têm
acesso proibido à região. Mas o
vice-presidente da Suprema
Corte do Povo, a principal instância judiciária do país, Zhang
Jun, afirmou ontem que os tibetanos não serão perseguidos
se contarem o que aconteceu
para a mídia estrangeira. "A liberdade de expressão de todos
os cidadãos é protegida por
nossa Constituição", disse.
O governo chinês costuma
dizer que a vida dos tibetanos
melhorou muito sob a administração chinesa e rejeita acusações de que a religião e a cultura da região sejam ameaçadas
pelo regime comunista.
Obama
Quem se manifestou ontem
sobre a situação no país asiático
foi o pré-candidato democrata
à Presidência dos EUA Barack
Obama, que condenou "o uso
da violência contra manifestações pacíficas" e pediu a a Pequim que "respeite os direitos
humanos do povo tibetano".
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