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DIPLOMACIA
País deve se abster em votação na ONU, mas expressará reservas
Brasil revela "preocupação" com Cuba
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Criticado pela omissão sobre a
repressão promovida contra oposicionistas pelo regime de Fidel
Castro em Cuba, o governo vai tomar um medida pouco usual na
diplomacia. Irá apresentar hoje à
Comissão de Direitos Humanos
da ONU, que se reúne em Genebra (Suíça), uma declaração expressando "forte preocupação"
com a recente onda repressiva na
ilha, que já resultou na prisão de
80 dissidentes e fuzilamento, após
julgamento sumário -praticamente sem direito à defesa- de
três acusados de "terrorismo".
O Brasil tem como prática abster-se ao analisar moções colocadas contra o governo cubano,
uma vez que considera que o tema costuma ser politizado por influência do governo norte-americano, que há 40 anos promove um
embargo econômico contra a ilha,
sem respaldo internacional.
A abstenção será repetida hoje,
quando nova moção será apresentada. A declaração acompanhando a abstenção, no entanto, é
prática não usual da diplomacia
brasileira e demonstra que a repressão na ilha governada pelo ditador Fidel Castro começa a incomodar o Planalto e o Itamaraty.
O governo brasileiro vem sendo
criticado pela oposição no Congresso, que quer uma moção de
censura ao governo cubano e teve
o pedido barrado pelo PT anteontem. Várias figuras do governo,
como o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e o ministro José Dirceu (Casa Civil), têm ligações pessoais com Cuba e Fidel.
De acordo o Ministério das Relações Exteriores, o governo brasileiro "não deixará de manifestar
forte preocupação com julgamentos sumários sem amplo direito a
defesa, sobretudo com relação à
aplicação da pena de morte".
Apesar da crítica, o Brasil evitará, na declaração de hoje, condenar explicitamente a atitude do
regime castrista, muito menos pedir algum tipo de sanção.
Ao mesmo tempo em que o governo brasileiro critica a situação
em Cuba, o PT, partido do presidente Lula, e o aliado PC do B ainda buscam "informações" sobre o
que tem acontecido na ilha.
"O PT é um partido amigo de
Cuba e adota a cautela neste caso.
O noticiário a respeito de Cuba é
muito contaminado politicamente", diz o secretário-adjunto de
Relações Internacionais do partido, o deputado federal Paulo Delgado (MG), para quem "Cuba
não é uma ditadura".
Já o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo, se
disse "preocupado" com os recentes episódios.
Ontem, em meio a protestos feitos por deputados de oposição no
plenário da Câmara, começou
sob clima de constrangimento
uma visita oficial de parlamentares cubanos à Casa.
O vice-presidente da Assembléia Nacional de Cuba, Jaime
Combret, e mais dois deputados
foram recebidos pelo deputado
Inocêncio Oliveira (PFL-BA), vice-presidente da Câmara, e pelo
deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), líder do governo.
Eles foram acompanhados do
embaixador cubano no Brasil,
Jorge Lezcano. "Falta muita informação sobre o que acontece em
Cuba. Muitos dos que estão se posicionando o fazem baseado em
notícias de jornais. Eles não sabem o que realmente ocorre em
Cuba", disse o embaixador.
Colaborou RANIER BRAGON, da Sucursal de Brasília
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