São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2011

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Radiação diminui, mas usina tem mais incêndios

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Cinquenta funcionários da usina de Fukushima 1 passaram o dia de ontem tentando desesperadamente evitar o derretimento de combustível nuclear após duas explosões e um incêndio que provocaram vazamento nos reatores.
O acidente já é considerado o pior com energia atômica desde o de Tchernobil, que matou 50 na Ucrânia (então União Soviética) em 1986.
Ontem à noite (manhã de hoje no Japão), havia informação de novos incêndios nos reatores 3 e 4.
No reator 1, 70% das varetas de urânio que servem de combustível foram danificadas. No reator 2, esse índice é de 33%. Não se sabe, no entanto, quanto de combustível efetivamente vazou.
Fukushima 1 fica no nordeste do Japão, a região mais afetada pela combinação de terremoto e tsunami que atingiu o país na sexta e deixou ao menos 3.676 mortos.
Numa rara boa notícia, medição da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) mostrava ontem à noite que a radiação no portão principal da usina diminuíra de 11,9 milissieverts por hora para 0,6 num período de seis horas -provavelmente, por ação do vento.
O sievert é uma unidade que mede a quantidade de radiação absorvida pelos seres humanos. A exposição a mais de 100 milissieverts por ano pode provocar câncer.
A AIEA vê possibilidade de dano no revestimento do núcleo do reator 2, um dos que explodiram em Fukushima 1. Porém, segundo seu diretor-geral, Yukiya Amano, a situação não chegou ao nível de Tchernobil.

A AÇÃO DOS 50
A usina de Fukushima tem cerca de 800 funcionários, e 750 foram retirados do local.
Os "50 de Fukushima", como vêm sendo chamados pela imprensa os que restaram no local, trabalham sob sério risco de contaminação.
Usando roupas especiais e se abrigando sempre que possível na sala de controle (protegida contra a radiação), passaram o dia bombeando, com mangueiras, água do mar contra o superaquecimento (leia a pág. A15).
Segundo especialistas, os técnicos que ficaram na usina estarão cada vez mais expostos à radiação e terão de ser substituídos se a luta para evitar um desastre maior durar muitos dias.
"Não será exagero chamá-los de heróis", disse David Brenner, da Universidade Columbia, em entrevista à rede de TV CNN.
O reator 4, onde aconteceram dois incêndios, estava inativo, mas continha varetas de urânio usadas.
Suspeita-se que o superaquecimento delas tenha produzido hidrogênio, altamente inflamável. O fogo produziu um buraco de quase oito metros na sua estrutura externa.
Ontem, durante todo o dia, cresceram as críticas da imprensa japonesa à atuação do premiê Naoto Kan durante a crise nuclear e à Tepco (Tokyo Electric Power Co.), que administra Fukushima 1.
Segundo a agência de notícias Kyodo News, o próprio Kan atacou a empresa por demorar uma hora até enviar ao governo dados sobre a explosão no reator 2 -tida como a potencialmente mais grave.
A Tepco pode usar helicópteros para jogar água e ácido bórico nos reatores inativos (além do 4, há outros dois, todos com varetas de combustível nuclear).
O Ministério dos Transportes do Japão ordenou que aeronaves não voem num raio de 30 km da usina, exceção feita a aviões e helicópteros envolvidos em resgates.


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