São Paulo, domingo, 16 de março de 2008

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China isola capital do Tibete e ameaça "medidas severas"

Para Pequim, confrontos mataram dez; estimativas tibetanas chegam a cem

Violência começou na segunda, com protesto de monges contra ocupação chinesa; Obama condena repressão de Pequim

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O governo chinês anunciou que, caso não cessem os protestos, tomará "medidas severas" contra os manifestantes que têm provocado, nos últimos dias, os maiores confrontos no Tibete em 20 anos. Oficialmente, a China reconhece dez mortos, "civis inocentes", como os classificou Pequim, em embates entre manifestantes e as forças de segurança, mas tibetanos no exílio falam em 36 a cem mortos. A China declarou toque de recolher em Lhasa, a capital do Tibete, e fechou as fronteiras da Província.
A tensão começou na segunda-feira, quando cem monges budistas fizeram uma manifestação para celebrar os 49 anos de uma tentativa fracassada de independência da China. Vários deles foram presos. Outros iniciaram greve de fome, exigindo a libertação dos presos.
Milhares de policiais e soldados, com blindados, fizeram um cordão ao redor do centro de Lhasa ontem. Na sexta-feira, monges e adolescentes atacaram carros da polícia e lojas de comerciantes chineses da etnia han, a majoritária na China, que ocupa o Tibete desde 1951.
O confronto acontece a menos de cinco meses da Olimpíada de Pequim, evento considerado prioritário pelo regime comunista, mas que sofre boicote de organizações pró-direitos humanos. O ativista tibetano no exílio Sangye, 27, da ONG Free Tibet (Tibete livre), disse que não consegue mais falar com amigos e parentes em Lhasa desde ontem. As linhas telefônicas foram cortadas.
"Por que a China está deixando o Tibete incomunicável? Não quer que o mundo saiba da repressão que está acontecendo lá?", falou à Folha, pelo telefone, de Dharamsala, no norte da Índia -onde vive o dalai lama, líder espiritual budista e defensor da emancipação do Tibete que foi alvo ontem de ataques da imprensa chinesa.
Além da ausência de telefone, vôos para Lhasa foram suspensos, assim como viagens de trem. Vistos para turistas estrangeiros foram cancelados.
O jornalista britânico James Miles, da revista "The Economist", que estava em Lhasa quando começaram os protestos, disse à agência japonesa Kyodo que havia focos de incêndio em boa parte do centro histórico da capital, depois de saques e depredação de lojas de chineses. "Parece violência étnica, nascida pela profunda frustração", disse Miles.
Jornalistas estrangeiros têm acesso proibido à região. Mas o vice-presidente da Suprema Corte do Povo, a principal instância judiciária do país, Zhang Jun, afirmou ontem que os tibetanos não serão perseguidos se contarem o que aconteceu para a mídia estrangeira. "A liberdade de expressão de todos os cidadãos é protegida por nossa Constituição", disse.
O governo chinês costuma dizer que a vida dos tibetanos melhorou muito sob a administração chinesa e rejeita acusações de que a religião e a cultura da região sejam ameaçadas pelo regime comunista.

Obama
Quem se manifestou ontem sobre a situação no país asiático foi o pré-candidato democrata à Presidência dos EUA Barack Obama, que condenou "o uso da violência contra manifestações pacíficas" e pediu a a Pequim que "respeite os direitos humanos do povo tibetano".


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