São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2008

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França vota lei contra estímulo à anorexia

Texto dos deputados vai agora ao Senado e prevê prisão e multa a quem valorizar a magreza excessiva

DA REDAÇÃO

Os deputados franceses aprovaram ontem projeto que pune com dois anos de prisão e multa equivalente a R$ 80 mil quem estimular a anorexia. O texto segue agora para o Senado e colocará a França ao lado da Espanha e da Itália entre os países europeus que reprimem com leis a estética da excessiva magreza.
Socialistas, comunistas e os verdes se abstiveram de votar, por considerarem o texto inconsistente e "de fachada".
Segundo a Associated Press, o projeto, apresentado pela deputada Valerie Boyer, do partido conservador UMP, foi redigido em meio às repercussões na França da morte, em novembro de 2006, da modelo paulista Ana Carolina Reston.
A ministra francesa da Saúde, Roselyne Bachelot, apoiou o texto, citando "as mensagens de morte" difundidas impunemente pela internet. Ela se refere aos blogs que estimulam a anorexia, com instruções específicas para que as vítimas enganem familiares e médicos sobre seus hábitos alimentares. Também se referiu às revistas de moda, que a seu ver valorizam modelos anoréxicas.
O jornal "Le Monde" faz um levantamento de blogs e constata que, além da apologia do peso insuficiente, há também jovens que relatam experiências de como deixaram de ser anoréxicos e procuram dar o bom exemplo.
Dados obtidos pela deputada Boyer indicam que de 30 mil a 40 mil jovens franceses apresentam padrões mórbidos de magreza. Entre eles 90% são mulheres, com incidência mais alta na faixa dos 12 aos 13 e dos 18 aos 19 anos.
A ministra Bachelot disse esperar que o debate público sobre a anorexia seja reaberto e anunciou que a partir de julho, quando a França assumir a presidência rotativa da União Européia, a questão poderá ser objeto de deliberação do bloco.

Conceito vago
Especialistas acreditam, no entanto, que o projeto é bastante vago para que um juiz possa condenar alguém com base no conceito de "magreza extrema", presente no texto.
Didier Grumbach, presidente da influente Federação Francesa da Costura, considera o texto impraticável. "Jamais permitiremos em nossa profissão que um magistrado possa arbitrar se determinada modelo é ou não magra", afirmou.
A Associated Press cita Marleen Williams, psicóloga e professora de uma universidade no Estado americano de Utah, que tem chefiado pesquisas sobre os motivos da anorexia. Para ela, a incidência da magreza mórbida é bem menor em culturas que valorizam mulheres mais encorpadas.
Mesmo assim, diz ela, o texto votado ontem na França "coloca o dedo num dos orifícios de uma barragem e ignora o fato de a água estar vazando por dezenas de outros orifícios".


Com agências internacionais


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