São Paulo, domingo, 16 de abril de 2006

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"EIXO DO MAL"

Irã não desistiria de tentar produzir armas atômicas

Ataque daria início a guerra sangrenta, conclui estudo

DE WASHINGTON

Um ataque norte-americano a estruturas de produção nuclear iranianas não livraria o mundo de mais um país capaz de produzir armas atômicas. Em vez disso, seria o início de um longo confronto militar com milhares de vítimas militares e pelo menos centenas de vítimas civis. A guerra provavelmente envolveria também Iraque, Israel e Líbano. O mesmo ocorrerá se o ataque partir de Israel, o que faria a participação dos EUA obrigatória.
Essa é a conclusão de estudo conduzido pela organização não-governamental pacifista britânica Oxford Research Group. Segundo o trabalho, intitulado "Irã -Conseqüências de uma Guerra", de autoria de Paul Rogers, professor de Estudos da Paz da Universidade de Bradford, o confronto seria ineficaz, pelo menos do ponto de vista do objetivo de acabar com a opção nuclear iraniana.
"Embora o ataque possa danificar seriamente o potencial de desenvolvimento nuclear iraniano, atrasando-o por cerca de cinco anos, não impediria que o país voltasse a tentar produzir armas atômicas", dessa vez com a intenção de -e a motivação para- utilizá-las de verdade.

Diplomacia
Por esse motivo, soluções diplomáticas devem ser exaustivamente utilizadas, conclui o estudo. É o que pensa Joseph Cirincione, expert em não-proliferação de armas atômicas do Carnegie Endowment for International Peace. "O "Plano Irã" está em ação, conforme pessoas da Casa Branca nos fazem saber "off the record" ", disse ele à Folha. "O problema é que você não ouve os mesmos altos funcionários falando que há uma pressão pela via diplomática. Pelo contrário."
Para Cirincione, a Casa Branca está seguindo exatamente o mesmo script dos meses que antecederam a invasão do Iraque, o que é preocupante. "Primeiro, a ameaça, antes de armas de destruição em massa, agora, atômica. Depois, a vilificação para o Ocidente de um personagem facilmente odiável, antes Saddam Hussein, agora Mahmoud Ahmadinejad. Por fim, veremos a tentativa de desacreditar o time da ONU e de duvidar das reais intenções dos países que insistirem na via diplomática", calcula.

Soberania
Há ainda a questão da soberania. O expert do Carnegie, que também é professor da Universidade Georgetown, acredita que o Irã tem o direito de usar energia nuclear, "desde que para fins pacíficos e devidamente monitorado por entidades internacionais", dadas as ações do país no passado.
Dele discorda completamente Edward Luttwak, conselheiro do Pentágono e expert em estratégias militares do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. "Não, o Irã não tem mais esse direito, e logo vai perder outros", disse à Folha Luttwak.
Com os direitos vêm os deveres, continua o analista. "Se o governo brasileiro fornecesse abertamente armas, treinamento e dinheiro a organizações internacionais que atacam pessoas e governos pelo mundo, o Brasil também perderia o direito à sua soberania, porque as vítimas teriam o direito de atacar o país quando e como desejassem. O mesmo ocorreria se o presidente Lula pregasse a destruição de outro país-membro da ONU; os outros países-membros teriam o direito de expulsar os diplomatas brasileiros, negar o direito à aterrissagem de aeronaves, etc." (SD)


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