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França vota lei contra estímulo à anorexia
Texto dos deputados vai agora ao Senado e prevê prisão e multa a quem valorizar a magreza excessiva
DA REDAÇÃO
Os deputados franceses
aprovaram ontem projeto que
pune com dois anos de prisão e
multa equivalente a R$ 80 mil
quem estimular a anorexia. O
texto segue agora para o Senado e colocará a França ao lado
da Espanha e da Itália entre os
países europeus que reprimem
com leis a estética da excessiva
magreza.
Socialistas, comunistas e os
verdes se abstiveram de votar,
por considerarem o texto inconsistente e "de fachada".
Segundo a Associated Press,
o projeto, apresentado pela deputada Valerie Boyer, do partido conservador UMP, foi redigido em meio às repercussões
na França da morte, em novembro de 2006, da modelo
paulista Ana Carolina Reston.
A ministra francesa da Saúde, Roselyne Bachelot, apoiou o
texto, citando "as mensagens
de morte" difundidas impunemente pela internet. Ela se refere aos blogs que estimulam a
anorexia, com instruções específicas para que as vítimas enganem familiares e médicos sobre seus hábitos alimentares.
Também se referiu às revistas
de moda, que a seu ver valorizam modelos anoréxicas.
O jornal "Le Monde" faz um
levantamento de blogs e constata que, além da apologia do
peso insuficiente, há também
jovens que relatam experiências de como deixaram de ser
anoréxicos e procuram dar o
bom exemplo.
Dados obtidos pela deputada
Boyer indicam que de 30 mil a
40 mil jovens franceses apresentam padrões mórbidos de
magreza. Entre eles 90% são
mulheres, com incidência mais
alta na faixa dos 12 aos 13 e dos
18 aos 19 anos.
A ministra Bachelot disse esperar que o debate público sobre a anorexia seja reaberto e
anunciou que a partir de julho,
quando a França assumir a presidência rotativa da União Européia, a questão poderá ser objeto de deliberação do bloco.
Conceito vago
Especialistas acreditam, no
entanto, que o projeto é bastante vago para que um juiz possa
condenar alguém com base no
conceito de "magreza extrema", presente no texto.
Didier Grumbach, presidente da influente Federação
Francesa da Costura, considera
o texto impraticável. "Jamais
permitiremos em nossa profissão que um magistrado possa
arbitrar se determinada modelo é ou não magra", afirmou.
A Associated Press cita Marleen Williams, psicóloga e professora de uma universidade no
Estado americano de Utah, que
tem chefiado pesquisas sobre
os motivos da anorexia. Para
ela, a incidência da magreza
mórbida é bem menor em culturas que valorizam mulheres
mais encorpadas.
Mesmo assim, diz ela, o texto
votado ontem na França "coloca o dedo num dos orifícios de
uma barragem e ignora o fato
de a água estar vazando por dezenas de outros orifícios".
Com agências internacionais
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