São Paulo, segunda-feira, 16 de março de 2009

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Islamabad recua e aceita volta de juiz cassado na ditadura

Protestos da oposição paquistanesa e deserções no governo forçaram medida

Polícia local desafia governo e descumpre ordem para reprimir marcha; ex-premiê opositor suspende protesto após recuo do governo


DA REDAÇÃO

Opositores tomaram as ruas de Lahore, capital do Punjab (mais rica Província paquistanesa), desafiando proibição de protestos com apoio aberto das autoridades policiais locais. Os manifestantes seguiram em carreata para Islamabad, mas suspenderam a marcha após anúncio da restituição dos juízes afastados pelo ex-ditador Pervez Musharraf.
O presidente da Suprema Corte, Iftikhar Chaudhry, voltará ao cargo no próximo dia 31, anunciou nesta manhã o premiê Yousaf Gilani, atendendo à principal exigência da oposição. O governo, que enfrenta onda de dissidências após censurar TVs e reprimir com brutalidade manifestações, planeja ainda pacote constitucional.
A tentativa de censura à transmissão de protestos contra o governo -que resultou no pedido de demissão da ministra da Informação, Sherry Rehman, no sábado- e a prisão de líderes da oposição catalisaram ontem uma enorme marcha de protesto, em Lahore.
O ex-premiê Nawaz Sharif, líder do PLM-N (Partido da Liga Muçulmana-Nawaz, nacionalista e conservador moderado), ignorou a ordem de prisão domiciliar e deixou sua casa em Lahore em uma carreata. Sharif rompeu a barreira da polícia e se juntou a um protesto no centro da cidade.
A polícia chegou a lançar bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes, que gritavam slogans pedindo um Judiciário independente.
Mas, em um ato sem precedentes, a tropa de choque recuou no final da tarde, e multidões a pé ou em carros passaram a ocupar a região com bandeiras com retratos de Sharif. O superintendente da polícia local, Mushtaq Sakhir, disse que não apoiaria mais "medidas erradas" do governo central.
O comboio de Sharif partiu para Islamabad. Falando à TV Geo -a maior rede do país e alvo de censura-, Sharif disse tratar-se de um "prelúdio de uma revolução". Mas, diante o anúncio de Gilani, decidiu suspender o ato na capital.

Histórico
Embora a Presidência negue ter interferido nas transmissões da TV, já normalizadas, a atual tentativa de censura remete ao cenário de convulsão social e repressão que marcou os últimos meses de governo de Musharraf e culminou no fim do regime militar, em 2008.
A oposição a Musharraf unia os rivais PPP (Partido do Povo Paquistanês, centro-esquerda), hoje no governo, e o PLM-N, maior legenda de oposição. O PPP apoiava a volta dos juízes afastados, vetada pelo presidente Asif Ali Zardari, que teme o cancelamento de sua anistia em processos por corrupção caso Chaudhry assuma.
A cassação dos direitos políticos de Sharif e seu irmão -governador do Punjab, substituído por um aliado de Zardari- foi o estopim da atual onda de protestos pela volta dos juízes.
O governo reagiu com truculência, prendendo mais de 350 opositores e proibindo protestos. Mas, sob pressão das Forças Armadas paquistanesas e da Casa Branca, iniciou negociação para devolver o governo do Punjab ao PLM-N.
A instabilidade paquistanesa prejudica o projeto americano de estabilizar a situação no vizinho Afeganistão -as regiões de fronteira são base de combatentes do Taleban.


Com o "New York Times" e agências internacionais


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