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Islamabad recua e aceita volta de juiz cassado na ditadura
Protestos da oposição paquistanesa e deserções no governo forçaram medida
Polícia local desafia governo e descumpre ordem para reprimir marcha; ex-premiê opositor suspende protesto após recuo do governo
DA REDAÇÃO
Opositores tomaram as ruas
de Lahore, capital do Punjab
(mais rica Província paquistanesa), desafiando proibição de
protestos com apoio aberto das
autoridades policiais locais. Os
manifestantes seguiram em
carreata para Islamabad, mas
suspenderam a marcha após
anúncio da restituição dos juízes afastados pelo ex-ditador
Pervez Musharraf.
O presidente da Suprema
Corte, Iftikhar Chaudhry, voltará ao cargo no próximo dia 31,
anunciou nesta manhã o premiê Yousaf Gilani, atendendo à
principal exigência da oposição. O governo, que enfrenta
onda de dissidências após censurar TVs e reprimir com brutalidade manifestações, planeja
ainda pacote constitucional.
A tentativa de censura à
transmissão de protestos contra o governo -que resultou no
pedido de demissão da ministra
da Informação, Sherry Rehman, no sábado- e a prisão de
líderes da oposição catalisaram
ontem uma enorme marcha de
protesto, em Lahore.
O ex-premiê Nawaz Sharif,
líder do PLM-N (Partido da Liga Muçulmana-Nawaz, nacionalista e conservador moderado), ignorou a ordem de prisão
domiciliar e deixou sua casa em
Lahore em uma carreata. Sharif
rompeu a barreira da polícia e
se juntou a um protesto no centro da cidade.
A polícia chegou a lançar
bombas de gás lacrimogêneo
contra os manifestantes, que
gritavam slogans pedindo um
Judiciário independente.
Mas, em um ato sem precedentes, a tropa de choque recuou no final da tarde, e multidões a pé ou em carros passaram a ocupar a região com bandeiras com retratos de Sharif. O
superintendente da polícia local, Mushtaq Sakhir, disse que
não apoiaria mais "medidas erradas" do governo central.
O comboio de Sharif partiu
para Islamabad. Falando à TV
Geo -a maior rede do país e alvo de censura-, Sharif disse
tratar-se de um "prelúdio de
uma revolução". Mas, diante o
anúncio de Gilani, decidiu suspender o ato na capital.
Histórico
Embora a Presidência negue
ter interferido nas transmissões da TV, já normalizadas, a
atual tentativa de censura remete ao cenário de convulsão
social e repressão que marcou
os últimos meses de governo de
Musharraf e culminou no fim
do regime militar, em 2008.
A oposição a Musharraf unia
os rivais PPP (Partido do Povo
Paquistanês, centro-esquerda),
hoje no governo, e o PLM-N,
maior legenda de oposição. O
PPP apoiava a volta dos juízes
afastados, vetada pelo presidente Asif Ali Zardari, que teme
o cancelamento de sua anistia
em processos por corrupção
caso Chaudhry assuma.
A cassação dos direitos políticos de Sharif e seu irmão -governador do Punjab, substituído por um aliado de Zardari-
foi o estopim da atual onda de
protestos pela volta dos juízes.
O governo reagiu com truculência, prendendo mais de 350
opositores e proibindo protestos. Mas, sob pressão das Forças Armadas paquistanesas e
da Casa Branca, iniciou negociação para devolver o governo
do Punjab ao PLM-N.
A instabilidade paquistanesa
prejudica o projeto americano
de estabilizar a situação no vizinho Afeganistão -as regiões de
fronteira são base de combatentes do Taleban.
Com o "New York Times" e agências internacionais
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