São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Fita atribuída a líder terrorista diz que atentados em Madri foram represália a apoio espanhol aos EUA

Europa rejeita suposta trégua de Bin Laden

DA REDAÇÃO

Mensagem supostamente de Osama bin Laden, gravada em fita de áudio e divulgada ontem, propõe uma trégua com os europeus se eles retirarem suas tropas de países muçulmanos. A proposta, interpretada como uma manobra para dividir as nações ocidentais, foi imediatamente rejeitada pelos principais líderes do continente.
"Ofereço uma trégua a eles [europeus], com o compromisso de interromper as operações contra qualquer Estado que prometer parar de atacar muçulmanos ou interferir em seus assuntos", disse a voz na gravação -transmitida pelas redes de TV árabes Al Jazira e Al Arabiya.
A mensagem dá um prazo de três meses para a retirada das tropas e diz que as explosões nos trens de Madri em 11 de março foram uma retaliação pelas posições da Espanha em relação ao Iraque, ao Afeganistão e aos palestinos. O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, confirmou que a CIA acredita na autenticidade da fita. "A informação que tenho é que se trata da voz de Osama bin Laden", disse ele.
O suposto comunicado do líder saudita da rede terrorista responsável pelo 11 de Setembro diz que o Iraque foi invadido em razão de interesses comerciais e faz uma menção específica à Halliburton, principal empresa envolvida na reconstrução e com ligações com membros do governo Bush, como o vice-presidente Dick Cheney.
"Eles dizem que matamos por matar, mas a realidade mostra que eles mentem." De acordo com o raciocínio na gravação, os russos só foram mortos após terem invadido o Afeganistão nos anos 1980, os europeus, apenas depois da invasão do Iraque, e os americanos atacados em Nova York e Washington após darem "apoio aos judeus na Palestina".
A fita é razoavelmente recente, já que a mensagem faz referência ao assassinato, em 22 de março, do xeque Ahmed Yassin, líder do grupo terrorista palestino Hamas.
Acredita-se que Bin Laden esteja escondido na região montanhosa e de difícil acesso da fronteira entre Paquistão e Afeganistão. Nos últimos meses, tropas paquistanesas e americanas fizeram várias operações para prender Bin Laden. Os EUA oferecem US$ 50 milhões a quem der informações que levem à sua captura.
Miguel Angel Moratinos, que será ministro das Relações Exteriores no gabinete do socialista José Luis Rodríguez Zapatero, disse que não se deve prestar atenção ao líder da Al Qaeda. "Bin Laden é o inimigo de todos que procuram paz, democracia e liberdade."
Zapatero prometeu durante a campanha eleitoral, e reafirmou repetidas vezes após os atentados, que retirará os 1.300 soldados espanhóis do Iraque a menos que a ONU assuma o controle das operações militares.
O presidente da França, Jacques Chirac, disse que não pode "haver barganha com terroristas". "É impensável que possamos abrir uma negociação com Bin Laden", afirmou em Roma o chanceler italiano, Franco Frattini. O Reino Unido declarou que a resposta adequada era "continuar a luta contra o terrorismo". A Alemanha disse que não negociaria com "criminosos" como Bin Laden.
Para Roger Cressey, um ex-assessor da Casa Branca para contraterrorismo, a fita dá a entender que a Al Qaeda está planejando novos ataques. "Acho que as polícias do exterior e daqui deveriam assumir que pode haver operações nos estágios finais de planejamento e que eles apenas esperarão os 90 dias para atacar."
"A tática da Al Qaeda é "dividir para conquistar". Ela quer destruir a coalizão ocidental contra o terror por dentro, jogando os aliados contra si. Já funcionou na Espanha", disse uma fonte do serviço de inteligência israelense.


Com agências internacionais


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