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Chávez ressuscita leis vetadas em referendo
Propostas de mudança constitucional barradas pelo voto popular em 2007 entram em vigor de forma parcelada na Venezuela
Centralização administrativa e milícias civis estão entre as mudanças aprovadas; para especialistas, o governo desrespeita a Constituição
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Em dezembro de 2007,
quando perdeu o referendo sobre uma ampla reforma constitucional, Hugo Chávez disse
que não retiraria "nem uma vírgula" da proposta. "Não se pôde
por agora, mas a mantenho."
Dezesseis meses depois, já estão em vigor alguns dos artigos
mais controvertidos, como a
reeleição presidencial indefinida -aprovada em fevereiro em
novo referendo, exclusivo- e
as milícias bolivarianas.
"É uma grande insurgência
do governo contra a Constituição", disse ontem à Folha Enrique Sánchez Falcón, professor
de direito constitucional da
Universidade Central da Venezuela (UCV). "Em algumas das
últimas atuações, a violação à
Carta é evidente."
Quase todas as mudanças
ressuscitadas aumentam as
atribuições de Chávez. A mais
recente foi a criação do cargo
de governador biônico de Caracas, nomeado por ele e hierarquicamente acima do governo
distrital, do oposicionista Antonio Ledezma, que perderá
quase todas as atribuições.
Para Sánchez, embora a atual
Constituição preveja a regulamentação do Distrito Capital
-principal argumento chavista-, o novo cargo viola a Carta,
que determina eleições para
todos os cargos de administração regional.
Os chavistas têm defendido a
mudança como necessária à a
segurança nacional. Segundo a
governadora biônica, Jacqueline Faría, Caracas "é um espaço
de risco por ser a sede dos Poderes e por estar mais próximo
do governo central".
As reformas legais não se
restringem ao que estava na reforma proposta em 2007. Recentemente, a Assembleia modificou a Lei de Descentralização, abrindo o caminho para
que Chávez assumisse, via decreto, a administração de portos, aeroportos e rodovias até
há pouco controladas por governadores de oposição.
Para o jurista Manuel Rachadell, também da UCV, várias
das mudanças recentes contradizem o princípio de Estado
"federal e descentralizado" da
Constituição aprovada em
1999, no primeiro ano do governo Chávez. Um das mais
graves, afirma, é a possibilidade de nomear vice-presidentes
para regiões do país, o que não
ocorreu até agora. "Imagine o
governo brasileiro nomear um
vice-presidente para o Nordeste acima dos governadores."
Os dois concordam que a
oposição não tem possibilidade
de reverter as mudanças. Todos os recursos judiciais contra
Chávez já julgados no Tribunal
Supremo de Justiça (TSJ), como a convocação do referendo
sobre a reeleição indefinida, foram favoráveis ao presidente.
"A Sala Constitucional tem
dado mostras de que está praticamente de joelhos diante do
Executivo", afirma Sánchez.
Ambos também consideram
a centralização irreversível.
"Essa evolução mostra a intenção de criar um país governado
por uma cadeia de funcionários
que dependem da vontade do
presidente. Isso faz com que os
serviços públicos funcionem
muito mal, mas permite ao presidente um controle maior de
todo Estado para permanecer
no poder de forma indefinida",
diz Rachadell.
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