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Chávez ocupa portos geridos por oposição
Presidente ameaça prender os governadores que resistirem à entrega de Puerto Cabello, Maracaibo e Nueva Esparta
Governo diz que medida visa acabar com "máfias" e inibir tráfico, mas oposição diz se tratar de "golpe de Estado em câmera lenta"
Palácio de Miraflores/Reuters
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Chávez durante gravação do "Alô, Presidente" em que anunciou tomada de portos estratégicos
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O presidente Hugo Chávez
ordenou ontem a ocupação militar de portos localizados nos
três Estados litorâneos administrados pela oposição.
O anúncio foi feito três dias
após a Assembleia Nacional,
controlada pelo oficialismo, ter
aprovado uma reforma legal
que permite ao governo nacional intervir em portos, aeroportos e estradas estaduais caso haja "prestação de serviços
deficiente ou inexistente".
"Nós vamos recuperar os
portos e aeroportos de toda a
República, contra quem se opuser", disse Chávez, no seu programa dominical de TV, "Alô,
Presidente". "Eles são do povo,
de toda a nação, e não de máfias
ou grupos regionais."
O presidente venezuelano
ameaçou prender os governadores oposicionistas de Carabobo, Henrique Salas Feo, e de
Zulia, Pablo Pérez, caso resistam em entregar, respectivamente, os portos de Puerto Cabello, o mais movimentado do
país, e o de Maracaibo, o Estado
mais rico por causa da produção de petróleo.
"Se um governador resiste e
diz, como o de Carabobo, que
vai defender Puerto Cabello,
será necessário fazer a operação "frango" [apelido de Salas
Feo]. Que me tragam o "frango"
preso", disse Chávez. "A lei é
para ser cumprida."
Ele ordenou ainda a intervenção no porto do governo de
Nueva Esparta (a ilha turística
de Margarita), outro reduto
oposicionista.
Chávez justificou a medida
alegando que os portos são
atualmente controlados por
"máfias" e por narcotraficantes
-a Venezuela é hoje uma das
principais rotas da cocaína colombiana.
A nova legislação foi duramente criticadas pelos governadores oposicionistas. Em entrevista, Salas Feo disse que "a
Assembleia executa um golpe
de Estado em câmara lenta".
Segundo o governador de Carabobo, trata-se de medida inconstitucional, pois o artigo
164 determina que é "competência exclusiva dos Estados a
conservação, administração e
aproveitamento das estradas e
autopistas nacionais, assim como de portos e aeroportos de
uso comercial, em coordenação
com o Executivo nacional".
A intervenção nos portos é a
última de várias medidas adotadas pelo governo que esvaziam os governos estaduais
conquistados pela oposição nas
eleições regionais de 23 de novembro. Desde então, Chávez
vem transferindo ao governo
federal hospitais, escolas, centros desportivos e culturais e
até a TV Ávila, antes vinculada
ao governo distrital de Caracas
e sob o comando do oposicionista Antonio Ledezma.
A Assembleia Nacional estuda projeto que cria uma Vice-Presidência para a região metropolitana de Caracas, que estaria acima de Ledezma e cujo
titular seria nomeado diretamente por Chávez. Essa proposta fazia parte da reforma
constitucional derrotada no referendo de 2007.
Na semana passada, o TSJ
(Tribunal Supremo de Justiça),
controlado pelo chavismo,
proibiu que Ledezma implantasse um esquema de rodízio
para o caótico trânsito de Caracas. A iniciativa vem sendo rejeitada por Chávez por limitar o
"direito de livre circulação".
Chávez também decretou a
nacionalização de 30 barcos
pesqueiros por não se adaptarem à recente proibição de pesca industrial com arrastão. "Esta revolução continuará se radicalizando, e peço o apoio de
todos os setores da revolução
para aprofundá-la", disse.
Aviões militares russos
Ele também confirmou a informação, dada na véspera por
Moscou, de que autorizou o uso
de aeroportos venezuelanos
por aviões militares russos, como já ocorreu no ano passado.
"Disse ao presidente russo
[Dmitri] Medvedev que, quando a aviação estratégica russa
precisar fazer uma aterrissagem na Venezuela, estamos à
disposição", disse Chávez, que
negou ter oferecido uma base
militar permanente a Moscou.
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