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"EIXO DO MAL"
Patrick Clawson sugere ações preventivas contra o Irã que não sejam interpretadas como "guerra aberta"
Mentor da ofensiva prefere sabotagens
DE WASHINGTON
Ruivo, muito branco e de olhos
azuis no exterior. Cheio de idéias
belicosas no interior. De certa
maneira, Patrick Clawson é o
"american dream" personificado. É também, segundo o insuspeito jornalista Seymour Hersh,
ganhador do prêmio Pulitzer e
autor do principal livro sobre o
escândalo da prisão de Abu
Ghraib ("Cadeia de Comando",
2004), a cabeça por trás do plano
de mudança de regime no Irã.
Diretor-assistente de pesquisa
do Instituto para a estratégia do
Oriente Médio, foi do Instituto
Nacional de Estudos Estratégicos
da Universidade de Defesa Nacional e economista do Instituto
de Pesquisas de Política Externa,
no Banco Mundial e no Fundo
Monetário Internacional. É
fluente em farsi, hebraico, alemão, espanhol e francês, e autor,
entre outros livros, de "Getting
Ready for a Nuclear Ready Iran"
(2005), "Eternal Iran - Continuity and Chaos" (2005), "Checking Iran's Nuclear Ambitions"
(2004), "U.S. Sanctions on Iran"
(1997) e "Iran's Strategic Intentions and Capabilities" (1994).
Na última quarta-feira, ele falou à Folha em Washington.
(SD)
Folha - Os Estados Unidos vão intervir militarmente no Irã, seja da
maneira que for?
Patrick Clawson - Sim. Na verdade, o subsecretário de Defesa
Robert Joseph está na região do
golfo Pérsico nesse exato momento, e um dos aspectos de sua
viagem é o que ele já antecipou
em seu depoimento ao Senado
há um mês: pensar em medidas
preventivas que os Estados Unidos terão de tomar. Em outras
palavras, intervenção militar?
Sim.
Folha - Quais medidas?
Clawson - Há várias possíveis.
Das mais simples, como interceptar carregamentos que podem contribuir para a construção ou o desenvolvimento de artefatos atômicos, às mais sofisticadas, como programar exercícios militares no golfo visando
uma intervenção no Irã. Voltando à pergunta anterior, sim, há
uma série de atividades militares
acontecendo nesse momento e,
sim, há uma série de medidas militares que podem vir a ser tomadas.
Não quero cair na "especulação
selvagem" de que falou o presidente, mas também não podemos negar de maneira peremptória que uma ação militar ofensiva será tomada, porque o governo do Irã vem agindo de maneira errática e beligerante, e não
é impossível que você ouça em
breve o presidente daquele país
vir a público e dizer: "Nós temos
a bomba atômica e nós vamos
usá-la".
Folha - O sr. é chamado de o cérebro por trás do plano para a mudança de regime no Irã. Isso é verdade?
Clawson - Fico honrado com isso, mas o verdadeiro cérebro é o
povo iraniano. E eu tenho de citar
que o principal editorial desta semana do "New York Times" sobre o assunto também pede uma
mudança de regime no Irã. Fiquei
feliz ao ver um jornal (liberal) como este concordar com o ponto
de vista do nosso instituto (conservador).
Folha - O sr. disse também que a
guerra é necessária, embora prefira "sabotagem e outras atividades
clandestinas, como incidentes industriais". O sr. pode elaborar mais
sobre isso?
Clawson - Bem... O que eu quero
dizer é que seria muito bom se
nós pudéssemos usar o caminho
da sabotagem e ações semelhantes em vez de lançar mão de ataques aéreos contra as locais de
produção nuclear. Eu não sei se
poderemos, mas seria bom, porque seria encarado menos como
uma "guerra" e a situação poderia
ser mais controlada. Mas eu não
sei mais se é possível. O pessoal
técnico da área militar é que tomará essa decisão.
Folha - O Irã está a quanto tempo
de construir uma arma atômica eficiente o suficiente para ameaçar
outros países?
Clawson - Nós não sabemos. E os
problemas não são tecnicalidades, mas a questão política. Quais
serão as intenções de Teerã? Em
pouco tempo o país vai ter a tecnologia para construir um artefato nuclear, e a questão será: o que
eles vão fazer com isso?
A maior parte dos analistas
acredita que o país esperará até
que tenha uma quantidade significativa de armas nucleares. Mas
também é possível que, digamos,
em fevereiro os líderes decidam
que vão usar todas as centrífugas
para construir apenas uma arma,
em tempo recorde. Ou seja, esqueça as tecnicalidades, o que interessa é a intenção política. E isso
é algo que ninguém sabe, a não ser
que você entre na cabeça de Mahmoud Ahmadinejad.
Folha - O secretário de Defesa
norte-americano, Donald Rumsfeld, vem sendo atacado por diversos generais da reserva. Na possibilidade de os EUA invadirem o Irã, o
sr. acredita que ele ainda seria um
nome forte para estar à frente das
tropas?
Clawson - Hmmm... (pausa)
Não sei, eu não vou responder a
esta pergunta.
Folha - O sr. disse que o Irã se sente "autoconfiante" nesse momento. Por quê?
Clawson - Uma conjunção de fatores. O país está faturando como
nunca por conta da alta do petróleo, não tem mais a ameaça constante do governo do Taleban no
vizinho Afeganistão, seu inimigo
histórico, Saddam Hussein, está
na cadeia, os xiitas mostraram
força nas eleições recentes no Iraque. Por fim, eles acreditam que
os EUA estejam enfraquecidos
militarmente por conta do Iraque,
portanto sem possibilidade de
ação.
Folha - Por falar em Saddam Hussein, qual a garantia de que as informações confidenciais que a Casa
Branca detém hoje sobre a capacidade nuclear do Irã sejam melhores do que as que diziam que o Iraque tinha armas de destruição em
massa?
Clawson - As situações são muito
diferentes. A principal diferença é
a de que agora temos uma quantidade enorme de informações sobre o que o Irã está fazendo, conseguidas pelos inspetores da
ONU. Temos também os anúncios que o próprio presidente iraniano vem fazendo sobre como
pretende agir.
Ou seja, a melhor informação
que temos sobre o programa iraniano é o que o próprio governo
deles nos disse, que está planejando dominar todo o ciclo nuclear.
Folha - Não há dúvidas desta vez?
Clawson - Não. Agora, se eles vão
ou não construir uma arma, nós
não sabemos. Mas, francamente,
não importa.
Outra diferença importante é
que agora nós temos uma coalizão internacional muito maior do
que antes da Guerra do Iraque
que afirma que o Irã tem de suspender suas atividades nucleares
imediatamente. Resumindo: dessa vez, temos mais informação e
mais gente do nosso lado.
(SD)
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